(Re Mt
XVIII, 21-35)
Neste
texto, São Mateus oferece-nos considerações sobre o perdão.
A pergunta
de Pedro, tem razão de ser; naquele tempo os chefes do povo não falavam de
perdão, antes vincavam bem a chamada Lei de Talião.
E a
resposta de Jesus é muito clara: não há limites para o perdão e, para melhor a vincar,
acrescenta uma parábola.
Esta
parábola espelha de modo cru e nu o que, infelizmente, se passa na sociedade
dos homens em que alguns parece terem no lugar do coração um pedaço de gelo que
nem o maior gesto de perdão, solidariedade, compaixão consegue derreter.
O
egoísmo cega completamente a razão impedindo não só reconhecer o bem que se
recebe como o desejo de proceder de igual modo.
Reflectindo na
Quaresma
Olhar
ao longe
Realmente, caminhar olhando para o chão pode
ser uma medida preventiva de, por exemplo, não tropeçar nos obstáculos.
Mas, na verdade, se o olhar se dirigir em
frente veremos na mesma os obstáculos mas com a vantagem de ter tempo de os
evitar.
Convém pois, olhar em frente para se ter uma
perspectiva mais completa e real do caminho que se percorre e, também, para não
perder de vista o vulto de Cristo que nos guia.
Referência
pessoal na Quaresma
Tenho uma vaga memória de,
há uns anos, ter contado esta história; não interessa, conto-a porque por ser
absolutamente verdadeira a lembro amiúde.
Eu estava na cama 1 de uma
enfermaria de um hospital, em plena recuperação de uma cirurgia à próstata.
As outras sete camas foram
ficando livres à medida que os operados iam tendo "alta", até que
restei eu e o da cama oito.
Tratava-se de um pobre homem
que não obstante os cuidados do pessoal de enfermagem, mantinha um aspecto
hisurto, uma cara carrancuda.
Comia sofregamente as
refeições como se "não houvesse mais", permanecia calado o dia
inteiro e, ás minhas tentativas de "meter conversa" respondia com um
grunhido.
Hoje pelo meio-dia, depois
da habitual visita do médico chefe, começou uma
"cantilena": 'Estou Fodido!... Estou F...!"
Perguntei-me porque o meu
colega da cama oito achava que estava F... e interroguei uma enfermeira.
Esta elucidou-me: ‘está aqui
há quase mês e meio, um amigo touxe-o, meio morto, no atrelado de uma motoreta,
foi operado, encontra-se bem; soubemos
que vive, se se pode dizer, num barraco miserável sem um mínimo de condições,
enfim... um desgraçado, temos pena dele e fomos mantendo-o aqui, pelo menos tem
uma cama, refeições a horas certas, de vez em quando toma banho; a única visita
que tem é o tal amigo que de vez enquanto o vem ver mas, o novo Director do
Serviço não quiz saber e, hoje, comunicou-lhe que iria ter "alta".
‘Mas, perguntei eu, e a
Segurança Social... não faz nada’!?
‘Parece que não! Este homem
não existe, não tem BI, nem se sabe o nome’.
Fiquei aturdido acordado
toda a noite a rezar pelo meu colega da cama oito.
No dia seguinte, de
manhãzinha, lá apareceu o amigo para o levar de regresso, não já para o miserável tugúrio mas para um
Lar onde a cotização generosa do pessoal de enfermagem, e não só, assegurara o
seu ingresso.
Senti-me tão
"pequenino", previligiado e credor de tantos amigos que nunca mais me
esqueci.
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