Evangelho
Mt
XVII XVIII 12 – 35
A ovelha perdida
12 Que vos parece? Se um homem tiver cem
ovelhas e uma delas se tresmalhar, não deixará as noventa e nove no monte, para
ir à procura da tresmalhada? 13 E, se chegar a encontrá-la, em verdade vos
digo: alegra-se mais com ela do que com as noventa e nove que não se
tresmalharam. 14 Assim também é da vontade de vosso Pai que está no Céu que não
se perca um só destes pequeninos.»
Correcção fraterna
15 «Se o teu irmão pecar, vai ter com
ele e repreende-o a sós. Se te der ouvidos, terás ganho o teu irmão. 16 Se não
te der ouvidos, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão
fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. 17 Se ele se recusar
a ouvi-las, comunica-o à Igreja; e, se ele se recusar a atender à própria
Igreja, seja para ti como um pagão ou um cobrador de impostos. 18 Em verdade
vos digo: Tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que
desligardes na Terra será desligado no Céu.»
Poder da oração em união
19 «Digo-vos ainda: Se dois de entre vós
se unirem, na Terra, para pedir qualquer coisa, hão-de obtê-la de meu Pai que
está no Céu. 20 Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu
estou no meio deles.»
Perdão das ofensas
21 Então, Pedro aproximou-se e
perguntou-lhe: «Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei
perdoar? Até sete vezes?» 22
Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.
Parábola dos servos devedores
23 Por isso, o Reino do Céu é comparável
a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. 24 Logo ao princípio,
trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. 25 Não tendo com que pagar, o
senhor ordenou que fosse vendido com a mulher, os filhos e todos os seus bens,
a fim de pagar a dívida. 26 O servo lançou-se, então, aos seus pés, dizendo:
‘Concede-me um prazo e tudo te pagarei.’ 27 Levado pela compaixão, o senhor
daquele servo mandou-o em liberdade e perdoou-lhe a dívida. 28 Ao sair, o servo
encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o,
apertou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: ‘Paga o que me deves!’ 29 O seu
companheiro caiu a seus pés, suplicando: ‘Concede-me um prazo que eu te
pagarei.’ 30 Mas ele não concordou e mandou-o prender, até que pagasse tudo
quanto lhe devia. 31 Ao verem o que tinha acontecido, os outros companheiros,
contristados, foram contá-lo ao seu senhor. 32 O senhor mandou-o, então, chamar
e disse-lhe: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque assim mo
suplicaste; 33 não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive
de ti?’ 34 E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos até que pagasse tudo
o que devia. 35 Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não
perdoar ao seu irmão do íntimo do coração.»
Fortaleza
Pode pensar-se que a fortaleza e a coragem
são a mesma coisa mas não são.
A
coragem é uma qualidade e simultaneamente uma virtude.
A fortaleza é uma virtude e um dom.
A coragem tem a ver com a atitude que se tem
relativamente ao exterior.
A fortaleza é antes uma emanação do íntimo.
É claro que, normalmente, quem tem fortaleza
tem necessidade da coragem para levar a cabo os actos que a fortaleza lhe
sugere ou solicita.
Vejamos
um exemplo simples:
A
fortaleza sugere que a frequência de determinado ambiente é prejudicial mas
necessita da coragem as acções necessárias para, de facto, o fazer.
Como sugeria São Josemaria Escrivá: ‘Não
tenhas a cobardia de ser “valente”; foge!’[1]
ou seja, és forte porque sabes que tens de fugir dessa situação e corajoso
porque o fazes.
Talvez que uma das melhores ilustrações do
que atrás se descreve seja a cena que o Evangelho de São João[2]
nos descreve a propósito das negações de Pedro no átrio da casa de Caifás onde
Jesus está a ser interrogado logo a seguir à Sua prisão.
A
fortaleza do carácter de Pedro leva-o a constatar a enorme falta que acaba de
cometer.
Por
três vezes negar conhecer Jesus e, uma delas, com juramento e que, na situação
em que se encontra, corre o risco de voltar a fazê-lo.
A
seguir tem a coragem necessária para sair dali, sem deixar de avaliar as
consequências que tal atitude lhe poderia acarretar.
Teve
coragem de corrigir algo que a fortaleza lhe sugeria ser mau e perigoso: a continuar
no mesmo local estaria sujeito a novas traições.
Experimentar o que não se conhece bem talvez
envolva correr riscos desnecessários, ou, por outras palavras, pôr à prova a
nossa fortaleza não parece ser uma boa prática.
Não
se trata de ter medo ou receio, mas, simplesmente, evitar situações, ambientes
ou reacções que podem conduzir a um fim inconveniente.
(Não sei se morro ao atirar-me da janela de
um sétimo andar para a rua, mas não estou disposto a experimentar. Isto não é
falta de fortaleza mas bom senso.)
Dissemos que a fortaleza se pode classificar
como uma virtude mas que, realmente, é um dom.
Porquê?
Porque
necessidade uma decisiva acção do Espírito Santo para que possa ser adquirida.
É
que se trata de uma disposição íntima da própria vontade, que actua
principalmente no foro íntimo das escolhas, decisões e atitudes.
Claro
que a fortaleza se apoia na fidelidade, na justiça e no respeito.
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