Há razões para crer que o uso do vinho é totalmente ilícito, a saber:
1. Com efeito, sem sabedoria ninguém pode estar em condições de salvação, como diz a Escritura: “… pois Deus ama só quem habita com a Sabedoria.” (Sab 7, 28) e ainda “Os homens que te agradaram desde o princípio foram salvos pela Sabedoria”. Ora, o uso do vinho impede a sabedoria, segundo o Livro do Eclesiastes: “Deliberei em meu coração arrancar do vinho a minha carne, para dedicar minha alma à sabedoria” (2, 3). Logo, é absolutamente ilícito beber vinho.
2. Além disso, declara o Apóstolo (S. Paulo): “É bom não comer carne nem beber vinho, e nada fazer que ofenda, escandalize ou enfraqueça teu irmão” (Rm 14, 21). Ora, deixar de praticar o bem da virtude é escandalizar os irmãos, é fazer o mal. Logo, o uso do vinho é ilícito.
3. Ademais, diz Jerónimo: “O uso do vinho com a carne começou após o dilúvio; Cristo, porém, veio no fim dos tempos e restabeleceu as coisas como eram no princípio”. Logo, na lei cristã, parece que é ilícito beber vinho.
Porém, a mesma Escritura nos diz, na carta de Paulo a Timóteo: “Não continues a beber somente água; toma um pouco de vinho por causa de teu estômago e de tuas frequentes fraquezas” (I Tim 5, 23). Também o Livro do Eclesiástico diz: “O vinho bebido moderadamente é alegria da alma e do coração” (31, 36).
Nenhuma comida ou bebida, considerada em si mesma, é ilícita, conforme a palavra do Senhor: “Não é o que entra na boca que torna o homem impuro”. Portanto, beber vinho não é, de si, ilícito. Pode, porém, tornar-se ilícito, acidentalmente, para quem se deixa alterar com facilidade por ele, ou para quem fez voto de não bebê-lo; outras vezes, pelo modo de beber, quando se passa das medidas; e outras vezes, ainda, por causa dos outros, pelo escândalo que se pode dar.
Suma Teológica, II-II, q. 149, a. 3
Portanto, quanto às objecções acima deve-se dizer que:
1. Há duas formas de possuir a sabedoria. Primeiramente, na acepção comum, enquanto suficiente para a salvação e, nesse nível, não é preciso abster-se inteiramente de vinho, mas apenas do seu uso exagerado. Pode-se, porém, possuir a sabedoria em certo nível de perfeição e, nesse sentido, há os que, para atingir a sabedoria perfeita, se abstêm totalmente de vinho, segundo as condições das pessoas e dos lugares.
2. O Apóstolo não diz simplesmente que é bom não beber vinho. Ele apenas aconselha que se evite escândalo no uso dele.
3. Cristo nos proíbe algumas coisas como absolutamente ilícitas e outras como impedimentos da perfeição. É nesse sentido que ele veta o vinho, como também as riquezas e outras coisas semelhantes aos que buscam a perfeição.
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