03/12/2011

Tratado De Deo Trino 28

Questão 33: Da Pessoa do Pai.

Em seguida, devemos tratar das Pessoas em especial. E primeiro da Pessoa do Pai, sobre a qual quatro artigos se discutem:
 

Art. 1 — Se compete ao Pai ser princípio do Filho, ou do Espírito Santo.
Art. 2 — Se o nome de Pai é propriamente nome de Pessoa divina.
Art. 3 — Se o nome de Pai, tomado pessoalmente, se atribui primariamente a Deus.
Art. 4 — Se é próprio do Pai ser ingénito.

Art. 1 — Se compete ao Pai ser princípio do Filho, ou do Espírito Santo.

(I Sent., dist. XII, a. 2, ad 1; dist. XXIX, a. 1; III, dist. XI, a. 1. ad 5; De Pot., q. 10, a. 1, ad 8 sqq.; Contra errores Graec., cap. 1).

O primeiro discute-se assim. — Parece que o Pai não pode ser princípio do Filho ou do Espírito Santo.

1. — Pois, princípio e causa se identificam, segundo o Filósofo [i]. Ora, não dizemos que o Pai é causa do Filho. Logo, nem devemos dizer que é deste o princípio.

2. Demais. — Um princípio supõe um prin­cipiado. Se, pois, o Pai é o princípio do Filho, segue-se que este principiou e, por consequência, foi criado, o que é erróneo.

3. Demais. — O nome de princípio supõe prioridade. Ora, em Deus não há anterior nem posterior, como diz Atanásio [ii]. Logo, a ele não lhe devemos aplicar o nome de princípio.

Mas, em contrário, Agostinho: O pai é o princípio de toda divindade [iii].

O nome de princípio significa aquilo de que alguma coisa procede, pois damos tal nome a tudo aquilo de que alguma causa de qualquer modo procede, e inversamente. Donde, como do Pai procede outro, resulta que o Pai é princípio.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Os Gregos aplicam a Deus, indiferentemente os nomes de coisa e de princípio, mas os Doutores latinos não usam do nome de causa, mas só do de princípio. E a razão é que princípio é mais que causa, como causa o é mais que elemento; assim, o primeiro termo ou mesmo a primeira parte de uma coisa se chama princípio e não, causa. Ora, quanto mais comum é um nome tanto mais convém a Deus, como dissemos [iv], porque os nomes, quanto mais especiais tanto mais determinam o modo conveniente à criatura. Donde, o nome de causa importa diversidade de substância e dependência entre uma coisa e outra, o que não importa o nome de princípio. Pois, em todos os géneros de causa, sempre existe diferença entre a causa e o efeito, relativamente a alguma perfeição ou virtude. Usamos do nome de princípio, porém, mesmo entre coisas que não diferem do modo por que acabamos de expor, mas somente segundo certa ordem; assim, quando dizemos que o ponto é o princípio da linha, ou ainda, que a primeira parte da linha é desta o princípio.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Os Gregos dizem, que o Filho e o Espírito Santo principiaram. Mas isto não usam dizer os nossos Doutores; pois, embora atribuamos ao Pai alguma autoridade, em razão de princípio, todavia não atribuímos, quer ao Filho, quer ao Espírito Santo, qualquer sujeição ou minoração, para evitar a ocasião de algum erro. E deste modo diz Hilário: O Pai é maior pela autoridade de doador; mas não é menor o Filho, ao qual um ser é dado [v].

RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora o nome de princípio, quanto à proveniência da sua significação, se considere como supondo a prioridade, todavia não significa a prioridade, mas a origem. Pois, o que o nome significa não é o mesmo que a razão da sua significação, como dissemos [vi].

SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica,



[i] IV Metaph., c. 2.
[ii] In symbolo.
[iii] IV de Trin., c. 20.
[iv] Q. 13, a. 2.
[v] IX de Trin., num. 54.
[vi] Q. 13, q. 2 ad 2; a. 8.

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