Introdução 4
Filósofo Rembrandt |
A tarefa se mostra, por o tanto, difícil e complicada. Todavia, é uma tarefa necessária, a tarefa do discernimento filosófico. Pode ser um atrevimento o empreende-a, mas alguém tem que ser ousado nela. Depois de tudo, a luz já está aí, não se trata de partir do zero; antes se trata de discernir, de melhorar, de sintetizar. Diz Yepes que no fundo a filosofia clássica era sintética, quer dizer, partia-se do facto de que já havia verdades conseguidas e o filósofo tratava de completar e melhorar a síntese. Hoje em dia, a filosofia é sistemática, quer dizer, cada filósofo pretende por si mesmo descobrir tudo de novo inventando um sistema original. Antes, a filosofia era sintética porque se partia da realidade como fundamento de tudo. Hoje em dia, desde Descartes, se parte da razão, do sujeito e cada qual monta o sistema peculiar que lhe agrada.
É claro que nossa intenção é sintética mais que sistemática e é também nossa intenção evitar tudo prurido de neologismos (e como encanta hoje em dia a muitos!); mas, como costuma dizer Julián Marías, o prurido da linguagem críptica e esotérica quase nunca responde à profundidade ou dificuldade real do pensamento, mas ao intento de fazer pensar aos demais que se está falando de algo que nunca ninguém conseguiu decifrar. Procura-se a complacência na escuridão e a simulação do misterioso ali donde se requer a clareza e a simplicidade. A vontade filosófica é uma vontade de luz e de clareza, e a síntese, se está bem lograda, é mais fruto do discernimento que da simplificação.
(jose ramón ayllón, trad. ama)
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