1.ª
Tessalonicenses
A
evangelização de Tessalónica é a segunda etapa, depois de Filipos, do percurso
de Paulo no continente europeu e da sua segunda viagem missionária (Outono
de 49-Primavera de 52: Act 16,9; 17,1-9). Tessalónica fora
fundada em 315 a.C. por Cassandro, general de Alexandre Magno, que lhe dera o
nome de sua mulher, Tessalonike.
O
poeta Antípatro canta a sua cidade como "mãe de toda a Macedónia". Em
146 a.C. foi elevada a capital da província romana da Macedónia.
Com
um porto de mar importante e atravessada pela Via Egnácia, que estabelecia a
ligação de Roma com a Ásia Menor, Tessalónica era um ponto de encontro entre o
Ocidente e o Oriente e uma cidade cosmopolita, com uma multiplicidade de
cultos, entre os quais o da sinagoga judaica.
PRIMEIRA
CARTA
É a
partir da sinagoga (Act 17,2) que
Paulo inicia, com bons frutos, a evangelização de Tessalónica; mas a
hostilidade judaica obriga-o a interrompê-la bruscamente (Act
17,5-9). Por isso, o Apóstolo deixa uma comunidade apenas
constituída, sujeita às seduções do paganismo - de que proveio, na sua maioria (1,9) - e
à perseguição. Daí a inquietação que manifesta pela sorte dos crentes (2,17;
3,1.5).
CONTEXTO
Com
os seus companheiros, Paulo parte para Bereia; e depois, sozinho, para Atenas e
Corinto, onde se lhe vêm juntar Silas, ou Silvano, e Timóteo (Act
18,5). Timóteo, entretanto, tinha sido enviado a Tessalónica (3,1) e
traz boas notícias. É neste contexto que é escrita a 1.ª CARTA AOS
TESSALONICENSES, provavelmente de Corinto e entre os anos 50 e 52.
TEOLOGIA
A nível cronológico, esta Carta é o primeiro escrito do Novo Testamento, facto
que lhe confere uma particular importância. É uma Carta colegial, quanto ao
remetente e às características gerais (veja-se o uso do plural), e eclesial,
nos seus destinatários e na sua função (5,27);
prolonga a obra da evangelização, que não é de um só, mas colectiva.
A
tonalidade dominante é pastoral: não há polémica, nem erros a corrigir. Com
profundo reconhecimento a Deus por tudo o que Ele realiza, Paulo encoraja os
cristãos a progredir. Revela uma grande intensidade afectiva, que é recíproca
entre os missionários e os crentes. Nela sobressaem a gratidão, o entusiasmo, a
confiança, a solicitude como de mãe e pai (2,7-8.11). E
comunica ao leitor a generosidade e a grandeza de alma dos tempos iniciais, de
fundação.
DIVISÃO
E CONTEÚDO
I.
Acção de graças (1,2-3,13), em 3 secções:
Saudação
inicial (1,1)
Acção
de graças pelo trabalho dos missionários e pela resposta dos tessalonicenses
(1,2-2,16).
Missão
de Timóteo, cujo êxito suscita reconhecimento a Deus (2,17-3,10).
Voto
final (3,11-13).
II.
Prática cristã "no Senhor Jesus Cristo" (4,1-5,24), em 4 secções:
Dois
aspectos fundamentais da vida cristã: santificação e caridade (4,1-12).
Dois
aspectos da expectativa escatológica: os mortos antes da parusia e o Dia do
Senhor (4,13-5,11).
Outros
conselhos úteis à vida cristã (5,12-22).
Voto
final (5,23-24).
Saudação
final (5,25-28).
310
Oração
viva
“Levantar-me-ei e percorrerei a
cidade: pelas ruas e praças procurarei aquele que amo... E não apenas a cidade; correrei o mundo de lés
a lés - por todas as nações, por todos os povos, por carreiros e atalhos - para
conquistar a paz da minha alma. E descubro-a nas ocupações diárias, que não me
servem de estorvo; que são - pelo contrário - o caminho e a ocasião de amar
cada vez mais e de cada vez mais me unir a Deus”.
E quando a tentação do desânimo, dos
contrastes, da luta, da tribulação, de uma nova noite da alma nos ataca
-violenta -, o salmista põe-nos nos lábios e na inteligência aquelas palavras: “Estou
com Ele no tempo da adversidade”.
Jesus, perante a Tua Cruz, que vale a
minha; perante as Tuas feridas, os meus arranhões?
Perante o Teu Amor imenso, puro e
infinito, que vale o minúsculo fardo que Tu colocaste sobre os meus ombros?
E os vossos corações e o meu enchem-se
de uma santa avidez, confessando-Lhe - com obras - que morremos de Amor.
Nasce uma sede de Deus, uma ânsia de
compreender as Suas lágrimas; de ver o Seu sorriso, o Seu rosto...
Julgo que o melhor modo de o exprimir é
voltar a repetir, com a Escritura: como o veado deseja a fonte das águas, assim
a minha alma te anela, ó meu Deus!
E a alma avança, metida em Deus,
endeusada: o cristão tornou-se um viajante sedento, que abre a boca às águas da
fonte.
311
Com esta entrega, o zelo apostólico
ateia-se, aumenta dia-a-dia - pegando esta ânsia aos outros - porque o bem é
difusivo.
Não é possível que a nossa pobre
natureza, tão perto de Deus, não arda em desejos de semear no mundo inteiro a
alegria e a paz, de regar tudo com as águas redentoras que brotam do lado
aberto de Cristo, de começar e acabar todas as tarefas por Amor.
Falava antes de dores, de sofrimentos,
de lágrimas.
E não me contradigo se afirmo que, para
um discípulo que procura amorosamente o Mestre, é muito diferente o sabor das
tristezas, das penas, das aflições: desaparecem imediatamente, quando aceitamos
deveras a Vontade de Deus, quando cumprimos com gosto os Seus desígnios, como
filhos fiéis, ainda que os nervos pareçam rebentar e o suplício pareça
insuportável.
312
Vida
corrente
Interessa-me afirmar novamente que não
me refiro a um modo extraordinário de viver cristãmente.
Que cada um de nós medite no que Deus
realizou por ele e como tem correspondido.
Se formos valentes neste exame pessoal,
perceberemos o que ainda nos falta.
Ontem comovi-me ao saber de um
catecúmeno japonês que ensinava o catecismo a outros que ainda não conheciam
Cristo.
E envergonhava-me.
Precisamos de mais fé, de mais fé!
E, com a fé, a contemplação.
Recordem com calma aquela divina
advertência, que enche a alma de inquietação e, ao mesmo tempo, Lhe traz
sabores de favo de mel: “redemi te, et
vocavi te nomine tuo: meus es tu”
redimi-te e chamei-te pelo teu nome: És meu!
Não roubemos a Deus o que é Seu.
Um Deus que nos amou até ao ponto de
morrer por nós, que nos escolheu desde toda a eternidade, antes da criação do
mundo, para sermos santos na sua presença: e que continuamente nos oferece
ocasiões de purificação e de entrega.
Se porventura ainda tivéssemos alguma
dúvida, receberíamos outra prova dos Seus lábios: «não fostes vós que me
escolhestes; fui eu que vos escolhi a vós», para que possais ir longe e dar
fruto; e permaneça abundante esse fruto do vosso trabalho de almas
contemplativas.
Portanto, fé, fé sobrenatural!
Quando a fé fraqueja, o homem tende a
imaginar Deus como se estivesse longe, sem se preocupar com os seus filhos.
Pensa na religião como em algo de
justaposto, de exterior à vida, que usa quando não há outro remédio; espera,
não se sabe porquê, manifestações aparatosas, acontecimentos insólitos.
Quando a fé vibra na alma, descobre-se,
pelo contrário, que os passos do cristão não se separam da sua vida humana
corrente e habitual.
E que esta santidade grande, que Deus
nos exige, se encerra aqui e agora, nas pequenas coisas de cada dia.
313
Agrada-me falar de caminho, porque somos
caminhantes, dirigimo-nos para a casa do Céu, para a nossa Pátria.
Mas reparemos que um caminho, mesmo que
um ou outro trecho apresente dificuldades especiais, mesmo que alguma vez nos
obrigue a passar a vau um rio ou a atravessar um pequeno bosque quase
impenetrável, habitualmente é simples, sem surpresas.
O perigo é a rotina: supor que nisto, no
que temos de fazer em cada instante, não está Deus, porque é tão simples, tão
vulgar!
Iam os dois discípulos para Emaús.
O seu caminhar era normal, como o de
tantas outras pessoas que transitavam por aquelas paragens.
E aí, com naturalidade, aparece-Lhes
Jesus e vai com eles, com uma conversa que diminui a fadiga.
Imagino a cena: Já bem adiantada a
tarde.
Sopra uma brisa suave.
De um lado e de outro, campos semeados
de trigo já crescido e as velhas oliveiras com os ramos prateados pela luz
indecisa...
Jesus, no caminho!
Senhor, que grande és Tu sempre!
Mas comoves-me quando te rebaixas para
nos acompanhares, para nos procurares na nossa lida diária.
Senhor, concede-nos a ingenuidade de
espírito, o olhar limpo, a mente clara, que permitem entender-Te, quando vens
sem nenhum sinal externo da Tua glória.
314
Termina o trajecto ao chegar à aldeia e
aqueles dois que - sem o saberem - tinham sido feridos no fundo do coração pela
palavra e pelo amor do Deus feito homem, têm pena de que Ele se vá embora.
Porque Jesus despede-se como quem vai para mais longe.
Nosso Senhor nunca se impõe.
Quer que O chamemos livremente, desde
que entrevimos a pureza do Amor que nos meteu na alma.
Temos de O deter à força e pedir-Lhe: «fica
connosco, porque é tarde e já o dia está no ocaso, cai a noite».
Somos assim: sempre pouco atrevidos,
talvez por falta de sinceridade, talvez por pudor.
No fundo pensamos: Fica connosco, porque
as trevas nos rodeiam a alma e só Tu és luz, só Tu podes acalmar esta ânsia que
nos consome!
Porque entre as coisas belas, honestas,
não ignoramos qual é a primeira: possuir sempre Deus.
E Jesus fica.
Abrem-se os nossos olhos como os de
Cléofas e os do companheiro, quando Cristo parte o pão; e, mesmo que Ele volte
a desaparecer da nossa vista, também seremos capazes de empreender de novo a
marcha - anoitece - para falar d'Ele aos outros; porque tanta alegria não cabe
num só coração.
Caminho de Emaús.
O nosso Deus encheu este nome de doçura.
E Emaús é o mundo inteiro, porque Nosso Senhor abriu os caminhos divinos da
terra.
315
Com
os Santos Anjos
Peço a Nosso Senhor que, durante a nossa
permanência neste chão da terra, nunca nos afastemos do caminhante divino.
Para isso aumentemos também a nossa
amizade com os Santos Anjos da Guarda.
Todos necessitamos de muita companhia:
companhia do Céu e da terra. Sejamos devotos dos Santos Anjos!
A amizade é muito humana, mas também é
muito divina; tal como a nossa vida, que é divina e humana.
Temos presente o que diz Nosso Senhor?
«Já não vos chamo servos, mas amigos».
Ensina-nos a ter confiança com os amigos
de Deus, que já moram no Céu e com as criaturas que convivem connosco, mesmo
com as que parecem afastadas de Nosso Senhor, para as atrair ao bom caminho.
Terminarei repetindo com São Paulo aos
Colossenses: “não cessamos de orar por vós e de pedir a Deus que alcanceis
pleno conhecimento da sua vontade, com toda a sabedoria e inteligência
espiritual, sabedoria que nasce da oração, da contemplação, da efusão do
Paráclito na alma. A fim de que tenhais uma conduta digna de Deus,
agradando-Lhe em tudo, produzindo frutos de toda a espécie de boas obras e
crescendo na ciência de Deus; confortados com toda a fortaleza pelo poder da
sua graça, para ter sempre uma perfeita paciência e longanimidade acompanhada
de alegria; dando graças a Deus Pai, que nos fez dignos de participar da sorte
dos santos, iluminando-nos com a sua luz; que nos arrebatou do poder das trevas
e nos transferiu para o reino do seu Filho muito amado”.
316
Que a Mãe de Deus e nossa Mãe nos
proteja a fim de que cada um de nós possa servir a Igreja na plenitude da fé,
com os dons do Espírito Santo e com a vida contemplativa.
Cada um, realizando os deveres que lhe
são próprios; cada um no seu ofício e profissão e no cumprimento das obrigações
do seu estado, honre o Senhor com alegria.
Amemos a Igreja, sirvamo-la com a
alegria consciente de quem soube decidir-se a esse serviço por Amor.
E se virmos que alguém anda sem
esperança, como os dois de Emaús, aproximemo-nos com fé - não em nome próprio,
mas em nome de Cristo - para lhe assegurarmos que a promessa de Jesus não pode
falhar, que Ele vela sempre pela sua Esposa: que não a abandona.
Que as trevas passarão, porque somos
filhos da luz e estamos chamados a uma vida perdurável.
E Deus enxugará dos seus olhos todas as
lágrimas, já não haverá morte, nem pranto, nem gritos; não haverá mais dor,
porque as primeiras coisas passaram.
E disse o que estava sentado no trono: “eis
que renovo tudo. E indicou-me: escreve, porque todas estas palavras são
digníssimas de fé e verdadeiras. E continuou: isto é um facto. Eu sou o Alfa e
o Ómega, o princípio e o fim. Àquele que tiver sede dar-Lhe-ei de beber
gratuitamente da fonte da água da vida. Quem vencer possuirá todas estas coisas
e eu serei seu Deus e ele será meu filho”.
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