25.06.2020
Reflexão: Novíssimos - Morte é Vida
Temas para reflectir e meditar
Perante o mistério da morte ficamos surpreendidos com a confusão
que, por vezes, se instala no nosso espírito.
Há uma mescla de sentimentos, onde, naturalmente, avulta a
tristeza que o sentimento de perda provoca, mas que, surpreendentemente, não é
o principal e é isto que mais nos causa estranheza e incompreensão.
Fere-nos singularmente
algum sentimento de alívio, do terminar de um sofrimento, do arrastar de uma
situação séria, grave, por vezes dolorosa, em que a pessoa querida se vai
degradando fisicamente, perdendo gradualmente a sua autonomia até acabar
totalmente dependente para os mais elementares e simples actos fisiológicos.
E este "sentirmo-nos feridos" quase nos envergonha
porque pensamos – e bem – que não desejávamos que essa pessoa morresse, ao
mesmo tempo que não queríamos que continuasse, assim, naquele estado de vida
tão condicionada e sofredora.
Não é por essa morte ser previsível num espaço de tempo não muito
longo, que se torna menos “cortante” – porque se trata de um corte definitivo e
sem remédio -, porque, graças a uma espécie de esperança que nunca morre,
esperamos sempre estar enganados e que uma súbita alteração das circunstâncias,
mesmo sem explicação aparente – mas que sabemos, acontece por vezes – venha
alterar definitivamente a situação.
De facto, a morte,
não tem remédio absolutamente nenhum, é definitiva. É este – definitivo – que
nos leva à tal surpresa que falávamos no início.
Não estamos habituados a que algo seja definitivo porque, a vida,
a nossa própria vida tal como a dos outros, está sempre em evolução e o hoje
não é igual ao amanhã, nada se repete tal e qual, tudo se vai transformando,
evoluindo.
Vêm, depois, os
outros, os familiares, mais ou menos próximos, os amigos mais ou menos
chegados, companheiros de trabalho… e todos nos dizem mais ou menos as mesmas
coisas. Frases feitas, termos usuais nestas circunstâncias, ar contristado,
pesaroso, tentando parecer muito mais íntimos do que na verdade são.
Depois, cumpridas estas formalidades, retiram-se para o exterior
para "espairecer", fumar um cigarro e, daí a pouco estabelece-se como
que uma assembleia que conversa, convive, troca impressões.
Sentimo-nos, talvez, como que numa espécie de teatro um pouco
requentado e com um enredo pouco ou nada atraente.
Mas, a morte, é
assim: vida!
A vida prossegue o seu ritmo quase normal, nos primeiros tempos em
que a memória está “fresca”, depois… só ocasionalmente nos recordamos do que
aconteceu.
É muito bom que assim seja porque nestas memórias raramente
aparecem os defeitos – que com toda a certeza a pessoa tinha – para surgirem
com mais força, maior nitidez, as qualidades, os momentos bem passados, enfim,
as coisas boas da vida anterior.
Assim, a morte, vem nivelar as relações, as memórias. Já não há
nada a fazer!
Deparamo-nos
finalmente com esta sensação estranha que não tínhamos sequer imaginado pudesse
surgir: afinal, o lugar deixado vago pela morte não necessita ser preenchido
donde concluímos que cada pessoa, sendo única, é insubstituível.
Claro que a razão é muito mais profunda que a simples constatação
formal. Cada ser humano, embora podendo ter semelhanças com outro, nunca é qual
exactamente porque é fruto da obra criadora de Deus que não faz nada “em
série”, como numa linha de montagem. Cada ser humano tem uma alma – a imagem do
Criador impressa – exclusivamente criada para si no momento da concepção.
Por isso mesmo, a concepção da vida concreta, real é de suma
importância para compreender e aceitar a morte.
É, pelo menos, interessante dar-nos conta como a consideração da
morte nos leva a pensar na vida sendo que, o contrário, não acontece.
A que propósito se
iria pensar na morte quando nos sentimos vivos e, mais, com vontade e desejo de
viver?
Não faz muito sentido, parece e, no entanto, seria de manifesta
utilidade que o fizéssemos exactamente para termos consciência do nosso destino
eterno.
O cristão tem,
como verdade de fé, que está destinado à vida eterna e, mais, que ressuscitará
no fim dos tempos em que o seu corpo se unirá à sua alma.
Como o mistério é de tal forma complexo, grandioso,
extraordinário, optamos a maior parte das vezes por não pensar muito nisso
porque ficamos, quase sempre, com a sensação que andamos às voltas sobre um
eixo que também roda sobre si mesmo sem conseguirmos chegar a um fim, concreto,
absoluto.
Aliás, é manifesto, que só conseguimos aceitá-lo com a ajuda da
nossa fé cristã.
Podemos sentir
curiosidade em imaginar o que seria o mundo se os nossos primeiros pais - Adão
e Eva – não tivessem pecado e, assim, permanecessem no estado original da
criação que não conhecia a morte. Onde caberia tanta gente!
Se não existe fé, este problema é insolúvel, a resposta nunca será
convincente.
Reflexão: Novíssimos - Morte
Temas para reflectir e meditar
Encontrei-me com essa senhora.
A princípio custou-me perceber de quem ser
tratava. Não tinha forma de gente antes parecia uma coisa vaga como uma neblina
indefinida. Percebi que estava triste e extraordinariamente cansada.
‘Tenho tido muito que fazer, disse-me, não
tenho descanso.
A minha principal inimiga, a vida, até nem
me tem dado muito trabalho. Cada vez há menos quem a queira. Mas
em compensação os meus serviços cada vez são mais requisitados. É estranho que as pessoas queiram morrer e
mais estranho ainda que desejem que outros morram. Por todo o lado parece haver
uma cultura de morte e não me refiro só às guerras e lutas fratricidas que
pululam por todo o mundo, mas aos milhares de jovens vidas, algumas mal
acabadas de começar a existir, que são sacrificadas nos altares da indiferença,
do planeamento feroz, da impiedade mais radical. Sim, estou muito cansada.’
Fiquei a pensar nesta estranha conversa e
dei-me conta que embora imaginária poderia ser bem real.
(AMA, reflexões, 2018)
Reflexão: Novíssimos - A minha cruz
Temas para reflectir e meditar
Tenho
sido “o carpinteiro da minha cruz” (cfr. São Filipe de Néri, Máximas).
De
facto, não precisei de ajuda de ninguém, tenho feito tudo sozinho com aplicação
e esmero tais que, agora, nada mais me resta que pedir ao Senhor que a leve por
mim que, eu, não posso!
(AMA, 2017)
Reflexão: A carga e a graça
Temas para reflectir e meditar
Não nos preocupemos quando o peso das
tribulações nos parece impossível de suportar.
De facto, por nós mesmos, talvez não
sejamos capazes de ter forças bastantes para superar o que nos aflige.
Há que considerar a realidade objectiva: o
que nos preocupa tem de facto uma dimensão que ultrapassa a nossa
capacidade para encontrar uma solução ou ficamos numa primeira análise como que
paralisados com o receio de essa solução não estar ao nosso alcance?
Damos o caso como encerrado ou fazemos um
novo esforço recorrendo à experiência que fomos adquirindo em situações
semelhantes?
Esgotados os meios pessoais voltemos para
Deus a nossa atenção e digamos-lhe com simplicidade o precisamos.
Termos de ter uma certeza: o Senhor é Pai
e tal como nunca permite que sejamos tentados além das nossas forças também se
presta a ajudar a suportar as cargas que caem sobre os nossos ombros.
Digamos-lhe com simplicidade: Senhor,
ajuda me que eu não posso e, tal como na barca que se afundava, atendeu ao
apelo dos discípulos, fazendo cessar a tempestade, também a nós não nos deixará
sem auxílio.
Concluiremos, então que não precisamos de
mais que Fé e Confiança absolutas no nosso Salvador.
(AMA, 2017)