A recente publicação do texto ”Apologia do voto inútil”, no passado dia 17, obriga-me a prestar o seguinte esclarecimento:
1. Como claramente se afirma neste artigo, bem como no publicado na véspera na “Voz da Verdade”, o voto numa candidatura ideologicamente contrária à doutrina da Igreja - como seriam, por exemplo, o nazismo ou o comunismo - é, para um cristão, ilícita, por uma questão da mais elementar coerência. Mas, a votação numa candidatura que se assuma como representativa de valores compatíveis com o ideário cristão, é moralmente legítima para os católicos.
2. Contudo, a opção dos eleitores não se reduz à escolha de uma candidatura, pois também se pode realizar através de outras formas legítimas de participação cívica. Com efeito, muito embora todos os cidadãos e todos os cristãos estejam chamados a cumprir com o seu dever cívico no próximo dia 23, ninguém está moralmente obrigado a votar num dos candidatos, sobretudo se entender, como é legítimo que entenda, que não estão reunidas as condições para sufragar nenhum dos projectos presidenciais existentes, nomeadamente porque os seus princípios são inaceitáveis, ou a idoneidade moral dos prováveis eleitos não merece a sua confiança política.
3. Contra a lógica do «voto útil», não se deve portanto descartar o voto nulo, branco ou a abstenção. Note-se que não se diz que o recurso a este modo de participação democrática é o único legítimo para um cristão, pois expressamente se afirma que «é moralmente lícita a votação num candidato que, mesmo sendo defectível, é o menos mau dos possíveis ganhadores». Apenas se refere que aquela opção pelo «voto inútil» é a que resta para quem não tem outra, quer por não se rever em nenhuma das candidaturas viáveis, quer por não estar disponível para exercer o voto de conveniência.
4. A argumentação foi desenvolvida apenas e só no plano moral, como se constata pelas expressões usadas para este efeito: «axiomas éticos», «princípios», «discutível moralidade», «verticalidade», «leviandades», «vitória moral», «coerência ética», «moralmente lícita», «idoneidade moral», «princípios e valores permanentes», etc. Pelo contrário, não se nomeia nenhum candidato, nem nenhum partido político, precisamente para que o texto não pudesse ser usado contra ou a favor de nenhuma candidatura, na medida em que esse não era, manifestamente, o propósito que presidiu à sua elaboração.
5. Por último, muito embora todas as afirmações em apreço sejam coerentes com a doutrina da Igreja, que subscrevo na íntegra, e as recomendações dos senhores Bispos, a cuja autoridade gostosamente me submeto, não têm outro valor que não seja o de manifestar, com a liberdade que se supõe existir numa sociedade democrática, a livre opinião do autor, na justa medida em que o consente a sua condição eclesial, enquanto cidadão empenhado na construção de uma sociedade mais justa e solidária.
Gonçalo Portocarrero de Almada
Fica muito bem ao autor este esclarecimento no entanto, se fosse comigo, não havia esclarecimento nenhum. O artigo estava escrito em português fluente e corrente, compreendia-se perfeitamente o conteúdo, logo, esclarecer o quê? Uma pessoa não tem direito a uma opinião? E pelo facto de ter uma profissão, exercer um munus, ou ser um qualquer tem de dar explicações pelo que escreve se, o que escreve, não choca, não fere, não colide?
ResponderEliminarO Autor, que muito considero, não é o segundo violino de nenhuma orquestra obrigado a tocar o que está na pauta à sua frente, o instrumento que toca - e com mestria - é a a escrita e não desafina uma semi-colcheia sequer na orquestra as que pertence.