MISTÉRIOS DOLOROSOS
Segundo Mistério
Flagelação de Jesus
Amarrado
a uma coluna, o meu Senhor está ali, estremecendo a cada golpe dos algozes que
se revezam.
Cada
vergastada é um suplício.
Os pedaços de osso de
carneiro que pendem das extremidades das finas tiras de couro, enegrecidas de
sangue antigo, causam dores indescritíveis, vergões e ferimentos profundos,
arrancam a pele e pedaços de carne e rasgam os músculos.
A experiência dos algozes
atinge os locais mais sensíveis e, talvez mais acicatados pelo silêncio deste
Homem, a quem o suplício não arranca um queixume, redobram de energia e os
golpes caiem, rápidos, fortíssimos, procurando com maquiavélica destreza
provocar o maior sofrimento possível.
Mas
é em vão.
Apenas
um som abafado sai da garganta ressequida de Jesus. É um estertor involuntário
que a violência do castigo provoca.
Eu,
escondido num vão, não intervenho. Estou atónito e assustado com o que vejo. É
uma cena de uma brutal e inaudita ferocidade.
Não
me julgo capaz de Te provocar tal suplício... Quem? Eu? Oh Senhor! Eu não..., eu amo-Te com todas as minhas
forças, nunca seria capaz de tal coisa.
E, no entanto, as minhas
frequentes faltas e pecados o que são, senão chicotadas na Tua carne santa?
Acabou
o terrível suplício.
Solto
da coluna imunda à qual Te ataram cais por terra, desfalecido, meio morto.
Eu,
caio também de joelhos e peço-Te perdão.
Perdão pela minha cobardia,
pela minha pouca fé, a minha tibieza, pela minha falta de carácter.
E
tu, minha Mãe, que no exterior, com o coração angustiado, aguardas o fim do
suplício que infligem ao teu Filho, tu, Senhora de Dores, acolhe-me junto de ti
e sossega o meu espírito.
Diz-me que jamais, jamais
consentirás que eu me converta em carrasco, algoz, do teu Divino Filho.
Afiança-me que a tua
confiança de filha de Deus Pai, ajudará a minha pouca fé.
Persuade-me que a tua
certeza de Mãe de Deus Filho, aumentará a minha esperança.
Garante-me que o teu amor de
Esposa do Espírito Santo, suprirá a minha falta de caridade.
Incute no meu espírito o
desejo de estar com Jesus, nesta hora solene, em que o Rei do Reis, o Senhor
dos Senhores, está amarrado como um malfeitor, recebendo um castigo duríssimo
que não mereceu.
A interpor-me entre os
carrascos e o teu Filho, aparando os golpes.
A limpar os vergões e as
feridas da Sua carne.
Por um bálsamo, lavar o
sangue, limpar as feridas.
Permite-me
querer ficar com Ele, ofegante de emoção, amarrado também a essa coluna,
partilhando o possível da Sua Flagelação.
Que,
como Ele, se preciso for, saiba sofrer em silêncio recolhido e consciente de
que, se sofro é porque o Senhor entende dar-me uma oportunidade para
reconsiderar e cair em mim, reconsiderar, emendar o que for errado, corrigir o
que não estiver correcto. O sofrimento – qual for – é cautério de feridas e
mazelas que os pecados e faltas provocam, de cicatrizes que o arrependimento
incompleto ou com defeito deixa na alma e, seguramente, também, um como que
edurecimento da nossa vontade, do nosso carácter, o que nos ajudará a combater
a nossa vontade volúvel, o nosso ânimo enfraquecido pelas contínuas cedências
aos caprichos de momento, a nossa determinação sempre em “descanço” e “análise”
de conveniência e oportunidade.
Ele,
não quer, não deseja que eu – nenhum dos Seus filhos – sofra, e por isso mesmo,
oferece o Seu próprio sofrimento por nós, mas, neste oferecimento, há tambem
uma lição: a oferta pelos outros, pela remissão dos pecados dos homens – todos
os homens – os que anda vivem e, também pelos que já partiram e aguardam no
Purgatório a suprema felicidade de contemplar a Face do Pai.
Sim,
o sofrimento pessoal, pequeno ou grande, pode – e deve – ser uma excelente
ocasião de merecer pelas Almas do Purgatório.
Um
dia, saberemos como a Justiça Divina, “aplicou” essas “ofertas” em benefício dessas
almas santas e, então, constataremos como foi “útil” e bom essa nossa dedicação.
Além
do mais, é muito conveniente quanto possamos fazer pelas Almas do Purgatório
porque, uma vez no Céu, não deixarão de interceder por nós junto de Deus para
que nos ajude e nos salve.
Seremos
“credores” de bens inestimáveis; é, o que, em palavras humanas, se pode
considerar: um bom investimento!
(AMA,
Santo Rosário, 1999)
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