10/03/2021

Leitura Espiritual Mar 10

 


Novo Testamento

 

Evangelho

 

Lc VI, 27-49

 

Amar os inimigos

27  Mas digo-vos a vós: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; 28  Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam. 29  Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses; 30  E dá a qualquer que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho tornes a pedir. 31  E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também. 32  E se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam. 33  E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo. 34  E se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a receber, que recompensa tereis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro tanto. 35  Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus. 36  Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. 37  Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. 38  Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.

 

O guia cego

39  E dizia-lhes uma parábola: Pode porventura o cego guiar o cego? Não cairão ambos na cova? 40  O discípulo não é superior a seu mestre, mas todo o que for perfeito será como o seu mestre.

 

A palha e a trave

41  E por que atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho? 42  Ou como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, não atentando tu mesmo na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão. 43  Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto. 44  Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos. 45  O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundáncia do seu coração fala a boca.

 

Jesus exorta a pôr em prática os Seus mandamentos

46  E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo? 47  Qualquer que vem a mim e ouve as minhas palavras, e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante: 48  É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pós os alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e não a póde abalar, porque estava fundada sobre a rocha. 49  Mas o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa.

 

Texto

 


CARTA APOSTÓLICA

AMANTISSIMA PROVIDENTIA

DO SUMO PONTÍFICE

PAPA JOÃO PAULO II

AOS BISPOS, SACERDOTES E FIÉIS DA ITÁLIA

NO SÉTIMO CENTENÁRIO DA MORTE

DE SANTA CATARINA DE SENA,

VIRGEM E DOUTORA DA IGREJA

 

 

Catarina tem 29 anos e chegou ao ponto de tomar consciência da grandeza do seu encargo: "recompor o equilíbrio da cristandade" (12). Havia anos que propugnava a "santa mensagem", isto é, a cruzada para a libertação dos Lugares Santos, tanto para tirar as armas cristãs das lutas fratricidas (13), como para dar o "condimento da fé" aos infiéis (14).

Da mesma maneira e, se possível, ainda mais apaixonada, animava o Papa à reforma moral da Igreja, começando com a eleição de bons pastores. Sobre este tema encontrava as tonalidades mais inflamadas, porque para ela "a Igreja não é senão o próprio Cristo" (15). Repreende e denuncia as desordens, mas com incrível tristeza, manifestando pela Igreja ternura de mãe, junta à virilidade das propostas, quando escreve a Gregório XI: "Ide depressa ter com a vossa esposa, que vos espera toda pálida, para lhe restituirdes a cor" (16). "Reponde-lhe o coração, que perdeu, da ardentíssima caridade: porque tanto sangue lhe sugaram iníquos devoradores, que está toda empalidecida" (17).

  Avizinha-se agora o momento da sua empresa mais gloriosa. Em Junho de 1376 dirigiu-se a Avinhão, coma medianeira de paz entre a Santa Sé e Florença. A questão era difícil: resolver-se-ia dois anos mais tarde, não se dispensando porém nova mediação sua. Mas Catarina tinha a peito coisas maiores ainda. Fizera-se preceder pelo seu confessor Frei Raimundo de Cápua, confiando-lhe a carta recém-citada, em que expõe ao Papa "da parte de Cristo crucificado" as três principais coisas que deve fazer para ter paz em todas as direcções: estabelecer dignos pastores, levantar a bandeira da cruz para a cruzada, e reconduzir a sede papal a Roma.

  As suas palavras ressoam com vigoroso eco profético, especialmente quando toca a tecla da pobreza da Igreja e do prejuízo que a esta traz o cuidado dos bens temporais. Sobre o regresso do Vigário de Cristo à sua sede não tem hesitações: "Respondei ao Espírito Santo que vos chama. Eu digo-vos: vinde, vinde, vinde". E, depois de o exortar a vir "como manso cordeiro", para acrescentar força à sua mensagem acrescenta com respeitosa franqueza: "sede-me homem viril e não temeroso" (18). A pena da longa espera e da ruína das almas arranca-lhe do coração, numa carta sucessiva, este grito: "Ai de mim, Pai, morro de dor e não posso morrer" (19).

  Chegada a Avinhão a 18 de Junho, pôde fazer valer de palavra, mesmo em encontros directos com o Papa, o sentimento improrrogável do dever, falando-lhe sem presunção nem timidez. O piedoso Pontífice, que se demorava em tomar a última decisão, houve de convencer-se que por boca dela falava realmente o Senhor e o certificava da Sua vontade. Gregório XI deixou definitivamente Avinhão a 13 de Setembro de 1376 e entrou em Roma, entre o delírio do povo em festa, a 17 de Janeiro de 1377.

  Mais tarde, depois de uma longa missão em Valdórcia, Catarina retomou nas mãos a questão da paz com os florentinos, e, num dos tumultos do verão de 1378, correu até perigo de ser assassinada; ela, que se vira quase no martírio, escrevia depois quase desiludida: "O Esposo eterno muito zombou de mim" (20).

  Infelizmente naquele ano, falecido o último Papa francês e eleito entre tempestuosos incidentes Urbano VI, homem sem dúvida um tanto rígido mas dedicado à reforma dos costumes, nasceu o grande Cisma, que iria perturbar a unidade da Igreja por quase 40 anos. A Santa, que o previra, sentiu penetrar na sua carne a ferida que afligia a Igreja. Agora era tempo de abandonar qualquer outro pensamento e dedicar-se com todas as forças a lutar pela unidade do Corpo místico e pelo único verdadeiro Papa. Doravante as suas cartas ardorosas poder-se-ão chamar mensagens da unidade cristã. O amor pelo Papa e pela Igreja arde na sua alma.

  Nada de admirar que, recebendo convite do Papa, acorresse a Roma: devia actuar sobre o coração mesmo da Igreja. Sugeriu e animou que se unissem ao "doce Cristo na terra" homens de espírito puro para o ajudarem com o conselho, a oração e o prestígio da vida santa. A sua residência na rua do Papa (coisa significativa!) tornou-se centro de actividade diplomática. Cartas e mensageiros partiam para toda a parte: para os poderosos da Itália e para os reis da Europa, para os Cardeais rebeldes e para os servos de Deus que era preciso animar. Animava os soldados que se batiam por Urbano, aplacava o povo romano em tumulto, enfreava os ímpetos do Papa e a custo se dirigia a orar junto do túmulo do Apóstolo em São Pedro. Foi um ano e meio de trabalho extenuante e orações apaixonadas: "O Deus eterno, recebe o sacrifício da minha vida neste corpo místico da santa Igreja" (21). Assim, entre invocações e desejos veementíssimos, extinguiu-se em Roma no domingo 29 de Abril de 1380, aos trinta e três anos como o seu Esposo Crucificado.

  O corpo foi sepultado na igreja de "Santa Maria sopra Minerva", em Roma, onde se venera debaixo do altar-mor; a cabeça porém foi enviada a Sena, onde a receberam triunfalmente o clero e o povo, estando também presente a mãe de Catarina, Lapa. Conserva-se na igreja de São Domingos.

  Catarina foi canonizada pelo Sumo Pontífice Pio II com a bula Misericordias Domini, de 29 de Junho de 1461. Foi assim apontada solenemente à Igreja universal como modelo de santidade e exemplo de sublime grandeza, a que uma mulher simples do povo pode chegar com a graça do Todo-Poderoso.

 

IOANNES PAULUS PP. II

 

Notas

 

(12) La Pira G., na revista "Vita cristiana", 1940, p. 206.

(13) Cfr. Carta 206, ou LXIII.

(14) Carta 218, ou LXXIV.

(15) Carta 171, ou LX.

(16) Carta 231, ou LXXVII.

(17) Carta 206, ou LXIII.

(18) Ibidem.

(19) Carta 196, ou LXIV.

(20) Carta 295.

(21) Carta 371.

 

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