Dentro do Evangelho
(Re
Mc I, 15)
«Completou-se
o tempo, arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
Estas
foram as primeiras palavras de Jesus em resposta ao anúncio da morte do
Baptista.
O
tempo de espera, de “preparação” para o tempo da “missão” pela qual veio ao
mundo acabara, começava o "novo tempo" o “definitivo”, pelo qual Se
encarnou no Seio Puríssimo de Santa Maria.
Também
Ele Se preparou durante 40 dias no deserto, entregue a privações e, sobretudo à
oração. Seguramente que o fez para nos dar exemplo de que nos devemos preparar
para o acontecimento mais extraordinário das nossas vidas: a nossa salvação.
O
nosso "deserto" será o despirmos as roupagens que fomos acumulando ao
longo do ano, refreando os nossos desejos e contendo a imaginação de forma a
estarmos mais disponíveis para o encontro com Deus Nosso Senhor.
As
nossas privações devem ser adequadas ás nossas circunstâncias pessoais, coisas que estejam ao nosso alcance e,
sobretudo, discretas, sem dar nas vistas
nem incomodar os outros; como moderar o uso da televisão, o recorrer ao
telemóvel por tudo e por nada; sem dúvida... sobriedade na comida e na bebida.
A nossa Quaresma será, assim, tranquila e
profícua, levando-nos passo a passo, devidamente preparados para a Maior Semana:
A Semana Santa.
Arrependimento
e Fé!
Não
teremos, graças a Deus, grandes faltas, pecados que mereçam consideração mas,
como somos seres humanos, haverá sempre algo que teremos de corrigir, melhorar.
Para
isso está este Tempo de Quaresma.
Reflectindo
Quando alguém nos diz: «Eu não acredito no que
não vejo com os meus olhos ou não posso
tocar com as minhas mãos» não podemos esquecer a reacção de Tomé quando lhe deram a notícia da
Ressurreição de Jesus Cristo.
Quem lho dizia eram pessoas que ele bem conhecia,
por quem tinha estima e sentia amizade, mas, no entanto, tal não o impediu de
negar-se a acreditar e, por isso mesmo, porque era honesto e sincero não tem
qualquer pejo em afirmar: «Se não O vir com os meus olhos, não tocar com as
minhas mãos não acreditarei».
E, O Ressuscitado não o recrimina, só lhe diz que
faça o que deseja, tocar as feridas, meter amão na chaga do Seu Peito, para que
não seja «incrédulo mas crente".
E, vai mais longe quando afirma que serão «bem-aventurados
os que acreditarem sem terem visto».
Da honesta resposta de Tomé, Jesus "tirou"
uma lição preciosa para quantos ao longo dos tempos haveriam de acreditar nEle.
A humildade de Tomé fica bem patente pois não se
exime por conveniência ou para "não ficar mal", a ser absolutamente
veraz.
Disse, antes, que a humildade é uma virtude complexa
e, talvez por isso mesmo, tão difícil de possuir. Muitos tentam e esforçam-se
por adquiri-la mas, é preciso paciência e determinação perseverante sabendo
desde logo que é tarefa que só termina com o último suspiro de vida.
Ao contrário do que, talvez, é frequente pensar-se o
defeito que se opõe à humildade não é o orgulho mas, sim, a soberba.
Este terrível defeito impede ver com clareza e
avaliar o próprio carácter.
A pessoa dominada pela soberba tem enorme
dificuldade em fazer um exame pessoal - aliás nem lhe reconhece a necessidade -
porque se tem numa "conta" sem mácula nem defeitos, logo, não há nada a emendar ou corrigir.
Tende a considerar-se com um "estatuto"
superior que lhe confere imunidade quase absoluta.
O soberbo evita fazer perguntas, como que, para
negar que tem alguma dúvida ou necessita de ajuda no que for. Toma decisões
sozinho sem pedir nem conselho nem orientação e, quando as consequências são
más, pretende que foi mal interpretado.
Tem sempre uma desculpa pronta a usar quando, posto
perante a evidência de algo menos bom ou correcto que disse ou fez e, mesmo que
a desculpa seja frágil ou inconsequente, "agarra-se" a ela como um
náufrago desesperado por salvação.
Julgo que o pior - se assim posso dizer - que
acontece a um soberbo é uma viral
incapacidade para amar o outro e, sendo assim, tendo em conta que o amor
verdadeiro é partilha e correspondência, também é muito difícil ser amado por
alguém
É, efectivamente uma triste pessoa...
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