Maria da Conceição era uma rapariga de 15 anos pouco dada aos estudos. Frequentava a escola para estar com os colegas e sair de casa todos os dias. Namorava muito. Ficou grávida e a mãe disse-lhe que “tinha de se fazer à vida”. Não a queria lá em casa porque a vergonha era muita.
A São procurou um trabalho que lhe desse tecto para si e para o filho que dentro de meses iria nascer. Encontrou um casal de reformados que a contratou. Ali nasceu o João, no meio da estima e cuidados dos senhores da casa e da mãe. O pai do João falecera antes de ele nascer.
A São era uma rapariga muito bonita e, movida por um certo ciúme (não fora o patrão encantar-se pela empregada) a dona da casa propôs-lhe que deixasse o João e fosse fazer um curso correspondente ao 12.º ano para uma cidade bem longe dali.
Com quase 17 anos a São deixou o filho entregue aos cuidados daquele casal que lhe parecia tão solícito e amigo.
Passados alguns meses o coração do senhor General não resistiu e o João ficou apenas entregue aos cuidados da D. Anita que, dois ou três meses após foi à Segurança Social contar a sua história com a São e com o João.
As profissionais da Segurança Social comunicaram ao Tribunal que a São tinha abandonado o João porque há mais de um ano não vivia com ele. E, atenta a idade da D. Anita e a sua viuvez, o João deveria ser entregue para adopção por um casal que lhe desse um futuro promissor.
A Maria da Conceição viu-se envolvida num processo judicial que tinha por objecto declarar o João em estado de abandono e em condições para ser adoptado.
Como o tempo não pára, a São já tinha 19 anos e o João quase 4 anos. A São vivia com um bom homem, o António, que tinha uma condição económica muito razoável, que a amava, a estimava e lhe dava uma família. De tudo foi feita prova. Mas, lá estiveram, em julgamento, os técnicos da Segurança Social a debitar as razões pelas quais aquela mãe não podia ficar com o filho – acima de tudo porque aquele lhe “cobraria sempre o tempo que não esteve com a mãe”.
A São não percebia este processo porque tinha deixado o filho aos cuidados da D. Anita para o proteger. Para o proteger da sua própria imaturidade e da falta de condições que tinha para cuidar do filho. A Maria da Conceição lutou como uma leoa pelo seu João.
Foi impedida de ver o filho durante alguns meses. E, a primeira sentença veio decretar que o João iria para adopção. A São não se conformou e recorreu-se para um Tribunal Superior. Em Novembro recebemos o Acórdão que reconhecia as muitas formas em que pode ser exercida a maternidade e por isso revogava a Sentença anterior.
Por esta altura de Natal, de há muitos anos, o João (então com 4 anos) foi entregue à Maria da Conceição, com quem cresceu e se fez um homem.
Há dias, alguém, que não reconheci de imediato, de lágrimas nos olhos, tocou-me no ombro e disse: “Não me conhece? Sou a mãe da Maria da Conceição. Devo-lhe a felicidade da minha filha. É hoje uma grande mulher. Tem três filhos (o João e mais dois) está casada com o António há quase 20 anos. E o João já é engenheiro. Começou a trabalhar numa das empresas da mãe, e vai casar-se”.
A maternidade na adolescência tem destas grandezas.
PS – Só os nomes não são verdadeiros.
Isilda Pegado
Presidente Federação Portuguesa pela Vida
Voz da Verdade 11-12-2011
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