Em seguida, vamos tratar da missão das Pessoas divinas. E nesta questão discutem-se oito artigos:
Art. 1 – Se a alguma das Pessoas divinas é próprio o ser enviada.
Art. 2 – Se a missão pode ser eterna.
Art. 3 – Se a missão invisível da Pessoa divina é somente quanto ao Dom da graça santificante.
Art. 4 – Se também ao Pai convém ser enviado.
Art. 5 – Se ao Filho convém ser enviado invisivelmente.
Art. 6 – Se a missão invisível se realiza em todos os que participam da graça.
Art. 7 – Se convém ao Espírito Santo ser enviado visivelmente.
Art. 8 – Se nenhuma Pessoa é enviada senão por aquela da qual procede eternamente.
Art. 1 – Se a alguma das Pessoas divinas é próprio o ser enviada.
(I Sent., dist. XV, q. 1, a. 1; IV Cont. Gent., cap. XXIII; Contra errors Graec., cap. XIV).
O primeiro discute-se assim. – Parece que não é próprio a nenhuma das Pessoas divinas o ser enviada.
1. – Pois, o enviado é menor que quem envia. Ora, uma Pessoa divina não é menor que outra. Logo, uma não é enviada por outra.
2. Demais. – Tudo o que é enviado é separado de quem o envia. Por isso diz Jerónimo: O que está preso e unido a um corpo não pode ser enviado [1]. Ora, das divinas Pessoas, nada é separável, como diz Hilário [2]. Logo, uma Pessoa não é enviada por outra.
3. Demais. – Quem é enviado parte de um lugar e vai de novo a outro, onde não estava. Ora, isto não é possível a uma Pessoa divina, que está em toda parte. Logo, à Pessoa divina não convém o ser enviada.
Mas, em contrário, a Escritura (Jo 8, 16): Eu não sou só, mas eu e o Pai que me enviou.
Duas relações implica o conceito de missão: a do enviado com quem o enviou e a do enviado com o termo ao qual é enviado. Ora, o facto de alguém ser enviado supõe uma processão, do enviado, daquele que envia; ou pelo império, como quando o senhor envia o servo; ou por conselho, como se disséssemos que o conselheiro envia o rei a guerrear; ou pela origem, como se disséssemos que a flor é emitida pela árvore. Mas também supõe a relação com o termo ao qual é enviado, de modo a vir a estar de certa maneira onde antes não estava. Ou porque antes de nenhum modo ai estivesse; ou porque de algum modo comece a estar onde antes não estava. Ora, a missão pode convir à Pessoa divina enquanto implica, de um lado, processão original de quem envia; e de outro lado, um novo modo de estar em algum lugar. Assim, dizemos que o Filho foi enviado pelo Pai ao mundo, por neste começar a estar, visivelmente, pela carne assumida; e, contudo, já antes estava no mundo, como diz a Escritura (Jo 1, 10).
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A missão importa diminuição no enviado, por implicar a processão do princípio que envia, pelo império ou pelo conselho; pois, quem ordena é maior e quem aconselha é mais sábio. Mas em Deus não importa senão a processão de origem, que se funda na igualdade, como dissemos [3].
RESPOSTA À SEGUNDA. – O enviado, que começa a estar onde antes de nenhum modo estava, move-se localmente, pois que foi enviado; por onde e necessariamente, separa-se localmente de quem o envia. Ora, tal não se dá com a missão da Pessoa divina; porque a Pessoa divina enviada, assim como não começa a estar onde antes não estava, assim não deixa de estar onde estava. Por isso tal missão não implica separação, tendo só a distinção de origem.
RESPOSTA À TERCEIRA. – A objecção colhe quanto à missão fundada no movimento local, o que não tem lugar em Deus.
(são tomás de aquino, Suma Teológica,)
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