18/12/2010

A teoria da janela partida

Em 1969, na Universidade de Stanford, o Prof. Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social. Deixou dois automóveis abandonados na rua. Eram idênticos: a mesma marca, o mesmo modelo e a mesma cor. Um deixou-o no Bronx, ao tempo, uma zona pobre e conflituosa de Nova York, e o outro em Palo Alto, uma zona tranquila e endinheirada da Califórnia.
O carro abandonado no Bronx demorou pouco a ser desmembrado. Em poucas horas, perdeu as rodas, o motor, os assentos, etc. Levaram tudo o que era aproveitável e o resto foi vítima do vandalismo. Ao contrário, o carro abandonado em Palo Alto mantinha-se intacto.
Seria muito fácil atribuir esse desenlace à zona em que foram deixados. Contudo, a experiência não ficou por aqui. Quando o carro abandonado no Bronx já estava desfeito e o de Palo Alto já levava uma semana ainda impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto. O resultado daquela janela partida foi, surpreendentemente, muito similar ao do Bronx. O veículo foi espoliado por completo, em poucos dias, vítima do roubo e vandalismo que o reduziram ao mesmo estado em que ficara o outro.
Parece claro que um vidro partido num carro abandonado transmite uma imagem de deterioração, desinteresse e despreocupação e essa mensagem rompe com misteriosos códigos de convivência e transmite a ideia de ausência de lei, de normas, de regras, como se valesse tudo.
Cada novo pequeno ataque que o veículo sofria, sem que nada acontecesse, reafirmava e potenciava essa ideia, até que a escalada se tornou incontrolável e desembocou na mesma violência irracional.
Em experiências posteriores, os professores James Q. Wilson e George Kelling, desenvolveram a 'Teoria da Janela quebrada”, a mesma que concluiu, de um ponto de vista criminológico, que o delito é maior nas zonas de maior descuido, sujidade, desordem ou abandono material.
Se alguém quebra o vidro duma janela num edifício e ninguém o repara, brevemente, estarão partidos os restantes vidros. Se um edifício ou uma comunidade humana manifesta sinais de deterioração e isso não parece incomodar ninguém, aí se gerará, de seguida, a mistura propícia para o delito. Se se cometem pequenas faltas e não são sancionadas, brevemente aparecerão faltas maiores e, logo, transgressões ainda mais graves. Se se permitem atitudes de falta de respeito como algo normal nas crianças, o seu padrão de desenvolvimento será cada vez de maior violência e quando forem adultos farão, de modo quase natural, coisas muito mais graves.
Estas ideias foram aplicadas, em grande escala, pela primeira vez, no Metro de Nova York, em meados de oitenta, e posteriormente, em 1994, na política de “Tolerância zero” do famoso e polémico presidente da Câmara de Nova York, Rudolfo Giuliani.
Os acertos e erros daquela estratégia policial de Giuliani fizeram correr rios de tinta, porém, parece claro, em todo o caso, que em qualquer organização humana é importante manter os mesmos princípios de ordem e respeito, aos quais não se deve admitir nenhuma transgressão, por pequena que seja. Não se trata de impor atitudes autoritárias, mas de cuidar com esmero o que verificámos que resulta mais importante do que parece.
Na educação dos filhos e dos alunos, por exemplo, estas últimas décadas fizeram-nos notar a importância da ordem material, do respeito ao adulto, da consideração para com o mais débil ou desfavorecido, das simples normas de urbanidade, o modo de vestir e comportar-se, a pontualidade ou o modo de falar. São questões às quais talvez durante algum tempo se deu excessiva importância sem atender às razões de fundo. Porém, hoje comprovamos que não são simples questões externas ou formalidades sem maior transcendência. São pequenos detalhes que constituem e modelam todo um modo de ser; pequenas atitudes ou gestos sem aparente importância mas que configuram bastantes dos princípios mais importantes.
Alfonso Aguiló   Hacer Familia nº 200, 1.X.10

com os agradecimentos a João Lopes

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