Novo Testamento
Evangelho
Lc.
V, 17-39
Vocação de Levi
27 E, depois disto, saiu, e viu um publicano,
chamado Levi, sentado na recebedoria, e disse-lhe: Segue-me. 28 E ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu.
29 E fez-lhe Levi um grande banquete em
sua casa; e havia ali uma multidão de publicanos e outros que estavam com eles
à mesa. 30 E os escribas deles, e os
fariseus, murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e
bebeis com publicanos e pecadores? 31 E
Jesus, respondendo, disse-lhes: Não necessitam de médico os que estão sãos,
mas, sim, os que estão enfermos; 32 Eu não
vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento.
Questão do jejum
33 Disseram-lhe, então, eles: Por que jejuam os
discípulos de João muitas vezes, e fazem orações, como também os dos fariseus,
mas os teus comem e bebem? 34 E ele lhes
disse: Podeis vós fazer jejuar os amigos do esposo enquanto o esposo está com
eles? 35 Dias virão, porém, em que o
esposo lhes será tirado, e então, naqueles dias, jejuarão. 36 E disse-lhes também uma parábola: Ninguém deita
um retalho de pano novo em vestido velho, de outro modo o novo rompe o velho e
o retalho do novo não condiz com o velho. 37
E ninguém deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte o vinho novo
romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e perder-se-ão os odres; 38 Mas o vinho novo deve deitar-se em odres
novos, e ambos juntamente se conservarão. 39
E ninguém tendo bebido o velho quer o novo, porque diz: O velho é melhor.
Texto
CARTA
APOSTÓLICA
SANCTORUM
ALTRIX
DO
SUMO PONTÍFICE
JOÃO
PAULO II
NO
XV CENTENÁRIO
DO
NASCIMENTO DE SÃO BENTO
PATRONO
DA EUROPA,
MENSAGEIRO
DA PAZ
Aos dilectos filhos
Vitor Dammertz, Abade Primaz
da Ordem de S. Bento; Tiago Del Rio, Maior da Congregação dos Eremitas
Camaldolenses do Monte Corona; Paulo Anania, Abade-Geral da Congregação
Mequitarista de Veneza; Sigardo Kleiner, Abade-Geral da Ordem Cisterciense;
Ambrósio Southey, Abade-Geral da Ordem dos Cistercienses Reformados
(Trapistas): no XV centenário de S. Bento, Abade.
Dilectos filhos
saúde e Bênção apostólica
Geradora de santos, a Igreja mãe apresenta
aos seus filhos, como mestres de vida, aqueles que, por esplêndido exercício de
virtudes, seguiram fielmente a Cristo, seu Esposo. Pretende que eles,
seguindo-lhes as pegadas, possam chegar à perfeita união com Deus, apesar das
variadas distracções do mundo, e possam atingir deste modo o próprio fim. São
aqueles homens e aquelas mulheres excelentes que, embora submetidos durante a
vida terrena aos especiais condicionalismos do próprio tempo — culturais
especialmente — fizeram todavia resplandecer com o modo de viver e a doutrina
um aspecto particular do mistério de Cristo, aspecto que, ultrapassando os
limites apertados do tempo, ainda hoje conserva a sua força e o seu vigor.
Por isso, celebrando-se agora o XV
aniversário do nascimento de S. Bento, apresenta-se a ocasião de escutar de
novo a sua mensagem espiritual e social.
I
Em qualquer religião sempre houve quem,
"esperando resposta para os enigmas da condição humana" 1,
fosse atraído de maneira singular para o Absoluto e para o Eterno. Entre estes,
no que diz respeito ao Cristianismo, sobressaem os monges, que já nos séculos
III e IV, tinham instituído, nalgumas zonas do Oriente, uma própria forma de
vida, tendente a realizar, por inspiração divina e a exemplo de Cristo
"orando sobre o monte" 2, ou
uma vida solitária e segregada, ou a dar-se ao serviço de Deus na convivência
da caridade fraterna.
Do Oriente, por conseguinte, penetrou a
disciplina monástica em toda a Igreja e alimentou o salutar propósito de outros
que, mantendo as normas da vida religiosa, imitavam o Salvador, "que
anunciava às multidões o reino de Deus e trazia os pecadores à conversão" [3].
Quando, devido a este espiritual fermento, a
Igreja se tinha já desenvolvido, mas simultaneamente se arruinava a cultura, e
o mundo romano envelhecia — pouco antes, de facto, tinha caído o império
ocidental —, pelo ano de 480 nascia em Núrsia S. Bento.
"Bendito pela graça e pelo nome, desde o
tempo da infância tendo um coração de homem idoso" e "desejando
agradar só a Deus" [4], pôs-se à escuta do Senhor,
que procurava, o Seu operário [5], e vencendo as hesitações
do espírito, nascidas no princípio, percorreu caminhos "duros e
ásperos" [6], isto é, enveredou "pelo caminho
estreito que conduz à vida".
Levando vida solitária nalguns lugares e
purificando-se com a prova da tentação, conseguiu que o seu coração ficasse
aberto só para Deus; movido unicamente pelo Seu amor, reuniu outros homens, com
quem, como pai, entrasse "na escola do serviço do Senhor" [8]. E
assim, unindo ao sentimento do próprio dever a prática esclarecida "dos
instrumentos das boas obras" [9],
ele e os seus companheiros constituíram uma cidadezinha cristã, "onde
finalmente — como disse Paulo VI, Predecessor nosso de recente memória — reinassem o amor, a obediência, a inocência,
o ânimo desapegado das coisas do mundo e a arte de usar delas rectamente, o
primado do espírito, a paz — numa palavra, o Evangelho" [10].
Praticando assim o que havia de bom na
tradição eclesial do Oriente e do Ocidente, o Santo de Núrsia chegou a
considerar globalmente o homem, cuja dignidade, como pessoa, inculcou como sem
igual.
Quando morreu no ano de 547, já estavam
lançados sólidos fundamentos para a disciplina monástica, que, particularmente
depois dos sinodos da idade carolingia, se tornou o monaquismo ocidental. Este,
por meio das abadias e outras casas beneditinas, difundidas por toda a parte,
constituiu a união primitiva e originária da nova Europa: dizemos da Europa, a
cujas "gentes, que vivem desde o Mar Mediterrâneo até à Escandinávia, da
Irlanda até aos territórios abertos da Polónia, os filhos deste Santo — com a
cruz, com o livro e com o arado — levaram a civilização cristã" [11].
IOANNES PAULUS II
Notas
[1] Conc. Ec. Vat. II, Decl. Nostra aetate sobre as relações da
Igreja com as religiões não cristãs, 1.
[2] Conc. Ec. Vat. II, Const.
dogm. Lumen gentium sobre a Igreja, 46.
[3] Ibid.
[4] S. Gregório Magno,
Diálogos, liv. II, Prólog.: PL 66, 126.
[5] Cf. Regra de S. Bento,
Prólog., 1, 14.
[6] Regra de S. Bento, 58,
8.
[7] Cf. Mt 7, 14.
[8] Regra de S. Bento,
Prólog., 45.
[9] Cf. Regra de S. Bento,
4.
[10] Cf. Alocução de
24.10.1964 no Mosteiro de Cassino: AAS 56 (1964), p. 987.
[11] Cf. Carta Apost. de
Paulo VI Pacis nuntius: AAS 56 (1964), p. 965.
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