Evangelho
Jo 7, 25-53
Origens de Cristo
25 Então, alguns de Jerusalém comentavam: ‘Não é este a
quem procuravam, para o matar? 26 Vede como Ele fala livremente e ninguém lhe
diz nada! Será que realmente as autoridades se convenceram de que Ele é o
Messias? 27 Mas nós sabemos donde Ele é, ao passo que, quando chegar o Messias,
ninguém saberá donde vem. 28 Entretanto, Jesus, ensinando no templo, bradava:
Então sabeis quem Eu sou e sabeis donde venho?! Pois Eu não venho de mim mesmo;
há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. 29 Eu é que o
conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou. 30 Procuravam, então,
prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão, pois a sua hora ainda não tinha
chegado. 31 Porém, dentre o povo, muitos creram nele e comentavam: ‘Quando vier
o Messias, será que há-de realizar mais sinais miraculosos do que este?’ 32 Tal
comentário do povo a respeito dele chegou aos ouvidos dos fariseus. Então, os sumos
sacerdotes e os fariseus mandaram guardas para prenderem Jesus. 33 Entretanto,
Jesus começou a dizer: Já pouco tempo vou ficar convosco, pois irei para aquele
que me enviou. 34 Haveis de procurar-me, mas não me encontrareis, e não
podereis ir para o lugar onde Eu estiver. 35 Os judeus, por isso, disseram
entre si: ‘Para onde tenciona Ele ir, que não o possamos encontrar? Tenciona ir
até aos que estão dispersos entre os gregos para pregar aos gregos? 36 Que
significam estas palavras que Ele disse: Haveis de procurar-me, mas não me
encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu estiver?’
Jesus ensina no último dia da festa
37 No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé,
bradou: Se alguém tem sede, venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua
sede! 38 Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de água viva.
39 Ora Ele disse isto, referindo-se ao Espírito que iam receber os que nele
acreditassem; com efeito, ainda não tinham o Espírito, porque Jesus ainda não
tinha sido glorificado. 40 Então, entre a multidão de pessoas que escutaram
estas palavras, dizia-se: ‘Ele é realmente o Profeta.’ 41 Diziam outros: ‘É o
Messias.’ Outros, porém, replicavam: ‘Mas pode lá ser que o Messias venha da
Galileia?! 42 Não diz a Escritura que o Messias vem da descendência de David e
da cidade de Belém, donde era David? 43 Deste modo, estabeleceu-se um desacordo
entre a multidão, por sua causa. 44 Alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém
lhe deitou a mão. 45 Depois os guardas voltaram aos sumos sacerdotes e aos
fariseus, que lhes perguntaram: ‘Porque é que não o trouxestes?’ 46 Os guardas
responderam: ‘Nunca nenhum homem falou assim!’ 47 Replicaram-lhes os fariseus: ‘Será
que também vós ficastes seduzidos? 48Po rventura acreditou nele algum dos chefes,
ou dos fariseus? 49 Mas essa multidão, que não conhece a Lei, é gente maldita!’
Nicodemos defende Jesus
50 Nicodemos, aquele que antes fora ter com Jesus e que
era um deles, disse-lhes: 51 ‘Porventura permite a nossa Lei julgar um homem,
sem antes o ouvir e sem averiguar o que ele anda a fazer?’ 52 Responderam-lhe
eles: ‘Também tu és galileu? Investiga e verás que da Galileia não sairá nenhum
profeta.’ 53 E cada um foi para sua casa.
Cristo que passa
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No meio das limitações
inseparáveis da nossa situação presente, porque o pecado ainda habita em nós de
algum modo, o cristão vê com nova clareza toda a riqueza da sua filiação
divina, quando se reconhece plenamente livre porque trabalha nas coisas do seu
Pai, quando a sua alegria se torna constante por nada ser capaz de lhe destruir
a esperança.
Pois é também nesse momento
que é capaz de admirar todas as belezas e maravilhas da Terra, de apreciar toda
a riqueza e toda a bondade, de amar com a inteireza e a pureza para que foi
criado o coração humano.
Também é nessa altura que a
dor perante o pecado não degenera num gesto amargo, desesperado ou altivo
porque a compunção e o conhecimento da fraqueza humana conduzem-no a
identificar-se outra vez com as ânsias redentoras de Cristo e a sentir mais
profundamente a solidariedade com todos os homens.
É então, finalmente, que o
cristão experimenta em si com segurança a força do Espírito Santo, de tal
maneira que as suas quedas pessoais não o abatem; são um convite a recomeçar e
a continuar a ser testemunha fiel de Cristo em todas as encruzilhadas da Terra,
apesar das misérias pessoais, que nestes casos costumam ser faltas leves, que
apenas turvam a alma; e, ainda que fossem graves, acudindo ao Sacramento da
Penitência com compunção, volta-se à paz de Deus e a ser de novo uma boa
testemunha das suas misericórdias.
Tal é, em breve resumo que
mal consegue traduzir em pobres palavras humanas a riqueza da fé, a vida do
cristão, quando se deixa guiar pelo Espírito Santo.
Não posso, portanto,
terminar melhor do que fazendo minha a súplica que se contém num dos hinos
litúrgicos da festa de Pentecostes, que é como um eco da oração incessante da
Igreja inteira: Vem, Espírito Criador, visita as inteligências dos teus, enche
de graça celeste os corações que criaste. Na tua escola, faz-nos conhecer o Pai
e também o Filho; faz, enfim, com que acreditemos eternamente em Ti, Espírito
que procedes de Um e do Outro.
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Um olhar pelo mundo, um
olhar sobre o Povo de Deus neste mês de Maio que começa, faz-nos contemplar o
espectáculo da devoção mariana manifestada em tantos costumes, antigos ou
novos, mas sempre vividos com um mesmo espírito de amor.
Dá alegria verificar que a
devoção à Virgem está sempre viva, despertando nas almas cristãs um impulso
sobrenatural para se comportarem como domestici
Dei, como membros da família de Deus.
Nestes dias, vendo como
tantos cristãos exprimem dos mais diversos modos o seu carinho à Virgem Santa
Maria, também vós certamente vos sentis mais dentro da Igreja, mais irmãos de
todos esses vossos irmãos.
É uma espécie de reunião de
família, como quando os irmãos que a vida separou voltam a encontrar-se junto
da Mãe, por ocasião de alguma festa.
Ainda que alguma vez tenham
discutido uns com os outros e se tenham tratado mal, naquele dia não; naquele
dia sentem-se unidos, reencontram-se unidos, reencontram-se todos no afecto
comum.
Maria, na verdade, edifica
continuamente a Igreja, reúne-a, mantém-na coesa.
É difícil ter autêntica
devoção à Virgem sem nos sentirmos mais vinculados aos outros membros do Corpo
Místico e também mais unidos à sua cabeça visível, o Papa.
Por isso me agrada repetir: Omnes cum Petro ad Iesum per Mariam! -
todos, com Pedro, a Jesus, por Maria!
E assim, ao reconhecer-nos
como parte da Igreja e convidados a sentir-nos irmãos na Fé, descobrimos mais
profundamente a fraternidade que nos une à Humanidade inteira, porque a Igreja
foi enviada por Cristo a todos os homens e a todos os povos.
O que acabo de dizer, todos
nós o experimentamos, pois não nos têm faltado ocasiões de comprovar os efeitos
sobrenaturais de uma sincera devoção à Virgem.
Cada um de vós podia contar
muitas coisas a esse propósito.
E eu também. Vem-me agora à
memória uma romaria que fiz em 1935 a uma ermida da Virgem em terra castelhana
- a Sonsoles.
Não era uma romaria no
sentido habitual.
Não era ruidosa nem
multitudinária. Íamos apenas três.
Respeito e estimo essas
outras manifestações públicas de piedade, mas, pessoalmente, prefiro tentar
oferecer a Maria o mesmo carinho e o mesmo entusiasmo por meio de visitas
pessoais, ou em pequenos grupos, com intimidade.
Naquela romaria a Sonsoles,
conheci a origem desta invocação da Virgem - pormenor sem grande importância,
mas que é uma manifestação filial da gente daquela terra.
A imagem de Nossa Senhora
que se venera naquele lugar esteve escondida durante algum tempo, na época das
lutas entre cristãos e muçulmanos em Espanha.
Ao cabo de alguns anos, a
imagem foi encontrada por uns pastores, que, segundo conta a tradição,
exclamaram, ao vê-la: “Que lindos olhos! São sóis!” *
*
(N. do T.) Em castelhano, "son soles"
140
Mãe de Cristo, Mãe dos
Cristãos
Desde esse ano de 1935, em
numerosas e habituais visitas a santuários de Nossa Senhora, tenho tido
ocasiões de reflectir e de meditar sobre esta realidade - a do carinho de
tantos cristãos pela Mãe de Jesus.
E sempre pensei que esse
carinho é uma correspondência de amor, uma prova de gratidão filial. Porque
Maria está bem unida à maior manifestação de amor de Deus, a Encarnação do
Verbo, que se fez homem como nós e carregou com as nossas misérias e pecados.
Maria, fiel à missão divina para que foi criada entregou-se e entrega-se
continuamente em serviço dos homens, chamados todos eles a serem irmãos do seu
Filho Jesus.
E assim a Mãe de Deus é
realmente agora a Mãe dos homens também.
Assim é, porque assim o quis
o Senhor. E o Espírito Santo dispôs que ficasse escrito, para ser manifesto a
todas as gerações: Estavam, junto à Cruz de Jesus, sua Mãe, e a irmã de sua
Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria de Magdala.
Ao ver sua Mãe e, junto
dela, o discípulo que Ele amava, Jesus disse a sua Mãe: Mulher, eis aí o teu
filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua Mãe. E, desde aquela hora, o
discípulo recebeu-a em sua casa.
João, o discípulo amado de
Jesus, recebe Maria e introdu-la em sua casa, na sua vida.
Os autores espirituais viram
nestas palavras do Santo Evangelho um convite dirigido a todos os cristãos para
que Maria entre também nas suas vidas.
Em certo sentido, é quase
supérfluo este esclarecimento. Maria quer, certamente, que a invoquemos, que
nos aproximemos d'Ela com confiança, que apelemos para a sua maternidade, pedindo-lhe
que se manifeste como nossa Mãe.
Mas é uma Mãe que não se faz
rogar, que se adianta, inclusivamente, às nossas súplicas, pois conhece as
necessidades e vem prontamente em nossa ajuda, demonstrando com obras que se
lembra constantemente dois seus filhos.
Cada um de nós, evocando a
sua própria vida e vendo como nela se manifesta a misericórdia de Deus, pode
descobrir mil motivos para se sentir, de modo especial, filho de Maria.
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Os textos da Sagrada
Escritura que nos falam de Nossa Senhora fazem-nos ver precisamente como a Mãe
de Jesus acompanha o seu Filho passo a passo, associando-se à Sua missão
redentora, alegrando-se e sofrendo com Ele, amando aqueles que Jesus ama,
ocupando-se com maternal solicitude de todos os que estão a Seu lado.
Pensemos, por exemplo, no
relato das bodas de Caná.
Entre tantos convidados de
uma ruidosa boda rural, a que vêm pessoas de muitos lugares, Maria dá pela
falta de vinho.
Repara nisso imediatamente -
e só Ela.
Que familiares se nos apresentam
as cenas da vida de Cristo!
Porque a grandeza de Deus
convive com o humano - com o normal e corrente.
Realmente, é próprio de uma
mulher, de uma atenta dona de casa, reparar num descuido, estar presente nesses
pequenos pormenores que tomam agradável a existência humana; e assim aconteceu
com Maria.
Reparai também que é João
quem narra o episódio de Caná.
É ele o único evangelista
que recolhe este gesto de solicitude maternal.
São João quer lembrar-vos
que Maria esteve presente no começo da vida pública do Senhor.
Isto demonstra que soube
aprofundar a importância dessa presença de Nossa Senhora. Jesus sabia a quem
confiava a Sua Mãe: a um discípulo que a tinha amado, que tinha aprendido a
querer-lhe como à sua própria mãe e que era capaz de entendê-la.
Pensemos agora nos dias que
se seguiram à Ascensão, à espera do Pentecostes.
Os discípulos cheios de fé
pelo triunfo de Cristo ressuscitado (e ansiosos pelo Espírito Santo prometido),
querem sentir-se unidos, e encontramo-los cum Maria Matre Iesu, com Maria, Mãe de Jesus.
A oração dos discípulos
acompanha a oração de Maria: era a oração de uma família unida.
Desta vez é São Lucas, - o
evangelista que narrou com mais extensão a infância de Jesus, quem nos
transmite este novo dado.
Como se desejasse dar-nos a
entender que, assim como Maria teve um papel de primeira importância na
Encarnação do Verbo, de modo análogo também esteve presente nas origens da
Igreja, que é o Corpo de Cristo.
Desde o primeiro momento da
vida da Igreja, todos os cristãos que procuraram o amor de Deus - esse amor que
se nos revela e se faz carne em Jesus Cristo - se encontraram com a Virgem e
experimentaram de muito diversas maneiras o seu desvelo maternal.
A Virgem Santíssima pode
chamar-se com verdade Mãe de todos os cristãos.
Santo Agostinho dizia-o com
palavras claras: “Cooperou com a sua caridade para que nascessem na Igreja
os fiéis, membros daquela cabeça, de que é efectivamente Mãe segundo o corpo”.
Não é, pois, estranho que um
dos testemunhos mais antigos da devoção a Maria seja precisamente uma oração
cheia de confiança. Refiro-me àquela antífona, composta há séculos, que
continuamos a repetir hoje em dia: “À vossa protecção nos acolhemos, Santa
Mãe de Deus. Não desprezeis as súplicas que em nossas necessidades vos
dirigimos, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e
bendita”.
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