03/12/2020

LEITURA ESPIRITUAL Dez 03

Evangelho

 

Mt III, 1 – 17; IV, 1 - 11

 

Pregação de João Baptista

 

1 Naqueles dias, apareceu João, o Baptista, a pregar no deserto da Judeia. 2 Dizia: «Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu.» 3 Foi deste que falou o profeta Isaías, quando disse: Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. 4 João trazia um traje de pêlos de camelo e um cinto de couro à volta da cintura; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. 5 Iam ter com ele os de Jerusalém, os de toda a Judeia e os da região do Jordão, 6 e eram por ele baptizados no Jordão, confessando os seus pecados. 7 Vendo, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao seu baptismo, disse-lhes: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para vir? 8 Produzi, pois, frutos dignos de conversão 9 e não vos iludais a vós mesmos, dizendo: ‘Temos por pai a Abraão!’ Pois, digo-vos: Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão. 10 O machado já está posto à raiz das árvores, e toda a árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo. 11 Eu baptizo-vos com água, para vos mover à conversão; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu e não sou digno de lhe descalçar as sandálias. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo. 12 Tem na sua mão a pá de joeirar; limpará a sua eira e recolherá o trigo no celeiro, mas queimará a palha num fogo inextinguível.»

 

Baptismo de Jesus

 

13 Então, veio Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser baptizado por ele. 14 João opunha-se, dizendo: «Eu é que tenho necessidade de ser baptizado por ti, e Tu vens a mim?» 15 Jesus, porém, respondeu-lhe: «Deixa por agora. Convém que cumpramos assim toda a justiça.» João, então, concordou. 16 Uma vez baptizado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. 17 E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado.»

 

Tentações de Jesus

 

1 Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. 2 Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. 3 O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães.» 4 Respondeu-lhe Jesus: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.» 5 Então, o diabo conduziu-o à cidade santa e, colocando-o sobre o pináculo do templo, 6 disse-lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: Dará a teu respeito ordens aos seus anjos; eles suster-te-ão nas suas mãos para que os teus pés não se firam nalguma pedra.» 7 Disse-lhe Jesus: «Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!» 8 Em seguida, o diabo conduziu-o a um monte muito alto e, mostrando-lhe todos os reinos do mundo com a sua glória, 9 disse-lhe: «Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.» 10 Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.» 11 Então, o diabo deixou-o e chegaram os anjos e serviram-no.

 

 


 

                    JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR

 

 Iniciação à Cristologia

 

Capítulo V

 

CRISTO ENQUANTO HOMEM CHEIO DE GRAÇA E DE VERDADE

     Como é Cristo enquanto homem? Já dissemos que é perfeito homem e tem uma natureza humana íntegra à qual não falta nada do que é propriamente humano, já que na Encarnação «a natureza humana foi assumida, não absorvida»[1].

    Agora estudaremos as diferentes faculdades e qualidades humanas de Jesus Cristo. Não examinaremos as propriedades da sua natureza divina que se estudam noutro tratado. Concretamente, consideraremos neste capítulo a graça e santidade de Cristo assim também o seu conhecimento humano, e no capítulo seguinte veremos outros traços que completam a sua humanidade perfeita: a sua vontade livre, a sua afectividade, etc.

     1. Qualidades da humanidade de Cristo para ser o instrumento do Verbo na obra da nossa salvação

     Já sabemos que o Filho de Deus se encarnou para ser, como homem, a causa da nossa salvação; por isso a sua humanidade deve ser o instrumento, indissoluvelmente unido ao Verbo, adequado para a obra salvífica.

    E trata-se de um instrumento vivo e racional, não inerte ou passivo, que simplesmente fosse movido pelo agente principal, mas que tem a sua acção própria. Por isso Cristo na sua humanidade tem aquelas qualidades que são convenientes para a finalidade da Encarnação: p. Ex. para comunicar-nos a verdade e a graça divinas pelas quais nos salvamos, está dotado de todas essas qualidades, está «cheio de graça e de verdade» (Jo 1,14), já que «da sua plenitude todos recebemos» (Jo 1,16).

    Além do mais, temos de considerar que essas propriedades da sua natureza humana procedem da sua união coma divindade, pois Deus é a fonte de todo o bem e a perfeição duma criatura depende da sua união com Deus. E quanto mais unido se está com deus, mais se participa da sua bondade e mais abundantes bens se recebem, assim como quanto mais alguém se aproxima do fogo mais se aquece. Pois bem, não há uma união mais íntima da criatura com Deus que a união na própria pessoa divina, daí que Cristo na sua humanidade esteja cheio dos dons divinos: é um homem natural e sobrenaturalmente perfeito.

    Assim como o Filho de Deus feito homem tem aquelas qualidades naturais e sobrenaturais que são convenientes para a nossa salvação, por essa mesma razão não assumiu com a natureza humana aqueles mesmos defeitos ou limitações que dificultariam a obra salvífica, tais como o pecado ou a ignorância. Ainda que tenha assumido aquelas limitações da nossa natureza que servem a finalidade da Encarnação e que não são defeito moral e não desdizem da sua condição, tais como a passibilidade e a dor.


 

Vicente Ferrer Barriendos

 

(Tradução do castelhano por ama)

 



[1] GS, 22,2; Cf. CCE, 470.

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