07/05/2011

Sobre a família 44

Como acertar com a minha vida
Continuação


Naquele instante o velho entendeu tudo; e também entendeu que, agora, era demasiado tarde. 

"Ai de mim! – começou a dizer –, que horrível mal-entendido! O única coisa que consegui foi desperdiçar a minha existência, e arruinar também a tua". "Adeus, homem infeliz", respondeu simplesmente o Colombre, e submergiu nas águas para sempre.[i]

Quantas vezes fugimos do que nos traria talvez a felicidade porque não quisemos correr riscos? Não teremos trocado segurança por felicidade, uma vida cómoda por uma vida lograda? Não estaremos renunciando à oferta do grande senhor do mar, à pérola preciosa, para dar crédito a certas historias que nos contam, que estão na boca de muitos "prudentes" que "sabem da vida", pelo medo do que dirão? Não nos estará faltando audácia para ir mar adentro, para caminhar sobre as águas se compreendemos que o Senhor nos chama?

Ave, maris Stella!: Salve, Estrela do mar!, diz um antigo hino que a liturgia dedica à Virgem Maria. Se lho dizemos enquanto nos confiamos à sua protecção para que seja a luz e a segurança na nossa travessia, em que Ela está disposta a guiar-nos, que transformem o nosso temor em audácia, a nossa reticência em decisão.

juan manuel roca, in FLUVIUM, trad ama


[i] (d. buzzati, O Colombre, em Os siete mensajeros e otros relatos)

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