18/10/2020

Leitura espiritual Outubro 18

 

                                                       

Cartas de São Paulo

 

1.ª Timóteo 4

 

Os falsos mestres –

1 O Espírito diz abertamente que, nos últimos tempos, alguns hão-de apostatar da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas diabólicas, 2 seduzidos pela hipocrisia de mentirosos, cuja consciência foi marcada com ferro em brasa. 3 Proibirão o casamento e o uso de alimentos, que Deus criou para serem consumidos em acção de graças, pelos que têm fé e conhecem a verdade. 4 Pois tudo o que Deus criou é bom e nada deve ser rejeitado, quando tomado com acção de graças. 5 Com efeito, tudo é santificado pela palavra de Deus e pela oração.

 

Modelo dos fiéis –

6 Expondo estas coisas aos irmãos, serás um bom servo de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tão diligentemente tens seguido. 7 Mas rejeita as fábulas ímpias, coisa de comadres. Exercita-te na piedade. 8 O exercício físico de pouco serve, mas a piedade é útil para tudo, pois tem a promessa da vida presente e da futura. 9 É digna de fé e de toda a aceitação esta palavra. 10 Pois se nós trabalhamos e lutamos, é porque pomos a nossa esperança no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, sobretudo dos que crêem. 11 Eis o que deves proclamar e ensinar. 12 Ninguém escarneça da tua juventude; antes, sê modelo dos fiéis, na palavra, na conduta, no amor, na fé, na castidade. 13 Enquanto aguardas a minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. 14 Não descures o carisma que está em ti, e que te foi dado através de uma profecia, com a imposição das mãos dos presbíteros. 15 Toma a peito estas coisas e persevera nelas, a fim de que o teu progresso seja manifesto a todos. 16 Cuida de ti mesmo e da doutrina, persevera nestas coisas, porque, agindo assim, salvar-te-ás a ti mesmo e aos que te ouvirem.

 

 

Cristo que passa

 

56

          

José foi, no aspecto humano, mestre de Jesus; conviveu com Ele diariamente, com carinho delicado, e cuidou dele com abnegação alegre. Não será esta uma boa razão para considerarmos este varão justo, este Santo Patriarca, no qual culmina a Fé da Antiga Aliança, Mestre de vida interior?

A vida interior não é outra coisa senão o convívio assíduo e intimo com Cristo, para nos identificarmos com Ele.

E José saberá dizer-nos muitas coisas sobre Jesus.

Por isso, não deixeis nunca de conviver com ele; ite ad Joseph, como diz a tradição cristã com uma frase tomada do Antigo Testamento.

 

Mestre da vida interior, trabalhador empenhado no seu trabalho, servidor fiel de Deus em relação contínua com Jesus: este é José.

Ite ad Joseph.

Com São José o cristão aprende o que é ser Deus e estar plenamente entre os homens, santificando o mundo.

Ide a José e encontrareis Jesus. Ide a José e encontrareis Maria, que encheu sempre de paz a amável oficina de Nazaré.

 

57

          

Entramos no tempo da Quaresma: tempo de penitência, de purificação, de conversão.

Não é fácil tarefa.

O cristianismo não é um caminho cómodo; não basta estar na Igreja e deixar que os anos passem.

Na nossa vida, na vida dos cristãos, a primeira conversão - esse momento único, que cada um de nós recorda, em que advertimos claramente tudo o que o Senhor nos pede - é importante; mas ainda mais importantes e mais difíceis são as conversões sucessivas.

É preciso manter a alma jovem, invocar o Senhor, saber ouvir, descobrir o que corre mal, pedir perdão, para facilitarmos o trabalho da graça divina nessas sucessivas conversões.

 

Invocabit me et ego exaudiam eum, lemos na liturgia deste Domingo: Se me chamardes, Eu vos escutarei, diz o Senhor.

Reparai nesta maravilha que é o cuidado que Deus tem por nós, sempre disposto a ouvir-nos, atento em cada momento à palavra do homem.

Em qualquer altura - mas agora de modo especial, porque o nosso coração está bem disposto, decidido a purificar-se - Ele nos ouve e não deixará de atender ao que Lhe pede um coração contrito e humilhado.

 

O Senhor ouve-nos para intervir, para Se meter na nossa vida, para nos livrar do mal e encher-nos de bem: eripiam eum et glorificabo eum, Eu o livrarei e o glorificarei, diz do homem.

Portanto: esperança do Céu.

E aqui temos, como doutras vezes, o começo desse movimento interior que é a vida espiritual.

A esperança da glorificação acentua a nossa fé e estimula a nossa caridade. E, deste modo, as três virtudes teologais - virtudes divinas que nos assemelham ao nosso Pai, Deus - põem-se em movimento.

 

Haverá melhor maneira de começar a Quaresma?

Renovamos a Fé, a Esperança, a Caridade. Esta é a fonte do espírito de penitência, do desejo de purificação.

A Quaresma não é apenas uma ocasião de intensificar as nossas práticas externas de mortificação; se pensássemos que era isso apenas, escapar-nos-ia o seu sentido profundo na vida cristã, porque esses actos externos são, repito, fruto da Fé, da Esperança e do Amor.

 

58

         

A arriscada segurança do Cristão

 

Qui habitat in adiutorio Altissimi in protectione Dei coelí commorabitur - Habitar sob a protecção de Deus, viver com Deus: eis a arriscada segurança do cristão.

É necessário convencermo-nos de que Deus nos ouve, de que está sempre solícito por nós, e assim se encherá de paz o nosso coração. Mas viver com Deus é indubitavelmente correr um risco, porque o Senhor não Se contenta compartilhando; quer tudo.

E aproximar-se d'Ele um pouco mais significa estar disposto a uma nova rectificação, a escutar mais atentamente as suas inspirações, os santos desejos que faz brotar na nossa alma, e a pô-los em prática.

 

Desde a nossa primeira decisão consciente de viver integralmente a doutrina de Cristo, é certo que avançámos muito pelo caminho da fidelidade à sua Palavra.

Mas não é verdade que restam ainda tantas coisas por fazer?

Não é verdade que resta, sobretudo, tanta soberba?

É precisa, sem dúvida, uma outra mudança, uma lealdade maior, uma humildade mais profunda, de modo, que, diminuindo o nosso egoísmo, cresça em nós Cristo, pois illum oportet crescere, me autem minui, é preciso que Ele cresça e que eu diminua.

 

Não é possível deixar-se ficar imóvel.

É necessário avançar para a meta que S. Paulo apontava: não sou eu quem vive; é Cristo que vive em mim.

A ambição é alta e nobilíssima: a identificação com Cristo, a santidade. Mas não há outro caminho, se se deseja ser coerente com a vida divina que, pelo Baptismo, Deus fez nascer nas nossas almas. O avanço é o progresso na santidade; o retrocesso é negar-se ao desenvolvimento normal da vida cristã.

Porque o fogo do amor de Deus precisa de ser alimentado, de aumentar todos os dias arreigando-se na alma; e o fogo mantém-se vivo queimando novas coisas.

Por isso, se não aumenta, está a caminho de se extinguir.

 

Recordai as palavras de Santo Agostinho: Se disseres basta, estás perdido. Procura sempre mais, caminha sempre, progride sempre. Não permaneças no mesmo sítio, não retrocedas, não te desvies.

 

A Quaresma coloca-nos agora perante estas perguntas fundamentais: Avanço na minha fidelidade a Cristo?

Em desejos de santidade?

Em generosidade apostólica na minha vida diária, no meu trabalho quotidiano entre os meus companheiros de profissão?

Cada um que responda a estas. perguntas, sem ruído de palavras, e verá como é necessária uma nova transformação para que Cristo viva em nós, para que a sua imagem se reflicta limpidamente na nossa conduta.

 

«Se alguém quer vir atrás de Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia, e siga-Me».

Cristo repete-o a cada um de nós, ao ouvido, intimamente: a Cruz de cada dia.

Não só - escreve São Jerónimo - em tempo de perseguição, ou quando se apresenta a possibilidade do martírio, mas em todas as situações, em todas as actividades, em todos os pensamentos, em todas as palavras, neguemos aquilo que antes éramos e confessemos o que agora somos, visto que renascemos em Cristo.

 

Estas considerações não são, afinal, senão o eco das do Apóstolo: Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Comportai-vos como filhos da luz, porque o fruto da luz consiste na bondade, na justiça e na verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor.

 

A conversão é coisa de um instante; a santificação é tarefa para toda a vida.

A semente divina da caridade, que Deus pôs nas nossas almas, aspira a crescer, a manifestar-se em obras, a dar frutos que correspondam em cada momento ao que é agradável ao Senhor.

Por isso, é indispensável estarmos dispostos a recomeçar, a reencontrar - nas novas situações da nossa vida - a luz, o impulso da primeira conversão.

E essa é a razão pela qual havemos de nos preparar com um exame profundo, pedindo ajuda ao Senhor para podermos conhecê-Lo melhor e conhecer-nos melhor a nós mesmos.

Não há outro caminho para nos convertermos de novo.

 

 

 

 



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