DO
PAPA FRANCISCO
POR
OCASIÃO DO 150º ANIVERSÁRIO DA DECLARAÇÃO DE SÃO JOSÉ COMO PADROEIRO UNIVERSAL
DA IGREJA
2. Pai na ternura
Dia após dia, José via Jesus
crescer «em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (Lc
2, 52). Como o Senhor fez com Israel, assim ele ensinou Jesus a andar,
segurando-O pela mão: era para Ele como o pai que levanta o filho contra o seu
rosto, inclinava-se para Ele a fim de Lhe dar de comer (cf. Os 11, 3-4).
Jesus viu a ternura de Deus
em José: «Como um pai se compadece dos filhos, assim o Senhor Se compadece dos
que O temem» (Sal 103, 13).
Com certeza, José terá
ouvido ressoar na sinagoga, durante a oração dos Salmos, que o Deus de Israel é
um Deus de ternura,[11] que é bom para com todos e «a sua ternura repassa todas
as suas obras» (Sal 145, 9).
A história da salvação
realiza-se, «na esperança para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18),
através das nossas fraquezas. Muitas vezes pensamos que Deus conta apenas com a
nossa parte boa e vitoriosa, quando, na verdade, a maior parte dos seus
desígnios se cumpre através e apesar da nossa fraqueza. Isto mesmo permite a
São Paulo dizer: «Para que não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho
na carne, um anjo de Satanás, para me ferir, a fim de que não me orgulhasse. A
esse respeito, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Mas Ele
respondeu-me: “Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na
fraqueza”» (2 Cor 12, 7-9).
Se esta é a perspetiva da
economia da salvação, devemos aprender a aceitar, com profunda ternura, a nossa
fraqueza.[12]
O Maligno faz-nos olhar para
a nossa fragilidade com um juízo negativo, ao passo que o Espírito trá-la à luz
com ternura. A ternura é a melhor forma para tocar o que há de frágil em nós.
Muitas vezes o dedo em riste e o juízo que fazemos a respeito dos outros são
sinal da incapacidade de acolher dentro de nós mesmos a nossa própria fraqueza,
a nossa fragilidade. Só a ternura nos salvará da obra do Acusador (cf. Ap 12,
10). Por isso, é importante encontrar a Misericórdia de Deus, especialmente no
sacramento da Reconciliação, fazendo uma experiência de verdade e ternura.
Paradoxalmente, também o Maligno pode dizer-nos a verdade, mas, se o faz, é
para nos condenar. Entretanto nós sabemos que a Verdade vinda de Deus não nos
condena, mas acolhe-nos, abraça-nos, ampara-nos, perdoa-nos. A Verdade
apresenta-se-nos sempre como o Pai misericordioso da parábola (cf. Lc 15,
11-32): vem ao nosso encontro, devolve-nos a dignidade, levanta-nos, ordena uma
festa para nós, dando como motivo que «este meu filho estava morto e reviveu,
estava perdido e foi encontrado» (Lc 15, 24).
A vontade de Deus, a sua
história e o seu projeto passam também através da angústia de José. Assim ele
ensina-nos que ter fé em Deus inclui também acreditar que Ele pode intervir
inclusive através dos nossos medos, das nossas fragilidades, da nossa fraqueza.
E ensina-nos que, no meio das tempestades da vida, não devemos ter medo de
deixar a Deus o timão da nossa barca. Por vezes queremos controlar tudo, mas o
olhar d’Ele vê sempre mais longe.
Francisco
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