1 – Uma visão da juventude
Este trabalho será sobretudo a minha visão e vivência diária, pessoal e em Igreja, do Sacramento da Penitência.
Quando era mais novo, e mesmo na adolescência, este sacramento era conhecido sobretudo, como Sacramento da Confissão.
Se, por um lado esse nome “assustava”, pois parecia focar mais o aspecto do pecado do que da misericórdia de Deus, por outro ainda, parecia dar-nos também uma perspectiva de que, “listando”, confessando os pecados a um sacerdote, tudo ficava resolvido.
Claro que sabíamos e era-nos ensinado que o arrependimento e o propósito de emenda eram necessários, mas parecia quase, que esses “factores” eram matéria adquirida ao confessarmos os nossos pecados.
Corria-se ainda o “risco” de se constituir uma “lista de pecados”, que depois consultada, bastaria colocar um “x” naqueles que considerássemos, com prejuízo nítido para um verdadeiro exame de consciência.
(Talvez que ainda hoje, e em certos meios populares e não só, esta não seja uma visão tão ultrapassada.)
Lembro-me bem que o “ter” que se confessar, era algo que não desejávamos, porque a carga negativa de termos pecado, (termos feito coisas erradas), era bem mais forte, parecia-nos, que o fim alcançado, ou seja o perdão de Deus.
A reconciliação com Deus era um valor que não aflorava desse sacramento, e como tal, parecia-nos a nós jovens, (pelo menos a mim), que a Confissão tinha muito mais a ver com algo a que a Igreja nos ia “obrigando”, do que propriamente uma necessidade de nos reconciliarmos com Deus.
Resumindo esta parte introdutória, diria que a Confissão era para nós, jovens, muito mais um peso, uma “dor”, do que um alivio, uma “cura”.
Se o refiro aqui e agora, é pela sensação que tenho, (talvez por culpa nossa catequistas), de que os jovens de hoje, ainda, de algum modo, vêem assim este extraordinário sacramento, o que tem de forçosamente ser modificado, pois não corresponde minimamente à realidade dos efeitos extraordinários na vida de cada um, que uma boa confissão nos concede pela graça de Deus.
Havia ainda o receio, para nós jovens, de que os nossos pais viessem a saber das nossas faltas e também, da imagem que o sacerdote, (normalmente o pároco que nos conhecia), iria fazer de cada um, o que, curiosamente, passados todos estes anos, ainda encontro nalguns catequizandos adolescentes, o que significa que há ainda muito caminho para percorrer no ensino deste sacramento, mormente na enfatização do segredo inviolável da Confissão, e para além deste, no facto de que nenhum sacerdote pretende fazer juízos de valor sobre aqueles que a ele se confessam.
Costumo dizer aos meus catequizandos que Deus concede aos sacerdotes um “dom de esquecimento” dos pecados confessados, sobretudo na ligação e atribuição destes àqueles que se confessaram, de um modo geral, claro está.
Hoje a Igreja, (e os fiéis mais lentamente), chama a este sacramento, Sacramento da Penitência e por vezes também, Sacramento da Reconciliação.
Um e outro nome me parecem redutores da dimensão extraordinária deste sacramento, porque se a penitência poderá ter uma conotação de “expiação”, quase “castigo”, a reconciliação apenas refere uma parte, importante sem dúvida, deste sacramento, mas não o seu todo, toda a sua dimensão, que abarca libertação e cura, como veremos adiante.
De qualquer modo, Sacramento da Penitência, talvez seja o nome mais correcto, porque como nos diz o Catecismo, penitência indica conversão, mudança de vida, começar de novo, pois a chamada à penitência está intimamente ligada, ao «arrependei-vos, convertei-vos, acreditai no Evangelho», que é a pregação que percorre todos os Evangelhos e Escritos do Novo Testamento.
JMA
Nota:
Publicação de excertos de um pequeno trabalho sobre o Sacramento da Penitência, que fiz para a disciplina de Sacramentologia, do Curso Geral de Teologia, que concluí no Seminário Diocesano de Leiria.
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