Duc in altum |
Logo, o Filho sendo gerado pelo amor é, Ele próprio, amor.
O amor do Pai e do Filho geram ainda uma Terceira Pessoa, o Espírito Santo. Temos aqui um único amor constituído por Três pessoas distintas e iguais entre si.
Parece-me que, sendo eterno, Omnipotente e sem dimensão, este Amor tem forçosamente de gerar actos de amor que se concretizam na Criação inteira. Ou seja, a Criação é um reflexo do próprio amor de Deus, uma emanação do mesmo. Logo esta, é também amor.
Amor com diferentes graus de perfeição, ou “volume”.
Os espíritos puros, os Anjos, têm um grau de amor mais próximo de Deus.
Os homens têm esse amor em graus diferentes.
Penso que no caso do homem este é antes um espelho que reflecte o Amor de que Deus tem intrinsecamente por si.
Este amor de Deus pelo homem é inevitável, primeiro pela própria essência de Deus, que não pode fazer outra coisa que amar, segundo porque, ao criar o homem como um ser completo - corpo e alma - entrega-lhe a “chispa” divina sem a qual essa capacidade de reflectir o Amor de Deus por si não seria possível.
Ou seja, Deus ama no homem a Sua própria imagem, repetindo de alguma forma o que acontece entre as Três pessoas da Santíssima Trindade: Deus ama-se a Si mesmo. Isto porque a alma sendo espírito é criada directamente por Deus em estado puro. Logo quando o homem perdeu esta faculdade, Deus apressou-se a reparar o dano – só Ele o poderia fazer – de uma forma pessoal e definitiva: enviou a Segunda Pessoa, o Filho, para efectuar essa reparação.
O Filho, gerado pelo amor, não pôde fazer mais que amar da única forma que Deus sabe amar: total e definitivamente (não há maior amor que dar a vida pelos seus amigos).
Não seria pois “natural”, para empregar uma expressão humana, que um acto divino fosse algo diferente de um acto de amor, e um acto divino de transcendência incomensurável como é a salvação do homem não podia ser feita de outro modo que por um acto de amor de transcendência incomensurável.
São Tomás de Aquino diz no seu Adoro Te Devote, que uma só gota do sangue de Cristo seria mais que suficiente para salvar a humanidade inteira, o que é verdade porque o amor de Deus tem a própria dimensão divina, ou seja absoluta, (não há “um bocadinho” de Deus), mas derramar só uma gota de sangue não seria um acto “próprio” de Deus, neste caso, da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, digamos, que “não estaria na Sua natureza fazê-lo” já que o amor, Deus, é, em si mesmo, total, completo, absoluto.
Que esta “reflexão” do amor de Deus não é igual em todos os seres criados, especialmente no homem, parece evidente: “Em casa de Meu Pai, há várias moradas”.
Haverá pois, uma “hierarquia” do amor, não mais ou menos amor, porque este é o mesmo, mas o grau de reflexão é que será diferente. Mas esta hierarquia não significará proximidade de Deus, quer dizer, estarão uns mais próximos que outros, uma vez que, no Céu e em Deus, não há dimensões, nem planos, nem escalas, penso que a diferença estará na visão de Deus.
Haverá “graus” de visão diferentes para cada um, daqui que o gozo inefável da contemplação de Deus seja também gradativo. Mas será total para cada um, quer dizer, a contemplação de Deus preencherá totalmente cada homem que a ela tenha acesso.
Como se um jarro com um litro de capacidade ficará totalmente cheio com um litro de água, assim como outro jarro com cinco litros de capacidade ficará totalmente cheio com cinco litros de água.
O prémio, pois, da contemplação de Deus, é total, porque é à medida de cada homem.
A felicidade será, portanto, total.
Os últimos que só trabalharam na vinha as últimas horas receberam a mesma paga que os que nela trabalharam todo o dia, e o Senhor acha isto absolutamente justo, como na verdade é.
AMA, 2000
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