A alegria cristã 3
O seu fundamento
A alegria é um dos
frutos da ação do Espírito Santo nas almas, que consiste substancialmente, em
identificar-nos com Cristo e chamar-Lhe Abba, Pai: «De facto, todos os que se
deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus» (Rm, 8, 14).
Reconhecermo-nos na dependência filial de Deus é «fonte de sabedoria e de
liberdade, de alegria e de confiança» [5]. S. Josemaria expressava-o com
convicção: «Se nos sentimos filhos prediletos do nosso Pai dos Céus - é o que
somos! -, como é que não estamos sempre alegres? Pensa bem nisto» (Forja, n.
266); «Que estejam tristes os que não se consideram filhos de Deus!» (Sulco, n.
54).
Portanto, a alegria
do cristão nasce do saber-se filho de Deus. S. Josemaria usava a expressão
“realidade gozosa” para salientar a profunda felicidade que traz consigo o
descobrir-se filho de Deus: «A alegria é consequência necessária da filiação
divina, de nos sabermos queridos com predileção pelo nosso Pai Deus que nos
acolhe, nos ajuda e nos perdoa» (Forja n. 332). E, além disso, a alegria
alimenta-se do cumprimento da vontade divina: «A aceitação rendida da Vontade
de Deus traz necessariamente a alegria e a paz» (Caminho, n. 758). Às vezes a
vontade divina pode ser dolorosa e enigmática, mas quem vive de fé percebe que
é sempre o melhor, pois sabe «que tudo contribui para o bem daqueles que amam a
Deus» (Rm 8, 28). São Tomás More experimentou isso, quando escreveu à sua filha
Margarita da sua prisão na Torre de Londres: «Queridíssima filha, que nunca se
perturbe a tua alma por qualquer coisa que me possa acontecer neste mundo. Nada
pode acontecer senão o que Deus quiser. E tenho a certeza de que, seja o que
for, por pior que seja, será realmente o melhor» [6]. E S. Josemaria fez eco
disso: «Deus é meu Pai, ainda que me envie sofrimento. Ama-me com ternura,
mesmo quando me bate. Jesus sofre, para cumprir a Vontade do Pai... E eu, (…)
seguindo os passos do Mestre, poderei queixar-me, se encontro por companheiro
de caminho o sofrimento? Constituirá um sinal certo da minha filiação, porque
me trata como ao Seu Divino Filho» (Via Sacra, Estação I, n.1). A alegria,
portanto, é compatível com circunstâncias dolorosas, dificuldades e
adversidades. Como a santidade consiste na identificação com Cristo, a Cruz é
inevitável na vida cristã. Além disso, S. Josemaria dirá que a alegria «tem as
raízes em forma de Cruz» (Forja, n. 28).
Vicente Bosch
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