I.
EXPANSÃO DA IGREJA FORA DE JERUSALÉM
10 Visão de Cornélio em
Cesareia –
1*Havia em Cesareia
um homem de nome Cornélio, centurião da coorte itálica. 2*Piedoso e temente a
Deus, como aliás toda a sua casa, dava largas esmolas ao povo e orava
continuamente a Deus.
3*Teve uma visão, cerca das três horas
da tarde, e viu distintamente o Anjo de Deus entrar, aproximar-se dele e dizer-lhe:
«Cornélio!» 4*Fixando nele os olhos, cheio de medo, respondeu: «Que é, Senhor?»
Respondeu o Anjo: «As tuas orações e as tuas esmolas subiram à presença de
Deus, e Ele recordou-se de ti. 5 E agora, envia homens a Jope e manda chamar um
certo Simão, conhecido por Pedro. 6 Está hospedado em casa de um curtidor
chamado Simão, cuja casa fica à beira-mar.» 7 Quando o Anjo se retirou, depois
de lhe falar, Cornélio chamou dois dos seus servos e um soldado piedoso, dos
que lhe eram pessoalmente dedicados, 8explicou-lhes tudo e mandou-os a Jope.
Visão de Pedro em Jope –
9*No dia seguinte,
enquanto eles iam a caminho e se aproximavam da cidade, Pedro subiu ao terraço
para a oração do meio-dia. 10*Então, sentiu fome e quis comer alguma coisa.
Enquanto lhe preparavam de comer, foi arrebatado em êxtase. 11 Viu o Céu aberto
e um objecto, como uma grande toalha atada pelas quatro pontas, a descer para a
terra. 12 Estava cheia de todos os quadrúpedes e répteis da terra e de todas as
aves do céu. 13 E uma voz dizia-lhe: «Vamos, Pedro, mata e come.» 14 Mas Pedro
retorquiu: «De modo algum, Senhor! Nunca comi nada de profano nem de impuro.»
15*E a voz falou-lhe novamente, pela segunda vez: «O que foi purificado por
Deus não o consideres tu impuro.» 16 Isto repetiu-se por três vezes e,
imediatamente, o objecto foi levado para o Céu. 17 Atónito, Pedro perguntava a
si próprio o que poderia significar a visão que acabara de ter, quando os
homens enviados por Cornélio, tendo perguntado pela casa de Simão, se
apresentaram à porta. 18 Chamaram e indagaram se era ali que se encontrava
hospedado Simão, cujo sobrenome era Pedro. 19 E, como Pedro estava ainda a
reflectir sobre a visão, o Espírito disse-lhe: «Estão aí três homens a
procurar-te. 20 Ergue-te, desce e parte com eles sem qualquer hesitação, porque
fui Eu que os mandei cá.» 21 Pedro desceu, foi ter com os homens e disse: «Sou
eu quem procurais. Qual o motivo da vossa vinda?» 22 Responderam: «O centurião
Cornélio, homem justo e temente a Deus, do qual todo o povo judeu dá bom
testemunho, foi avisado por um anjo para te mandar chamar a sua casa e para
ouvir as palavras que tens a dizer-lhe.» 23*Então Pedro mandou-os entrar e
deu-lhes hospedagem. No dia seguinte, levantando-se, partiu com eles, e alguns irmãos
de Jope acompanharam-no. 24 Chegou a Cesareia, um dia depois. Cornélio estava à
espera deles com os seus parentes e amigos íntimos, que tinha reunido. 25 Na
altura em que Pedro entrava, Cornélio foi ao seu encontro e, caindo-lhe aos
pés, prostrou-se. 26 Mas Pedro levantou-o, dizendo: «Levanta-te, que eu também
sou apenas um homem.» 27 E, a conversar com ele, foi para dentro, encontrando
muitas pessoas reunidas. 28*Pedro disse-lhes: «Vós sabeis que não é permitido a
um judeu ter contacto com um estrangeiro, ou entrar em sua casa. Mas Deus
mostrou-me que não se deve chamar profano ou impuro a homem algum. 29 Por isso,
não opus qualquer dificuldade ao vosso convite. Peço-vos apenas que me digais o
motivo por que me mandastes chamar.» 30 Cornélio respondeu: «Faz hoje três
dias, a esta mesma hora, estava eu em minha casa a fazer a oração das três
horas da tarde, quando surgiu de repente um homem com uns trajes
resplandecentes, diante de mim, 31 e me disse: 'Cornélio, a tua oração foi
atendida e as tuas esmolas foram recordadas diante de Deus. 32 Envia, pois, emissários
a Jope e manda chamar Simão, cujo sobrenome é Pedro. Está hospedado em casa de
Simão, curtidor, junto ao mar.' 33 Mandei-te imediatamente chamar e agradeço-te
teres vindo. E, agora, estamos todos na tua presença para ouvirmos o que Deus
te ordenou.»
Discurso de Pedro em casa de
Cornélio –
34*Então, Pedro tomou
a palavra e disse: «Reconheço, na verdade, que Deus não faz acepção de pessoas,
35 mas que, em qualquer povo, quem o teme e põe em prática a justiça, lhe é
agradável. 36*Enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando-lhes a
Boa-Nova da paz, por Jesus Cristo, Ele que é o Senhor de todos. 37 Sabeis o que
ocorreu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou:
38*como Deus ungiu com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré, o qual
andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos
pelo diabo, porque Deus estava com Ele. 39*E nós somos testemunhas do que Ele
fez no país dos judeus e em Jerusalém. A Ele, que mataram, suspendendo-o de um
madeiro, 40*Deus ressuscitou-o, ao terceiro dia, e permitiu-lhe manifestar-se,
41 não a todo o povo, mas às testemunhas anteriormente designadas por Deus, a
nós que comemos e bebemos com Ele, depois da sua ressurreição dos mortos. 42*E
mandou-nos pregar ao povo e confirmar que Ele é que foi constituído, por Deus,
juiz dos vivos e dos mortos. 43*É dele que todos os profetas dão testemunho:
quem acredita nele recebe, pelo seu nome, a remissão dos pecados.»
Baptismo dos primeiros pagãos
–
44*Pedro estava ainda
a falar, quando o Espírito Santo desceu sobre quantos ouviam a palavra. 45 E
todos os fiéis circuncisos que tinham vindo com Pedro ficaram estupefactos, ao
verem que o dom do Espírito Santo fora derramado também sobre os pagãos,
46*pois ouviam-nos falar línguas e glorificar a Deus. Pedro, então, declarou:
47«Poderá alguém recusar a água do baptismo aos que receberam o Espírito Santo,
como nós?» 48 E ordenou que fossem baptizados em nome de Jesus Cristo. Então
eles pediram-lhe que ficasse alguns dias com eles.
"Christus
vivit": Exortação Apostólica aos Jovens
Capítulo
III
VÓS
SOIS O AGORA DE DEUS
64.
Depois de observar a Palavra de Deus, não podemos limitar-nos a dizer que os
jovens são o futuro do mundo: são o presente, estão-no enriquecendo com a sua
contribuição.
Um
jovem já não é uma criança, encontra-se num momento da vida em que começa a
assumir várias responsabilidades, participando com os adultos no
desenvolvimento da família, da sociedade, da Igreja.
Mas
os tempos mudam, colocando-se a questão: Como são os jovens hoje? Que sucede
agora aos jovens?
Em
positivo
65.
O Sínodo reconheceu que os fiéis da Igreja nem sempre têm o comportamento de
Jesus.
Em
vez de nos dispormos a escutá-los profundamente, «prevalece a tendência de
fornecer respostas pré-fabricadas e receitas prontas, sem deixar assomar as
perguntas juvenis na sua novidade e captar a sua interpelação» [1].
Mas,
quando a Igreja abandona esquemas rígidos e se abre à escuta pronta e atenta
dos jovens, esta empatia enriquece-a, porque «permite que os jovens dêem a sua
colaboração à comunidade, ajudando-a a individuar novas sensibilidades e a
colocar-se perguntas inéditas»[2].
66.
Hoje nós, adultos, corremos o risco de fazer uma lista de desastres, de
defeitos da juventude actual.
Alguns
poderão aplaudir-nos, porque parecemos especialistas em encontrar aspectos
negativos e perigos.
Mas,
qual seria o resultado deste comportamento?
Uma
distância sempre maior, menos proximidade, menos ajuda mútua.
67.
A clarividência de quem foi chamado a ser pai, pastor ou guia dos jovens
consiste em encontrar a pequena chama que continua a arder, a cana que parece
quebrar-se (cf. Is 42, 3) mas ainda não partiu.
É a
capacidade de individuar percursos onde outros só vêem muros, é saber
reconhecer possibilidades onde outros só vêem perigos.
Assim
é o olhar de Deus Pai, capaz de valorizar e nutrir os germes de bem semeados no
coração dos jovens.
Por
isso, o coração de cada jovem deve ser considerado «terra santa», diante da
qual nos devemos «descalçar» para nos podermos aproximar e penetrar no
Mistério.
Muitas
juventudes
68.
Poderíamos procurar descrever as características dos jovens de hoje, mas, antes
de mais nada, quero registar uma observação dos Padres Sinodais: a própria
«composição do Sínodo tornou visível a presença e a colaboração das diferentes
regiões do mundo, evidenciando a beleza de ser Igreja universal.
Embora
num contexto de crescente globalização, os Padres Sinodais pediram para
salientar as múltiplas diferenças entre contextos e culturas, inclusive dentro
do mesmo país. Existe uma pluralidade de mundos juvenis, a ponto de se tender,
nalguns países, a usar o termo “juventude” no plural.
Além
disso, a faixa etária considerada pelo presente Sínodo (16-29 anos) não
representa um todo homogéneo, mas compõe-se de grupos que vivem situações
peculiares»[3].
69.
Partindo do ponto de vista demográfico, alguns países têm muitos jovens,
enquanto outros possuem uma taxa de natalidade muito baixa.
«Outra
diferença deriva da história, que torna distintos os países e continentes de
antiga tradição cristã, cuja cultura é portadora de uma memória que não deve
ser perdida, dos países e continentes marcados por outras tradições religiosas
e onde o cristianismo tem uma presença minoritária e, por vezes, recente.
Além
disso, em outros territórios, as comunidades cristãs e os jovens que fazem
parte delas são objecto de perseguição»[4].
Deve
distinguir-se também os jovens «que têm acesso às crescentes oportunidades
oferecidas pela globalização de quantos, ao contrário, vivem à margem da
sociedade ou no mundo rural suportando os efeitos de formas de exclusão e
descarte»[5].
70.
Existem muitas outras diferenças, que seria complexo referir aqui em detalhe.
Por isso, não me parece oportuno demorar-me a oferecer uma análise exaustiva
dos jovens no mundo actual, de como vivem e do que lhes sucede. Mas, como
também não posso deixar de observar a realidade, assinalarei brevemente algumas
contribuições que chegaram antes do Sínodo e outras que pude recolher durante o
mesmo.
Algumas
coisas que acontecem aos jovens
71.
A juventude não é algo que se possa analisar de forma abstracta.
Na
realidade, «a juventude» não existe; o que há são jovens com as suas vidas
concretas.
No
mundo actual, cheio de progresso, muitas destas vidas estão sujeitas ao
sofrimento e à manipulação.
Franciscus
Revisão
da versão portuguesa por AMA
Notas:
[1] DF8.
[2] Ibid., 8.
[3] Ibid., 10.
[4] Ibid., 11.
[5]
Ibid., 12.
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