(Nota: Seguindo a
recomendação de São Josemaria Escrivá procurarei viver o Evangelho como um
personagem mais. Para tal seguirei fielmente os textos pronto a fazer as
considerações que me ocorrerem.)
Dentro do Evangelho –
Lc
Jesus
disse aos Seus discípulos que eram o "sal da terra", o que, no
contexto, entendo como o elemento essencial para "temperar" as
atitudes, pensamentos e acções com algo tão importante como o fermento de facto
é para que se possa ter uma massa que levede correctamente e sirva para
fabricar o pão, alimento fundamental do ser humano. Ser esse pequenino
"quase nada" que os os cristãos têm de se esforçar por ser, que leve
outros a transformarem-se por dentro de "massa anónima e vulgar" em
verdadeiro bem para alimentar tantos e tantos irmãos nossos com fome.
Não
refiro a fome autêntica que corrói muitos que carecem de alimento para o corpo,
é algo terrível e que deveria ser considerado como a primeira prioridade dos
responsáveis e governantes deste mundo em que vivemos. Pergunto-me quando
surgirá alguém com a coragem de propor uma determinação: "Nenhum ser
humano poderá deixar de ter acesso ao alimento essencial!"
Sinceramente,
pesando bem as palavras que escrevo, considero que essa determinação será
extremamente difícil de surgir. Haverá sempre quem diga, por exemplo "não
posso deixar de concordar mas... quem, ou como se financiará tal
determinação?" Sim, é tristemente verdade... por detrás de qualquer opção
de carácter social, estará sempre um "autêntico exército" dos que
querem tudo "preto no branco", dispostos os meios para o fazer,
nomear intermináveis comissões de fiscalização dos actos, ponderar as
prioridades, por exemplo... aqui, ao pé da minha porta ou numa localidade
remota da Ásia, Oceania... onde for.
Não
sejamos hipócritas... se eu não assisto alguém que à porta da minha casa me
pede ajuda, será que vou andando rua fora em busca de um qualquer que possa
ajudar?
Já
sabemos... há autênticos "profissionais do pedir", mas, esses, penso
que qualquer um consegue identificar e, portanto, evitar colaborar num
autêntico abuso da solidariedade dos outros.
Pessoalmente
posso, talvez convenha, referir uma circunstância pessoal. Com frequência sou
abordado à porta de casa por um homem que me pede ajuda. Ao longo dos anos fui
conhecendo a pessoa e adequando a minha postura. O homem é, para sintetizar, um
desgraçado sem eira nem beira, sem recursos de qualquer natureza. Claro que fui
"descobrindo" que é um aldrabão, a mãe já morreu umas três ou quatro
vezes, a última vez que comeu uma refeição decente já nem se lembra, um irmão
continua a ser sujeito a mais uma intervenção cirúrgica urgente, ... enfim toda
uma panóplia de desgraças, necessidades terríveis, urgentíssimas que inventa
para "amolecer o coração" de quem aborda. Eu, durante muito tempo
deixei-me como que "embalar" nestas "histórias" e lá ia
"contribuindo" com uma moeda ou duas. Passado bastante tempo, uma vez
mais estava à minha espera à porta de casa, de mão estendida, o olhar
suplicante, uma atitude de "causar dó". Agarrei-lhe num braço,
puxeio-o para dentro do portão, sentei-o nas escadas e disse-lhe:
- Acabou-se!
A partir de hoje a tua Mãe não morre mais vez nenhuma nem o teu irmão, se é o
que o tens, vai ser operado a coisissíma. Não te quero julgar nem avaliar,
podes fazer qualquer coisa para alguém e receberes a paga por isso. A mim, por
exemplo, nunca me perguntaste se queria que cortasses a relva do jardim. Eu,
embora não compreenda, tenho de admitir que te estás a dar bem com o teu estilo
de vida. Não me compete nem quero ser nem juíz nem conselheiro, é a tua vida
que escolheste viver e pronto. Mas, no que diz respeito á nossa relação de
tantos anos vai passar a ser assim: Não te dês ao trabalho de estar à minha
espera com uma história das tuas. Quando precisares de alguma coisa eu continuo
aqui e estou disponível para ajudar. Mas... com uma condição: não me mintas! Se
queres um par de Euros para beber um copo é isso que tens de me dizer!...
O
resultado desta "entente" é que, agora, com este "profissional
da pedinchisse" não chego a gastar Dez Euros mensais!
Estava,
como sempre tenho estado, anónimo do meio de uma enorme multidão. Alguns diziam
que só homens seriam uns cinco mil e, isto sem contar mulheres e crianças que
na época pouco ou nada contavam. Eu, no entanto, não me escuso de comentar que
seriam, pelo menos, o dobro dos homens. Vinte mil pessoas para a época era de
facto uma multidão considerável.
Jesus
falava e o que mais uma vez me surpreendia é que todos O ouviam perfeitamente
estivessem à distância que estivessem... hoje seria fácil com instalações de
som... mas na altura!!! e isto era já por si um milagre. O que Jesus dizia era,
como sempre, uma "novidade" para muitos dos que ali estavam,
carregados de problemas, condições de vida lamentáveis... enfim... dizia Ele
que eram Bem-aventurados, os que choravam, os que sofriam, os desenganados da
vida.
Bem-aventurados!?
Sim... foi o que Ele afirmou várias vezes. Percebi então, hoje entendo melhor,
que para Jesus os Seus irmãos os homens estão sempre em primeiro lugar nas Suas
"preocupações", atento ao que possa fazer-lhes falta, pronto a dar
solução aos problemas pessoais de cada um. Julgo ter entendido duas coisas: uma
que Jesus não actua como que multitudinariamente, fazendo, por exemplo que
todos os que O escutavam que ficassem sem fome. Poderia faźê-lo? Claro que
podia... Jesus pode absolutamente tudo, mas... não, quer que quem precisa
o que for vá ter com Ele e Lhe diga o que deseja, sem precisar de se explicar
porque Ele conhece muito bem as razões que estão na origem dos pedidos.
Julgo perceber que Jesus gosta, realmente gosta, de ser instado, solicitado a
actuar, a conceder, a satisfazer, e, claro que também percebo que a
perseverança nos pedidos, a constância da petição é fundamental para realmente
não pedirmos por pedir mas porque estamos firmemente convictos que, se for para
nosso bem Ele o concederá. Quando um filho pequeno pede a seu pai que o deixe
conduzir o automóvel o pai pondera que satisfazer o desejo do filho pode ser
contraproducente e, por isso, diz Não! Aprofundando, podemos concluir que o pai
agiu com prudência. O Senhor é sumamente Prudente e portanto podemos confiar
que só satisfará os nossos desejos se estes forem convenientes e para nosso
bem.
Posto
isto, volto à Cena Evangélica: As pessoas estavam eufóricas, olhavam-se umas ás
outras dizendo: Eu... Tu... somos Bem-aventurados!?! Uma alegria incontível
como que se apoderou de todos, romperam em cânticos, hossanas... gritos de
júbilo.
Ao
pensar que também eu posso ser Bem-aventurado!!!
Reflectindo
"Vamos a ver"... esta é uma resposta muito
comum a uma solicitação qualquer que nos é feita.
De facto não é uma resposta mas uma evasiva, uma
habilidosa forma de postergar para um futuro qualquer que não se indica essa
mesma resposta.
A mim parece-me algo como ou desinteresse ou
cobardia. Seja o que for para ser honesto tem de se dar, imediatamente, uma
resposta: 'Não sei!... Neste momento não posso responder mas vou ponderar e
dentro de x dias responderei...?
Desta forma, quem nos pôs a questão ficará
satisfeito ao invés de pensar... ‘não vale a pena perguntar o que for a este
sujeito'.
Constato esta realidade: Não sei que hei-de fazer
para ocupar todo o tempo que diariamente tenho.
Sim, é verdade, depois de cumprir "as
obrigações diárias", encontro-me com horas e horas sem ter o que fazer.
Não é um drama mas é uma "sujeição",
fazer... o quê???
Compreendo que ao conceder-me todo este tempo o
Senhor quer que eu viva. Eu, sinceramente, digo-Lhe: Senhor... mas para
quê? E parece-me ouvir a Sua resposta:'Porque Eu quero'.
Então, não me ocorre mais que
dizer-Lhe: 'Senhor, está bem, vivo até quando Tu quiseres, mas ajuda-me a
viver como Tu queres que viva'.
Com esta conclusão fico sem mais nenhum
"argumento" para continuar a "conversa", e, portanto...
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