III.
MISSÕES DE PAULO
2.ª
Viagem Missionária -
16 Paulo e Silas na Macedónia –
1Paulo
chegou em seguida a Derbe e, depois, a Listra. Havia ali um discípulo chamado
Timóteo, filho de uma judia crente e de pai grego, 2 que era muito estimado
pelos irmãos de Listra e de Icónio. 3 Paulo resolveu levá-lo consigo e,
tomando-o, circuncidou-o, por causa dos judeus existentes naquelas regiões,
pois todos sabiam que o pai dele era grego. 4Nas cidades por onde passavam,
transmitiam e recomendavam aos irmãos que cumprissem as decisões tomadas pelos
Apóstolos e pelos Anciãos de Jerusalém. 5 Dessa forma, as igrejas eram
confirmadas na fé e cresciam em número, de dia para dia. 6Paulo e Silas
atravessaram a Frígia e o território da Galácia, pois o Espírito Santo
impediu-os de anunciar a Palavra na Ásia. 7 Chegando à fronteira da Mísia,
tentaram dirigir-se à Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu. 8 Atravessaram,
então, a Mísia e desceram para Tróade. 9 Ora, durante a noite, Paulo teve uma
visão: um macedónio estava de pé diante dele e fazia-lhe este pedido: «Passa à
Macedónia e vem ajudar-nos!» 10Logo que Paulo teve esta visão, procurámos
partir para a Macedónia, persuadidos de que Deus nos chamava, para aí anunciar
a Boa-Nova.
Em Filipos. Conversão de Lídia –
11Embarcámos
em Tróade e fomos directamente a Samotrácia; no dia seguinte, fomos a Neápoles
12e de lá, a Filipos, cidade de primeira categoria deste distrito da Macedónia,
e colónia. Estivemos aí durante alguns dias. 13 No dia de sábado, saímos fora
de portas, em direcção à margem do rio, onde era costume haver oração. Depois
de nos sentarmos, começámos a falar às mulheres que lá se encontravam reunidas.
14 Uma das mulheres chamada Lídia,
negociante de púrpura, da cidade de Tiatira e temente a Deus, pôs-se a escutar.
O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia. 15 Depois de ter
sido baptizada, bem como os de sua casa, fez este pedido: «Se me considerais
fiel ao Senhor, vinde ficar a minha casa.» E obrigou-nos a isso.
A escrava bruxa –
16Um
dia, quando íamos à oração, encontrámos uma serva que tinha um espírito
pitónico e dava muito lucro aos seus senhores, exercendo a adivinhação. 17 Começou
a seguir Paulo e a nós, bradando: «Estes homens são servos do Deus Altíssimo e
anunciam-vos o caminho da salvação.» 18 Isto repetiu-se durante vários dias
seguidos. Por fim, já agastado, Paulo voltou-se e disse ao espírito:
«Ordeno-te, em nome de Jesus Cristo, que saias desta mulher.» E o espírito saiu
imediatamente.
Paulo e Silas na Prisão –
19
Mas os senhores da escrava, vendo desaparecer a esperança do lucro,
apoderaram-se de Paulo e de Silas e arrastaram-nos até à praça pública, à
presença dos magistrados. 20Apresentando-os aos estrategos, disseram: «Estes
homens espalham a desordem na nossa cidade; são judeus, 21 e apregoam usos que
não nos é permitido a nós, romanos, nem admitir nem praticar.» 22 A multidão
amotinou-se contra eles; e os estrategos, arrancando-lhes as vestes,
mandaram-nos açoitar. 23 Depois de lhes terem dado muitas vergastadas,
lançaram-nos na prisão, recomendando ao carcereiro que os tivesse sob atenta
vigilância. 24Ao receber tal ordem, este meteu-os no calabouço interior e
prendeu-lhes os pés no cepo.
Conversão do carcereiro –
25
Cerca da meia-noite, Paulo e Silas, em oração, entoavam louvores a Deus, e os presos
escutavam-nos. 26 De repente, sentiu-se um violento tremor de terra que abalou
os alicerces da prisão. Todas as portas se abriram e as cadeias de todos se
desprenderam. 27 Acordando em sobressalto, o carcereiro viu as portas da prisão
abertas e puxou da espada para se matar, pensando que os presos se tinham
evadido. 28 Paulo, então, bradou com voz forte: «Não faças nenhum mal a ti
mesmo, porque nós estamos todos aqui.» 29 O carcereiro pediu luz, correu para
dentro da masmorra e lançou-se a tremer, aos pés de Paulo e de Silas. 30 Depois,
trouxe-os para fora e perguntou: «Senhores, que devo fazer para ser salvo?» 31 Eles
responderam: «Acredita no Senhor Jesus e serás salvo tu e os teus.» 32 E
anunciaram-lhe a palavra do Senhor, assim como aos que estavam na sua casa. 33 O
carcereiro, tomando-os consigo, àquela hora da noite, lavou-lhes as feridas e
imediatamente se baptizou, ele e todos os seus. 34 Depois, levando-os para
cima, para a sua casa, pôs-lhes a mesa e entregou-se, com a família, à alegria
de ter acreditado em Deus.
Libertação de Paulo e Silas –
35
Assim que amanheceu, os estrategos mandaram os lictores dizer ao carcereiro:
«Põe esses homens em liberdade.» 36 O carcereiro transmitiu a Paulo aquelas
palavras: «Os estrategos mandaram dizer que vos pusesse em liberdade. Saí,
pois, e ide em paz.» 37Mas Paulo disse aos lictores: «Açoitaram-nos em público,
sem julgamento, a nós que somos cidadãos romanos; meteram-nos na prisão, e
agora mandam-nos sair às escondidas! Não está bem! Venham eles próprios levar-nos
lá para fora.» 38 Os lictores foram comunicar estas palavras aos estrategos. Ao
ouvirem dizer que eram cidadãos romanos, ficaram muito assustados. 39 Foram
pedir-lhes desculpa, puseram-nos em liberdade e rogaram-lhes que se retirassem
da cidade. 40 Ao saírem do cárcere, Paulo e Silas foram a casa de Lídia e,
vendo os irmãos, fizeram-lhes as suas recomendações e partiram.
14
Por volta dos primeiros anos da década de 40,
eu ia muito a Valência.
Não
tinha então nenhum meio humano e, com os que - como vocês agora - se reuniam
com este pobre sacerdote, fazia oração onde podíamos, algumas tardes numa praia
solitária.
Como
os primeiros amigos do Mestre, lembras-te?
S.
Lucas escreve que, ao sair de Tiro com Paulo, a caminho de Jerusalém,
acompanharam-nos todos, com as suas mulheres e filhos até fora da cidade e
ajoelhados na praia fizemos oração.
Pois um dia, ao fim da tarde, durante um
daqueles pores do Sol maravilhosos vimos que uma barca se aproximava da
beira-mar e que saltaram para terra uns homens morenos, fortes como rochas,
molhados, de tronco nu, tão queimados pela brisa que pareciam de bronze.
Começaram
a tirar da água a rede que traziam arrastada pela barca, repleta de peixes
brilhantes como a prata.
Puxavam
com muito brio, os pés metidos na areia, com uma energia prodigiosa.
De
repente veio uma criança, muito queimada também, aproximou-se da corda,
agarrou-a com as mãozinhas e começou a puxar com evidente falta de habilidade.
Aqueles
pescadores rudes, nada refinados, devem ter sentido o coração estremecer e
permitiram que aquele pequeno colaborasse; não o afastaram, apesar de ele
estorvar em vez de ajudar.
Pensei em vocês e em mim; em vocês, que ainda
não conhecia e em mim; nesse puxar pela corda todos os dias, em tantas coisas.
Se nos apresentarmos diante de Deus Nosso Senhor como esse pequeno, convencidos
da nossa debilidade mas dispostos a cumprir os seus desígnios, alcançaremos a
meta mais facilmente: arrastaremos a rede até à beira-mar, repleta de frutos
abundantes, porque onde as nossas forças falham, chega o poder de Deus.
15
Sinceridade
na direcção espiritual
Conhecem muito bem as obrigações do vosso
caminho de cristãos, que os hão-de levar sem parar e com calma à santidade;
também estão precavidos contra as dificuldades, praticamente contra todas,
porque já se vislumbram desde o princípio do caminho.
Agora
insisto em que se deixem ajudar e guiar por um director de almas, a quem
confiem todos os entusiasmos santos, os problemas diários que afectarem a vida
interior, as derrotas que sofrerem e as vitórias.
Nessa direcção espiritual mostrem-se sempre
muito sinceros: não deixem nada por dizer, abram completamente a alma, sem medo
e sem vergonha.
Olhem
que, se não, esse caminho tão plano e tão fácil de andar complica-se e o que ao
princípio não era nada acaba por se converter num nó que sufoca.
Não
penseis que os que se perdem caem vítimas de um fracasso repentino; cada um
deles errou no princípio do seu caminho ou então descuidou por muito tempo a
sua alma, de modo que, enfraquecendo progressivamente a força das suas virtudes
e crescendo pelo contrário, pouco a pouco, a dos vícios, veio a desfalecer
miseravelmente...
Uma casa não se desmorona de repente por um
acidente imprevisível: ou já havia algum defeito nos alicerces ou o desleixo
dos que a habitavam se prolongou por muito tempo, de modo que os defeitos, a
princípio pequeníssimos, foram corroendo a firmeza da estrutura, pelo que,
quando chegou a tempestade ou surgiram as chuvas torrenciais, ruiu sem remédio,
pondo a descoberto o antigo descuido.
Lembram-se da história do cigano que se foi
confessar?
Não
passa de uma história, de uma historieta, porque da confissão nunca se fala e,
além disso, estimo muito os ciganos.
Coitadinho!
Estava
realmente arrependido: Senhor Padre, acuso-me de ter roubado uma arreata...-
pouca coisa, não é? - e atrás vinha uma burra...; e depois outra arreata...; e
outra burra... e assim até vinte.
Meus filhos, o mesmo acontece no nosso
comportamento: quando cedemos na arreata, depois vem o resto, a seguir vem uma
série de más inclinações, de misérias que aviltam e envergonham; e acontece o
mesmo na convivência: começa-se com uma pequena falta de delicadeza e acaba-se
a viver de costas uns para os outros, no meio da indiferença mais gelada.
16
Caçai as raposas pequenas que destroem a
vinha, as nossas vinhas em flor.
Fiéis
no pequeno, muito fiéis no pequeno.
Se
procurarmos esforçar-nos assim, também havemos de aprender a recorrer com
confiança aos braços de Santa Maria, como seus filhos. Não vos lembrava eu ao
princípio que todos nós temos muito poucos anos, tantos quantos passaram desde
que nos decidimos a ter muita intimidade com Deus?
Pois
é razoável que a nossa miséria e a nossa insuficiência se aproximem da grandeza
e da pureza santa da Mãe de Deus, que é também nossa Mãe.
Posso contar-vos outra história real, porque
já passaram tantos, tantos anos desde que aconteceu; e porque há-de ajudá-los a
pensar, pelo contraste e pela crueza das expressões.
Estava
a dirigir um retiro para sacerdotes de diversas dioceses.
Procurava-os
com afecto e com interesse, para que viessem falar comigo, aliviar a
consciência desabafando, porque os sacerdotes também precisam do conselho e da
ajuda de um irmão.
Comecei
a conversar com um, um pouco rude, mas muito nobre e sincero; puxava-lhe um
pouco pela língua, com delicadeza e clareza para sarar qualquer ferida que
existisse dentro do seu coração.
A
certa altura interrompeu-me, mais ou menos com estas palavras: tenho uma grande
inveja da minha burra; tem prestado serviços paroquiais em sete freguesias e
não há nada a apontar-lhe.
Ah!
Se eu tivesse feito o mesmo!
17
Talvez - examina-te a fundo - também nós não
mereçamos o elogio que esse cura de aldeia fazia à burra.
Trabalhámos
muito, ocupámos tantos cargos de responsabilidade, triunfaste nesta e naquela
tarefa humana... mas, na presença de Deus, não encontras nada de que devas
lamentar-te?
Procuraste
de verdade servir a Deus e aos homens teus irmãos, ou fomentaste o teu egoísmo,
a tua glória pessoal, as tuas ambições, o teu êxito exclusivamente terreno e
penosamente caduco?
Se falo um pouco cruamente, é porque quero
fazer uma vez mais um acto de contrição muito sincero e porque queria que cada
um de vocês também pedisse perdão.
Perante
as nossas infidelidades, à vista de tantos enganos, de fraquezas, de cobardias
- cada um com as suas -, repitamos do fundo do coração a Nosso Senhor aquelas
exclamações contritas de S. Pedro: Domine,
tu omnia nosti, tu scis quia amo te!; Senhor! Tu sabes tudo, Tu sabes que
te amo, apesar das minhas misérias!
E
atrevo-me a acrescentar: Tu sabes que te amo, precisamente por causa dessas
minhas misérias, pois elas levam-me a apoiar-me em Ti, que és a fortaleza: quia Tu es, Deus, fortitudo mea.
E
a partir daqui, recomecemos.
18
Procurar
a presença de Deus
Vida interior.
Santidade
nas tarefas usuais, santidade nas coisas pequenas, santidade no trabalho
profissional, nas canseiras de todos os dias...; santidade para santificar os
outros.
Numa
certa ocasião, um meu conhecido - nunca hei-de chegar a conhecê-lo bem -
sonhava que ia a voar num avião a uma grande altura, mas não dentro da cabine;
ia montado nas asas.
Coitado
do desgraçado: como sofria e se angustiava!
Parecia
que Nosso Senhor lhe dava a conhecer que assim andam pelas alturas - inseguras,
inquietas - as almas apostólicas que não têm vida interior ou que a descuidam:
com o perigo constante de caírem, sofrendo, incertas.
E penso, efectivamente, que correm um sério
risco de se extraviarem os que se lançam à acção - ao activismo - prescindindo
da oração, do sacrifício e dos meios indispensáveis para conseguir uma piedade
sólida: a frequência dos Sacramentos, a meditação, o exame de consciência, a
leitura espiritual, a convivência assídua com a Virgem Santíssima e com os
Anjos da Guarda...
Tudo
isto contribui, além disso, com uma eficácia insubstituível, para que o caminho
do cristão seja tão agradável, porque da sua riqueza interior jorram a doçura e
a felicidade de Deus como o mel do favo.
19
Na intimidade pessoal, na conduta externa, no
convívio com os outros, no trabalho, cada um há-de procurar manter-se numa
contínua presença de Deus, com uma conversa - um diálogo - que não se manifesta
exteriormente.
Melhor
dito, não se exprime normalmente com ruído de palavras, mas há-de notar-se pelo
empenho e pela diligência amorosa com que acabamos bem as tarefas, tanto as
importantes como as insignificantes. Se não procedêssemos com essa constância,
seríamos pouco coerentes com a nossa condição de filhos de Deus, pois teríamos
desperdiçado os recursos que Nosso Senhor colocou providencialmente ao nosso
alcance, para chegarmos ao estado de homem perfeito, à medida da idade perfeita
segundo Cristo.
Durante a última guerra de Espanha, fazia
viagens com frequência para atender sacerdotalmente muitos rapazes que se
encontravam na frente da batalha.
Numa
trincheira, ouvi um diálogo que me ficou muito gravado.
Perto
de Teruel, um soldado bastante novo comentava acerca de outro, pelos vistos um
pouco indeciso, pusilânime: não é um homem às direitas!
Teria
um grande desgosto se se pudesse afirmar de qualquer de nós, com fundamento,
que somos incoerentes; homens que afirmam que querem ser autenticamente
cristãos, santos, mas que desprezam os meios, já que não manifestam
continuamente a Deus o seu carinho e o seu amor filial no cumprimento das suas
obrigações. Se a nossa actuação se revelasse assim, tu e eu também não seríamos
cristãos íntegros.
20
Procuremos fomentar no fundo do coração um
desejo ardente, um empenho grande por alcançar a santidade, apesar de nos
vermos cheios de misérias.
Não
se assustem; à medida que se avança na vida interior, conhecem-se com mais
clareza os defeitos pessoais.
O
que acontece é que a ajuda da graça se transforma como que numa lente de
aumentar e o mais pequeno cotão, o grãozinho de areia quase imperceptível
aparecem com dimensões gigantescas, porque a alma adquire a finura divina e até
a sombra mais pequena incomoda a consciência, que só gosta da limpeza de Deus.
Diz-lhe
agora, do fundo do coração: Senhor, a sério que quero ser santo, a sério que
quero ser um teu discípulo digno e seguir-te sem condições.
E
depois, hás-de propor a ti próprio a intenção de renovar diariamente os grandes
ideais que te animam nestes momentos.
Jesus, se nós, que nos reunimos no teu Amor,
fôssemos perseverantes!
Se
conseguíssemos traduzir em obras esses anseios de santidade que Tu próprio
despertas nas nossas almas!
Perguntemo-nos a nós próprios com frequência:
para que estou eu na terra?
E assim hão-de procurar acabar perfeitamente
- com muita caridade - as tarefas que empreenderem em cada dia e cuidar das
coisas pequenas.
Debrucemo-nos
sobre o exemplo dos santos: pessoas como nós, de carne e osso, com fraquezas e
debilidades, que souberam vencer e vencer-se por amor de Deus; consideremos a
sua conduta e - como as abelhas que destilam de cada flor o néctar mais
precioso - aproveitemo-nos das suas lutas.
Assim
também havemos de aprender a descobrir muitas virtudes nos que nos rodeiam -
dão-nos lições de trabalho, de abnegação, de alegria... - sem nos determos
demasiado nos seus defeitos; só quando for imprescindível, para os ajudar com a
correcção fraterna.
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