30/11/2011

O KGB considerava o Cardeal uma ameaça

Graças ao ex coronel do KGB Vasili Mitrokhin, que em 1992 fugiu para Inglaterra levando consigo 200.000 fichas do temido serviço secreto soviético, hoje podemos conhecer a espionagem que se realizou durante anos sobre o jovem cardeal Wojtyla, que anos depois seria Papa. A temida KGB tinha uma grande intuição: «Karol Wojtyla é uma ameaça potencial para o regime comunista». 

Assim, desde 1971, o cardeal Wojtyla foi considerado como um «elemento» a ser seguido de perto, a ser espiado. Alguns eclesiásticos do círculo íntimo do futuro Papa também estiveram no ponto de mira do serviço secreto. O Padre Andrzej Bardecki, assistente pessoal do cardeal de Cracóvia, foi o más espiado nessa época segundo se desprende do material facilitado pelo ex coronel do KGB Vasili Mitrokhin.

Wojtyla, anticomunista
«Wojtyla mantém um ponto de vista extremadamente anticomunista. Sem se opor abertamente ao sistema socialista,   criticou o funcionamento dos ministérios estatais da República», escreve numa das fichas a KGB. Noutra pode ler-se: «Muitos oficiais do partido polaco sentiram-se subjugados pela espiritualidade intensa e mística de Wojtyla. Este passava amiúde de seis a dez horas por dia rezando. Entrando na sua capela privada, os ajudantes podam encontrá-lo às vezes estendido imóvel no solo de mármore com os braços abertos em forma de cruz». Segundo revela a KGB, desde os anos 1973-74, o procurador general polaco pensava levar aos tribunais o cardeal Karol Wojtyla pelas suas homilias «incendiarias». 

O futuro Papa manifestava nos seus sermões aos metalúrgicos de Nowa Huta que «a Igreja tem o direito de criticar toda a manifestação ou aspecto das acções das autoridades se estas são consideradas inaceitáveis pela população». Se se tivesse produzido a sua passagem pelos tribunais, teriam aplicado a monsenhor Wojtyla o artículo 194 de Código Penal polaco por «afirmações subversivas durante funções religiosas», que contemplava a pena de prisão de entre um e dez anos.
Havia precedentes
A revista «30 Giorni», que se fez eco destas sensacionais revelações do ex coronel da KGB, Vasili Mitrokhin, publicadas em Itália pela editorial Rizzoli, assinalou que «Wojtyla tinha as costas cobertas pela sua posição de relevo. Apesar de que nos anos cinquenta se tivesse encarcerado durante três anos o primado polaco, o cardeal Stefan Wyszynski, nos sessenta o regime de Gierek não se atreveu a voltar a prender um cardeal». Segundo a KGB, Wojtyla muito raramente lia os periódicos.
Apenas escutava as notícias pela rádio ou pela televisão. O seu amigo, o Padre Bardecki, era quem cada quinze dias o visitava no seu estúdio do arcebispado de Cracóvia, e o informava em privado de como estava realmente a situação polaca no campo eclesial, político, económico ou sindical. Wojtyla e Bardecki, velhos amigos, colaboravam no semanário católico «Tygognik Pwszechny», alem de partilhar a «honra» de estar no ponto de mira da KGB, ou ser objecto de acções «Progres», que é como os agentes secretos soviéticos denominavam as tarefas de espionagem e vigilância.  

Nas fichas da KGB podem ler-se que em 1977 Wojtyla alinhava com os diferentes movimentos de protesto. Alem disso, invocava o exemplo de Santo Estanislau, como símbolo da resistência contra um estado injusto. Diz a KGB: «Wojtyla era defensor da liberdade, direito inalienável de todo homem, de modo que a violação desta por parte do estado representa a violação da ordem social e moral».

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