Magnus in
prosperis, in adversis maior - Grande na prosperidade, maior na adversidade.
Estas palavras do
epitáfio do rei inglês Jaime II, na igreja de Saint Germain em Laye, próximo de
Paris, exprimem a harmonia entre os diferentes aspectos da virtude da
fortaleza: por um lado, a paciência e a perseverança, que se relacionam com o acto
de resistir no bem, e que já considerámos; do outro, a magnificência e a
magnanimidade, que fazem referência directa ao acto de atacar, de se lançar a
grandes empreendimentos, e também nos pequenos cometimentos da vida corrente.
De facto, segundo a Teologia moral, “a fortaleza, como virtude do apetite
irascível, não só domina os nossos medos (cohibitiva timorum), mas também
modera as ações temerárias e audazes (moderativa audaciarum). Assim, a
fortaleza ocupa-se do medo e da audácia, impedindo o primeiro e impondo um
equilíbrio à segunda” ] (R. Cessario, As virtudes, Edicep, Valência 1988, p. 206. [38] Cf.
Ángel Rodríguez Luño, Scelti in Cristo per essere santi. III. Morale speciale,
EDUSC, Roma 2008, pp. 294 e 296. A magnanimidade ou longanimidade é
propriamente considerada tradicionalmente como um dos frutos do Espírito Santo:
cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1832).
A magnanimidade ou
grandeza de ânimo é a prontidão para tomar decisões de empreender obras virtuosas,
admiráveis e difíceis, dignas de grande honra. Por seu lado, a magnificência
refere-se à realização efectiva de obras grandes, e em particular a procura e
emprego dos recursos económicos e materiais adequados para levar a cabo obras
grandes ao serviço de Deus e do bem comum [38].
São Josemaria
descrevia a pessoa magnânima com estes termos: ânimo grande, alma dilatada,
onde cabem muitos. É a força que nos move a sair de nós mesmos, a fim de nos
prepararmos para empreender obras valiosas, em benefício de todos. No homem
magnânimo, não se alberga a mesquinhez, não se interpõe a tacanhez, nem o
cálculo egoísta, nem a embuste interesseiro. O magnânimo dedica sem reservas as
suas forças ao que vale a pena. Por isso é capaz de se entregar a si mesmo. Não
se conforma com dar: dá-se. E assim consegue entender qual é a maior prova de
magnanimidade: dar-se a Deus ((São Josemaria, Amigos de Deus, n. 80. O Fundador do Opus Dei considerava
como manifestação de magnanimidade o cuidado das coisas pequenas: “as almas
grandes têm muito em conta as coisas pequenas” ((São Josemaria, Caminho, n.
818).
Requer-se
magnanimidade para empreender, em cada dia, o trabalho da própria santificação
e o apostolado no meio do mundo, das dificuldades que sempre haverá, com a
convicção de que tudo é possível a quem crê (Cf. Mc 9, 23). Neste sentido, o cristão magnânimo não teme
proclamar e defender com firmeza, nos ambientes em que se move, os ensinamentos
da Igreja, também nos momentos em que isso possa supor um ir contra a corrente (Cf. (São Josemaria,
Via Sacra, XIII estação, ponto 3), aspecto que tem uma profunda raiz evangélica. Assim, o cristão
conduzir-se-á com compreensão perante as pessoas, por vezes, com uma santa
intransigência na doutrina (Cf. (São Josemaria, Caminho, nn. 393-398), fiel ao lema
paulino veritatem facientes in caritate, vivendo a verdade com caridade (Ef 4, 15), que implica
defender a totalidade da fé sem violência. Isto implica também que a obediência
e docilidade ao Magistério da Igreja não se contrapõe ao respeito da liberdade
de opinião; pelo contrário, ajuda a distinguir bem a verdade da fé do que são
simples opiniões humanas.
No começo fez-se
referência à resistência paciente de Maria ao pé da Cruz. A fortaleza exemplar
de Nossa Senhora inclui também a grandeza de alma que a levou a exclamar ante a
sua prima Isabel: Magnificat anima mea Dominum… quia fecit mihi magna
qui potens est, a minha alma glorifica o Senhor… porque fez em mim grandes
coisas (Lc 1, 46-49). A exultação de
Maria encerra uma importante lição para nós, como recordava Bento XVI: “O
homem só é grande, se Deus é grande. Com Maria devemos começar a compreender
que é assim. Não devemos distanciar-nos de Deus, mas fazer que Deus esteja
presente, fazer que Deus seja grande na nossa vida; assim também nós seremos
divinos: teremos todo o esplendor da dignidade divina” (Bento XVI, Homilia
na Solenidade da Assunção, Castelgandolfo, 15 de Agosto de 2005).
S. Sanz Sánchez
Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja
Católica, nn. 736, 1299, 1303, 1586, 1805, 1808, 1811, 1831-1832, 2473; São João
Paulo II, A virtude da fortaleza, Audiência geral, Roma, 15 de Novembro de
1978; Santo Agostinho, De patientia (PL 40); São Tomás de Aquino, Suma
Teológica, II- II, qq. 123-140, (São Josemaria, Amigos de Deus, nn. 77-80.
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