Fiquei atónito, sem palavras e levei algum tempo a reagir, mas, como que por encanto desvaneceram-se as minhas dúvidas e pruridos e ajudei a transportar o ferido para a melhor habitação de que dispunha.
Deitámos o homem numa cama,
despimos-lhe os farrapos, arranjei uma túnica lavada que lhe vestimos e,
enquanto o Samaritano observava de novo as feridas renovando as ligaduras e
unguentos fui à cozinha buscar um caldo de sopa que a custo conseguiu engolir.
Tendo caído num sono profundo, deixámo-lo a descansar e retiramo-nos; o
samaritano para uma acomodação na parte superior da casa, eu para o meu posto à
entrada da estalagem.
A noite ia adiantada e como
não era de prever aparecessem novos hóspedes, fui deitar-me. Mas não conseguia
conciliar o sono pensando em tudo quanto acontecera e algo apreensivo quanto ao
dia seguinte.
Logo pela manhã o samaritano
preparou-se para seguir viagem, mas, antes que eu pudesse perguntar o que
fosse, abriu a sua bolsa, «tirou dois denários, e deu-mos dizendo: Cuida
dele; quanto gastares a mais, eu to pagarei quando voltar».
Ainda hoje, passado tanto
tempo, me admiro com a minha reacção! Nem por um momento me ocorreu que o
Samaritano não faria exactamente como me disse e que não ficaria por receber o
que viesse a gastar com o pobre coitado agora a meu cargo.
Sim, eu que sou judeu e tenho um
negócio, não posso dar-me ao luxo de receber hóspedes sem ter a certeza que
serei ressarcido das despesas de estadia, tanto mais que estas seriam bastante
fora do “normal”: os tratamentos, ligaduras, unguentos e outros cuidados que
seriam necessários. Volto a repetir: Ainda hoje, passado tanto tempo, me admiro
com a minha atitude!
…
Reflectindo
Quando passo em
revista os meus defeitos é conveniente ter em conta as virtudes que tenho.
Sim, no meu
"entender" cristão eu possuo virtudes.
Neste momento em
particular detenho-me na PACIÊNCIA.
Logo me ocorre que
me falta.
Tal reflecte-se
imediatamente nesta reflexão!
Mas, pensando
melhor, concluo que não será assim tão radical para justificar reflectir sobre
ela.
O que tenho de ter
bem claro é que a PACIÊNCIA é, além de uma Virtude, um Dom do Espírito Santo e,
evidentemente só Ele a pode dar, daí que
é fundamental pedir com perseverante insistência que ma conceda.
A sua falta
reflecte-se em todos os momentos da minha vida diária e, pior, torna-me
"insuportável" aos que me rodeiam.
No que me respeita
- aliás não tenho nenhuma "autoridade" para escrever o que for sobre
outros -, vejo muito claramente que a "minha" PACIÊNCIA pessoal,
intrínseca, é um "desastre", poderia, quase, dizer que "não me
suporto"! E, isto que é absolutamente verdade, tem um nome: ORGULHO
PESSOAL!
Sim... é verdade!
Quero-me perfeito,
impecável, um exemplo, uma referência, mas... como não o sou, - porque
seria? - rendo-me pensando que não há nada que possa fazer. Mas... de
facto há! Se eu pedir, como já referi, ao Divino Espírito Santo que me dê
PACIÊNCIA, Ele não ma dará!?!?
Se for para meu bem
e para melhor fazer, em tudo, a Vontade de Deus, seguramente que sim. E,
portanto, a única coisa a fazer é esperar pacientemente que Ele oiça e atenda o
meu pedido: Divino Espírito Santo dai-me PACIÊNCIA!
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