22/01/2021

LEITURA ESPIRITUAL Janeiro 22

Evangelho

 

Mt XXVIII 1 - 20

 

As santas mulheres no sepulcro

 

1 Terminado o sábado, ao romper do primeiro dia da semana, Maria de Magdala e a outra Maria foram visitar o sepulcro. 2 Nisto, houve um grande terramoto: o anjo do Senhor, descendo do Céu, aproximou-se e removeu a pedra, sentando-se sobre ela. 3 O seu aspecto era como o de um relâmpago; e a sua túnica, branca como a neve. 4 Os guardas, com medo dele, puseram-se a tremer e ficaram como mortos. 5 Mas o anjo tomou a palavra e disse às mulheres: «Não tenhais medo. Sei que buscais Jesus, o crucificado; 6 não está aqui, pois ressuscitou, como tinha dito. Vinde, vede o lugar onde jazia 7 e ide depressa dizer aos seus discípulos: ‘Ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis.’ Eis o que tinha para vos dizer.» 8 Afastando-se rapidamente do sepulcro, cheias de temor e de grande alegria, as mulheres correram a dar a notícia aos discípulos. 9 Jesus saiu ao seu encontro e disse-lhes: «Salve!» Elas aproximaram-se, estreitaram-lhe os pés e prostraram-se diante dele. 10 Jesus disse-lhes: «Não temais. Ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia. Lá me verão.» 11 Enquanto elas iam a caminho, alguns dos guardas foram à cidade participar aos sumos sacerdotes tudo o que tinha acontecido! 12 Eles reuniram-se com os anciãos; e, depois de terem deliberado, deram muito dinheiro aos soldados, 13 recomendando-lhes: «Dizei isto: ‘De noite, enquanto dormíamos, os seus discípulos vieram e roubaram-no.’ 14 E, se o caso chegar aos ouvidos do governador, nós o convenceremos e faremos com que vos deixe tranquilos.» 15 Recebendo o dinheiro, eles fizeram como lhes tinham ensinado. E esta mentira divulgou-se entre os judeus até ao dia de hoje.

 

Mandato apostólico

 

16 Os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha indicado. 17 Quando o viram, adoraram-no; alguns, no entanto, ainda duvidavam. 18 Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes: «Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. 19 Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, 20 ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.»

 


      Veracidade

 

  Esta citação da mentira ou, se preferirmos, a falta de veracidade, é intencional porque parece ser um defeito muito comum que, por vezes, por ser habitual, não se dá conta. Talvez, na maioria dos casos não se trate de uma mentira séria, grave, que prejudique alguém ou o próprio.

  Uma das facetas de carácter que a isto conduz, é a imaginação, talvez, demasiado fértil e incontrolada.

  À força de repetir uma história, relatar uma situação ou episódio que não tem um fundamento concreto mas se baseia na lucubração íntima dessas situações ou episódios, vai-se construindo algo que, aparentemente, aconteceu, seja verdade.

  Muitas destas situações levam a pessoa a atribuir-se méritos que não lhe cabem, capacidades que não tem, a relatar episódios que não viveu.

  Começa-se por inventar pequenas coisas e, vai-se deslizando com desconcertante à-vontade para situações e factos mais sérios, perde-se a noção da realidade concreta e deixa de preocupar-se, sequer, com as circunstâncias, ambientes ou as pessoas que estão a ouvir.

Em situações de confronto, por exemplo alguém que contesta com factos e razões indesmentíveis que o que se disse não é verdade, o ‘calo’ adquirido não deixa reconhecer o erro mas tão só argumentar com: ‘não era bem isso que eu queria dizer’.

  Vem outra vez ao de cima o “pauca fidelis”, mentir nas pequenas coisas cria, nos outros uma disposição a não acreditar em nada do que esse outro diga ou faça o que, não sendo justo, é, porém, uma consequência natural do comportamento que se tem.

  Um dos maiores elogios que Jesus Cristo faz a alguém e que o Evangelho nos relata é o acontecido com Bartolomeu: «Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse dele: «Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.» ([1]), referindo claramente a importância que tem o comportamento veraz, autêntico, sem duplicidades ou levado pela fantasia.

  Onde esta faceta humana adquire, talvez, maior relevância é entre os profissionais da comunicação social, falada ou escrita.

Da tendência a construir uma história a partir de meia dúzia de coisas que se conheceram de forma esparsa e desgarrada de contexto, até à especulação pura e simples, é tão frequente que quase se aceita como inevitável.

‘Tenho o direito de informar’ – dizem – ao que se pode contrapor, ‘tenho igualmente direito a ser bem informado’.

  Os direitos e os deveres das pessoas nunca são isolados, quer dizer, ninguém tem só direitos como, também, não tem só deveres.

Ao direito de alguém corresponde sempre o dever de outrem; a única diferença, talvez, resida em que, se todos os direitos são iguais e, alguns dos deveres, não o são.

  Retomando o assunto sobre a veracidade, o dever de falar com verdade é tanto mais importante e pode revestir-se de gravidade especial como a circunstância particular ou a pessoa a quem se aplique; uma pessoa adulta tem mais obrigações que uma outra que seja ainda criança.

  Quando alguém se debruça sobre si mesmo, procurando, num esforço sério e desinibido por traçar um quadro que corresponda ao seu carácter, está a procurar no seu íntimo, aquilo que o levará a concluir o que interessa muito ou pouco, o que convém manter e fazer progredir e o que interessa banir.

Está, decididamente, a tentar construir uma vida interior orientada para o que verdadeiramente é e não o que, talvez, pretenda ser.

Normalmente, deste exercício não nasce a autossatisfação mas o desejo de conseguir progredir naquilo que considera pontos fracos do seu carácter.

A aparência, o que os outros possam pensar de si, deixa de ter tanta importância como o desejo de melhorar naquilo que tem de bom e expurgar o que não seja tanto.

  Poderíamos dizer que, a vida interior, é a estrutura sobre o qual assenta o projecto de vida de cada um, e como qualquer construção, não se começa nunca pela cobertura mas pelos alicerces sobre os quais se vai erguendo aos poucos o edifício, importa que a formação do carácter comece desde os primeiros anos da razão.

  Dar à criança uma educação estruturada em valores perenes e indispensáveis é uma obrigação grave.

Ir “formatando” o seu carácter para que entenda que a vida não se limita a actos exteriores de mera reacção física, empírica ou não, mas sim à custa de reflexão e amadurecimento.

  Actuar como numa cedência aos ímpetos, aos impulsos, não passa de reacções mais ou menos estéreis, sem raiz ou autenticidade.

Fazê-lo com a consciência de que se aplicou o melhor que se tem para agir correctamente traz consigo uma satisfação e tranquilidade íntimas mesmo que se tenha errado.

Mais, nestas circunstâncias a pessoa está preparada para emendar ou pelo menos tentar corrigir, o que está mal, obtendo com isso um ganho pessoal e uma credibilidade social.

  Na consideração séria da vida interior, a pessoa é confrontada, inevitavelmente, com o problema da sua origem e do seu fim, para que nasceu e existe, de onde vem e para onde, tendencialmente, irá.

  E, aqui depara-se com Deus como a figura central de toda a vida humana, o elemento que tudo liga, a referência sempre presente de tudo quanto pensa ou faz.

  Esta relação do homem com Deus, a forma como se desenvolve, os laços que estabelece, a dependência que surge como consequência natural da tomada de consciência de “criatura do Criador”, leva a vida interior da pessoa a uma finura exigente de comportamento pessoal que se traduz num constante começar e recomeçar que é, no fim e ao cabo, o que se traduz na melhoria pessoal.

  A pessoa que tem a clara consciência de Deus como seu Criador progride no seu todo como ser humano porque se vai aproximando, por assim dizer, do objectivo implantado em cada um que é a proximidade e contemplação de Deus.

  Falamos de pessoas normais e correntes, que vivem a vida de todos os dias no meio da sociedade, exercendo as mais variadas profissões e trabalhos, intelectuais ou não, independentemente dos seus conhecimentos académicos ou outros, das suas capacidades, virtudes ou defeitos.

  Toda a gente – para aplicar uma expressão comum – tem o seu valor intrínseco inalienável e insubstituível e, este valor expressa-se numa verdade indiscutível:

 

 



[1] Cfr. Jo 1,43-51

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