Cartas de São Paulo
1.ª
Timóteo 2
I.
ORGANIZAÇÃO ECLESIAL
A oração pública –
1
Recomendo, pois, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções
de graças por todos os homens, 2 pelos reis e por todos os que estão
constituídos em autoridade, a fim de que levemos uma vida serena e tranquila,
com toda a piedade e dignidade. 3 Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso
Salvador, 4 que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento
da verdade. 5 Pois, há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um
homem: Cristo Jesus, 6 que se entregou a si mesmo como resgate por todos. Tal é
o testemunho dado para os tempos estabelecidos. 7 Foi para isto que fui
constituído arauto e apóstolo - digo a verdade, não minto - mestre das nações,
na fé e na verdade.
Recomendações às mulheres –
8
Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, erguendo as mãos puras, sem
ira nem altercação. 9 Do mesmo modo, as mulheres usem trajes decentes,
adornem-se com pudor e modéstia, sem tranças, nem ouro, nem pérolas, ou
vestidos sumptuosos, 10 mas, como convém a mulheres que fazem profissão de
piedade, por meio de boas obras. 11 A mulher receba a instrução em silêncio,
com toda a submissão. 12 Não permito à mulher que ensine, nem que exerça
domínio sobre o homem, mas que se mantenha em silêncio. 13 Porque primeiro foi
formado Adão, depois Eva. 14 E não foi Adão que foi seduzido mas a mulher que,
deixando-se seduzir, incorreu na transgressão. 15 Contudo, será salva pela sua
maternidade, desde que persevere na fé, no amor e na santidade, com recato.
Cristo que passa
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Além disso, esse serviço
humano, essa capacidade a que poderíamos chamar técnica, saber realizar o nosso
ofício, deve ter uma característica que foi fundamental no trabalho de São José
e que devia ser fundamental em todo o cristão: o espírito de serviço, o desejo
de trabalhar para contribuir para o bem dos outros homens.
O trabalho de São José não
foi um trabalho que visasse a auto-afirmação, embora a dedicação de uma vida
laboriosa tenha forjado nele uma personalidade madura, bem delineada.
O Santo Patriarca trabalhava
com a consciência de cumprir a vontade de Deus, pensando no bem dos seus, Jesus
e Maria, e tendo presente o bem de todos os habitantes da pequena Nazaré.
Em Nazaré José era um dos
poucos artesãos da terra, se não era o único.
Possivelmente, carpinteiro.
E, como é costume nas
pequenas povoações, também era capaz de fazer outras coisas: pôr a funcionar um
moinho que não funcionava ou arranjar, antes do inverno, as fendas de um tecto.
José tirava muita gente de
apuros, certamente com um trabalho bem acabado.
O seu trabalho profissional
era uma ocupação orientada para o serviço, para tornar agradável a vida das
outras famílias da aldeia, acompanhada de um sorriso, de uma palavra amável, de
um comentário feito como que de passagem, mas que devolve a fé e a alegria a
quem está a ponto de perdê-las.
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Às vezes, quando se tratava
de pessoas mais pobres do que ele, José trabalharia aceitando alguma coisa de
pouco valor, que deixava a outra pessoa com a satisfação de pensar que tinha
pago.
Normalmente José cobraria o
que fosse razoável; nem mais nem menos.
Saberia exigir o que em
justiça lhe era devido, já que a fidelidade a Deus não significa renúncia a
direitos que na realidade são deveres; São José tinha de exigir o que era
justo, porque tinha de sustentar a família que Deus lhe tinha confiado, com a
recompensa desse trabalho.
A exigência dos nossos
direitos não deve ser fruto de um egoísmo individualista.
Não se ama a justiça se não
se deseja vê-la também cumprida para com os outros.
Como também não é lícito
encerrar-se numa religiosidade cómoda, esquecendo as necessidades dos outros.
Quem deseja ser justo aos
olhos de Deus também se esforça para que a justiça se realize de facto entre os
homens.
E não apenas pelo bom motivo
de que o nome de Deus não seja injuriado, mas porque ser cristão significa
captar e corresponder a todos os anseios nobres do homem.
Parafraseando um texto
conhecido, do Apóstolo S. João, pode-se dizer que mente quem afirma que é justo
com Deus mas não é justo com os outros homens; e a verdade não habita nele.
Como todos os cristãos que
viveram aquele momento, recebi com emoção e alegria a decisão de festejar a
festa litúrgica de São José Operário.
Esta festa, que é uma
canonização do valor divino do trabalho, mostra como a Igreja, na sua vida
colectiva e pública, se fez eco das verdades centrais do Evangelho, que Deus
quer que sejam especialmente meditadas nesta nossa época.
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Já falámos muito deste tema
noutras ocasiões, mas permiti-me insistir de novo na naturalidade e na
simplicidade da vida de São José, que não se distinguia da dos seus vizinhos
nem levantava barreiras desnecessárias.
Por isso, ainda que possa
ser conveniente nalguns momentos ou em algumas situações, habitualmente não
gosto de falar de operários católicos, de engenheiros católicos, de médicos
católicos, etc., como se se tratasse de uma espécie dentro dum género, como se
os católicos formassem um grupinho separado dos outros, dando assim a sensação
de que existe um fosso entre os cristãos e o resto da humanidade.
Respeito a opinião oposta,
mas penso que é muito mais correcto falar de operários que são católicos, ou de
católicos que são operários; de engenheiros que são católicos ou de católicos
que são engenheiros. Porque o homem que tem fé e exerce uma profissão
intelectual, técnica ou manual, está e sente-se unido aos outros, igual aos
outros, com os mesmos direitos e obrigações, com o mesmo desejo de melhorar,
com o mesmo empenho de se enfrentar com os problemas comuns e de lhes encontrar
a solução.
O católico, assumindo tudo
isto, saberá fazer da sua vida diária um testemunho de Fé, de Esperança e de
Caridade; testemunho simples, normal, sem necessidade de manifestações
aparatosas, pondo de manifesto - com a coerência da sua vida - a presença
constante da Igreja no mundo, visto que todos os católicos são, eles mesmos,
Igreja, pois são membros, com pleno direito, do único Povo de Deus.
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As relações entre José e
Jesus
Há bastante tempo que gosto
de recitar uma comovedora invocação a São José, que a própria Igreja nos
oferece entre as orações preparatória da Missa: José, varão bem-aventurado e
feliz, ao qual foi concedido ver e ouvir a Deus, a Quem muitos reis quiseram
ver e ouvir e não viram nem ouviram; e não só vê-Lo e ouvi-Lo mas trazê-Lo nos
braços, beijá-Lo, vesti-Lo e guardá-Lo: rogai por nós.
Esta oração servir-nos-á
para entrar no último tema que hoje vou tocar: a convivência íntima e carinhosa
de José com Jesus.
Para São José, a vida de
Jesus foi uma contínua descoberta da sua vocação.
Recordámos acima aqueles
primeiros anos cheios de circunstâncias aparentemente contraditórias:
glorificação e fuga, majestade dos magos e pobreza da gruta, canto dos Anjos e
silêncio dos homens. Quando chega o momento de apresentar o Menino no Templo,
José, que leva a modesta oferenda de um par de rolas, vê como Simeão e Ana
proclamam que Jesus é o Messias.
Seu pai e sua mãe ouviram
com admiração, diz S. Lucas.
Mais tarde, quando o Menino
fica no templo sem que Maria e José o saibam, ao encontrá-Lo de novo depois de
O procurarem três dias, o mesmo evangelista narra que se maravilharam.
José surpreende-se, José
admira-se.
Deus vai-lhe revelando os
seus desígnios e ele esforça-se por compreendê-los.
Como toda a alma que quer
seguir de perto Jesus, descobre logo que não é possível andar com passo
ronceiro, que não pode viver da rotina.
Porque Deus não se conforma
com a estabilidade num nível conseguido, com o descanso no que já se tem. Deus
exige continuamente mais e os seus caminhos não são os nossos caminhos humanos.
São José, como nenhum outro
homem antes ou depois dele, aprendeu de Jesus a estar atento para conhecer as
maravilhas de Deus, a ter a alma e o coração abertos.
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Mas, se José aprendeu de
Jesus a viver de um modo divino, atrever-me-ia a dizer que, no aspecto humano,
ensinou muitas coisas ao Filho de Deus.
Há qualquer coisa que não me
agrada no título de pai adoptivo com que às vezes se designa José, porque tem o
perigo de fazer pensar que as relações entre José e Jesus eram frias e
externas.
Certamente que a nossa fé
nos diz que não era pai segundo a carne, mas não é essa a única paternidade.
A José - lemos num sermão de
Santo Agostinho - não só se lhe deve o nome de pai, mas este é-lhe devido mais
do que a qualquer outro. E continua: Como era pai? Tanto mais profundamente
pai, quanto mais casta foi a sua paternidade. Alguns pensavam que era pai de
Nosso Senhor Jesus Cristo da mesma forma que são pai os outros, que geram
segundo a carne e não recebem os seus filhos só como fruto do seu afecto
espiritual. Por isso, diz S. Lucas: pensava-se que era pai de Jesus.
Porque diz apenas
pensava-se?
Porque o pensamento e o
juízo humanos referem-se àquilo que costuma acontecer entre os homens.
E o Senhor não nasceu do
germe de José. Mas à piedade e caridade de José nasceu um filho da Virgem
Maria, que era Filho de Deus.
José amou Jesus como um pai
ama o seu filho, tratou-o dando-lhe tudo que de melhor tinha. José, cuidando
daquele Menino como lhe tinha sido ordenado, fez de Jesus um artesão:
transmitiu-lhe o seu ofício.
Por isso, os vizinhos de
Nazaré falavam de Jesus chamando-lhe indistintamente faber e fabri filius”:
artesão e filho do artesão. Jesus trabalhou na oficina de José e junto de José.
Como seria José, como teria
actuado nele a graça, para ser capaz de levar a cabo a tarefa de desenvolver no
aspecto humano o Filho de Deus?
Por isso, Jesus devia
parecer-se com José no modo de trabalhar, nos traços do seu carácter, na
maneira de falar.
No realismo de Jesus, no seu
espírito de observação, no seu modo de se sentar à mesa e de partir o pão, no
seu gosto por falar dum modo concreto tomando como exemplo as coisas da vida
corrente, reflecte-se o que foi a infância e a juventude de Jesus e, portanto,
a sua convivência com José.
Não é possível desconhecer a
sublimidade do mistério.
Esse Jesus que é homem, que
fala com o sotaque de uma determinada região de Israel, que se parece com um
artesão chamado José, esse é o Filho de Deus.
E quem pode ensinar alguma
coisa a Deus?
Mas é realmente homem e vive
normalmente: primeiro como menino; depois, como rapaz que ajuda na oficina de
José; finalmente como homem maduro, na plenitude da idade.
Jesus crescia em sabedoria,
em idade e em graça diante de Deus e dos homens.
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