07/10/2020

Outubro - Mês do Rosário




MISTÉRIOS DOLOROSOS

Segundo Mistério


Flagelação de Jesus


Amarrado a uma coluna, o meu Senhor está ali, estremecendo a cada golpe dos algozes que se revezam.
Cada vergastada é um suplício.
Os pedaços de osso de carneiro que pendem das extremidades das finas tiras de couro, enegrecidas de sangue antigo, causam dores indescritíveis, vergões e ferimentos profundos, arrancam a pele e pedaços de carne e rasgam os músculos.
A experiência dos algozes atinge os locais mais sensíveis e, talvez mais acicatados pelo silêncio deste Homem, a quem o suplício não arranca um queixume, redobram de energia e os golpes caiem, rápidos, fortíssimos, procurando com maquiavélica destreza provocar o maior sofrimento possível.

Mas é em vão.
Apenas um som abafado sai da garganta ressequida de Jesus. É um estertor involuntário que a violência do castigo provoca.

Eu, escondido num vão, não intervenho. Estou atónito e assustado com o que vejo. É uma cena de uma brutal e inaudita ferocidade.
Não me julgo capaz de Te provocar tal suplício... Quem? Eu? Oh Senhor!  Eu não..., eu amo-Te com todas as minhas forças, nunca seria capaz de tal coisa.
E, no entanto, as minhas frequentes faltas e pecados o que são, senão chicotadas na Tua carne santa?

Acabou o terrível suplício.
Solto da coluna imunda à qual Te ataram cais por terra, desfalecido, meio morto.
Eu, caio também de joelhos e peço-Te perdão.
Perdão pela minha cobardia, pela minha pouca fé, a minha tibieza, pela minha falta de carácter.
E tu, minha Mãe, que no exterior, com o coração angustiado, aguardas o fim do suplício que infligem ao teu Filho, tu, Senhora de Dores, acolhe-me junto de ti e sossega o meu espírito.
Diz-me que jamais, jamais consentirás que eu me converta em carrasco, algoz, do teu Divino Filho.
Afiança-me que a tua confiança de filha de Deus Pai, ajudará a minha pouca fé.
Persuade-me que a tua certeza de Mãe de Deus Filho, aumentará a minha esperança.
Garante-me que o teu amor de Esposa do Espírito Santo, suprirá a minha falta de caridade.
Incute no meu espírito o desejo de estar com Jesus, nesta hora solene, em que o Rei do Reis, o Senhor dos Senhores, está amarrado como um malfeitor, recebendo um castigo duríssimo que não mereceu.
A interpor-me entre os carrascos e o teu Filho, aparando os golpes.
A limpar os vergões e as feridas da Sua carne.
Por um bálsamo, lavar o sangue, limpar as feridas.
Permite-me querer ficar com Ele, ofegante de emoção, amarrado também a essa coluna, partilhando o possível da Sua Flagelação.

Que, como Ele, se preciso for, saiba sofrer em silêncio recolhido e consciente de que, se sofro é porque o Senhor entende dar-me uma oportunidade para reconsiderar e cair em mim, reconsiderar, emendar o que for errado, corrigir o que não estiver correcto. O sofrimento – qual for – é cautério de feridas e mazelas que os pecados e faltas provocam, de cicatrizes que o arrependimento incompleto ou com defeito deixa na alma e, seguramente, também, um como que edurecimento da nossa vontade, do nosso carácter, o que nos ajudará a combater a nossa vontade volúvel, o nosso ânimo enfraquecido pelas contínuas cedências aos caprichos de momento, a nossa determinação sempre em “descanço” e “análise” de conveniência e oportunidade.

Ele, não quer, não deseja que eu – nenhum dos Seus filhos – sofra, e por isso mesmo, oferece o Seu próprio sofrimento por nós, mas, neste oferecimento, há tambem uma lição: a oferta pelos outros, pela remissão dos pecados dos homens – todos os homens – os que anda vivem e, também pelos que já partiram e aguardam no Purgatório a suprema felicidade de contemplar a Face do Pai.

Sim, o sofrimento pessoal, pequeno ou grande, pode – e deve – ser uma excelente ocasião de merecer pelas Almas do Purgatório.

Um dia, saberemos como a Justiça Divina, “aplicou” essas “ofertas” em benefício dessas almas santas e, então, constataremos como foi “útil” e bom essa nossa dedicação.

Além do mais, é muito conveniente quanto possamos fazer pelas Almas do Purgatório porque, uma vez no Céu, não deixarão de interceder por nós junto de Deus para que nos ajude e nos salve.

Seremos “credores” de bens inestimáveis; é, o que, em palavras humanas, se pode considerar: um bom investimento!


(AMA, Santo Rosário, 1999)




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