07/06/2020

LEITURA ESPIRITUAL


São Marcos


Cap. XVI


1 Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram perfumes para irem embalsamar Jesus. 2 Partindo no primeiro dia da semana, de manhã cedo, chegaram ao sepulcro quando o sol já era nascido. 3 Diziam entre si: «Quem nos há-de retirar a pedra da entrada do sepulcro?». 4 Mas, olhando, viram removida a pedra, que era muito grande. 5 Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado do lado direito, vestido de uma túnica branca e ficaram assustadas. 6 Ele disse-lhes: «Não vos assusteis. Buscais a Jesus Nazareno, o crucificado? Ressuscitou, não está aqui. Eis o lugar onde O depositaram. 7 Mas ide, dizei a Seus discípulos e a Pedro que Ele vai diante de vós para a Galileia; lá O vereis, como Ele vos disse». 8 Elas, saindo do sepulcro, fugiram, porque as tinha assaltado o temor e estavam como que fora de si. Não disseram nada a ninguém, tal era o medo que tinham. 9 Jesus, tendo ressuscitado de manhã, no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demónios. 10 Ela foi noticiá-lo aos que tinham andado com Ele, os quais estavam tristes e chorosos. 11 Tendo eles ouvido dizer que Jesus estava vivo e que fora visto por ela, não acreditaram. 12 Depois disto, mostrou-Se de outra forma a dois deles, enquanto iam para a aldeia; 13 os quais foram anunciar aos outros, que também a estes não deram crédito. 14 Finalmente, apareceu aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a sua incredulidade e dureza de coração, por não terem dado crédito aos que O tinham visto ressuscitado. 15 E disse-lhes: «Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda a criatura. 16 Quem crer e for baptizado, será salvo; mas quem não crer, será condenado. 17 Eis os milagres que acompanharão os que crerem: Expulsarão os demónios em Meu nome, falarão novas línguas, 18 pegarão em serpentes e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará mal; imporão as mãos sobre os doentes, e serão curados». 19 O Senhor, depois de assim lhes ter falado, elevou-Se ao céu e foi sentar-Se à direita do Pai. 20 Eles, tendo partido, pregaram por toda a parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com os milagres que a acompanhavam.

Comentários:

Diferem pouco os relatos dos Evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João. Este último só refere Madalena como tendo sido a única que terá visto o Ressuscitado e quem terá dado a notícia do desaparecimento do corpo de Jesus aos Apóstolos. Pouco importa, já que, como é lógico, alguém o terá comunicado a Pedro que, na sequência, corre juntamente com João até ao túmulo para confirmar a notícia. O que nos interessa sublinhar é a dedicação feminina que, em contraste com o receio dos Apóstolos recolhidos no Cenáculo, as leva a ir ao tumulo para prestar homenagem ao Senhor. A mulher assume portanto, um primeiríssimo lugar na história da Redenção  talvez porque o seu coração seja mais doce, mais terno que o coração dos homens, porque, no fim e ao cabo, o  que as leva ao sepulcro é o seu amor por Jesus Cristo.
Detendo-me um pouco nesta frase: «Eis os milagres que acompanharão os que crerem» fico a pensar na força da fé na palavra de Deus. Jesus, de facto, diz que àqueles que acreditarem serão dados poderes extraordinários. Porquê? Parece-me que Jesus quer garantir aos primeiros crentes auxílios especiais para ultrapassarem as dificuldades que, sabe, irão enfrentar. Na verdade as perseguições e ataques de toda a ordem contra os fiéis seguidores da Palavra, irão surgir logo no início da Igreja nascente.
Que felicidade teres partido para o Céu!, não me canso de pensar. Indo ficaste connosco, comigo, para sempre. Na presença viva e real na Sagrada Eucaristia que é o meu alimento, a minha força, o manancial onde bebo a água da vida eterna. Tenho-Te aqui como nenhum dos Teus Apóstolos Te teve; eles tinham a Tua companhia, gozavam da Tua presença, ouviam as Tuas palavras, viam os Teus gestos. Eu, pelo contrário, tenho isso tudo, ouço-Te no meu coração quando me falas, sinto as inspirações que constantemente sopras no meu entendimento e, finalmente, recebo-Te todo inteiro, em Corpo, Alma e Divindade tal como estás no Céu para onde subiste!
As últimas palavras de Jesus na terra são como que a "passagem de testemunho" aos Apóstolos, dando-lhes as directivas do trabalho a meter ombros, trabalho que é e será a continuidade do que Ele próprio levou a cabo: levar a todos o Reino de Deus e dar-lhes os meios e assistência necessárias para que possam ultrapassar as dificuldades e obstáculos que os esperam. A estes doze entrega a Sua Igreja porque sabe que pode confiar na sua dedicação e empenho em tão extraordinária missão que, não obstante a sua magnitude, seria levada a cabo até ao final dos tempos.
É absolutamente claro que o Baptismo é imprescindível para alcançar a salvação. É O Senhor Quem o afirma. Por isso mesmo se repete: a enorme responsabilidade dos progenitores baptizarem os seus filhos quanto antes. Adiar sem razão - e quase nunca há uma razão verdadeiramente válida -, é um risco que nenhum cristão deve correr porque «não se sabe nem o dia nem a hora».
São Marcos escreve os derradeiros versículos do “seu” Evan­gelho. Com ênfase especial nas relações dos Apóstolos com Jesus Cristo, segue, com evidente cuidado, as longas conversas com Pedro, não omitindo nem as fraquezas, dúvidas, negações e abandonos que pautaram o seu relacionamento com o Se­nhor. É bem evidente que a enorme humildade do Príncipe dos Apóstolos e a rocha sobre a qual Jesus Cristo edificou a Sua Igreja, quis que a hu­manidade ficasse a saber de fonte fide­digna que o cumprimento do mandato do Senhor não se fica a dever à capacidade de cada um e, nem mesmo, à sua en­trega devotada inteiramente à missão que lhes fora confiada – quase todos deram a vida por ela – mas à especialís­sima assistência do Espírito Santo que os converteu em pilares indes­trutíveis e inamovíveis da Igreja.
Por este trecho de São Marcos, verifica-se algo que pode, causar-nos estranheza: a falta de confiança entre os discípulos de Jesus, mesmo daqueles que mais assiduamente andavam juntos. Precisamente, o Evangelista que segue as informações e relatos de Pedro, faz constar quanto dele mesmo se apercebeu e, muito natural­mente, sob as instruções do Chefe dos Apóstolos que deseja fique bem gravado para todo o sempre as fraquezas e debilidades desses esco­lhidos, a começar, por ele próprio. Se eles si entre se amassem verdadeiramente como Jesus os amava… A confiança conquista-se com o amor e, sem ela, ele não é possível. Não importam os defeitos e “particularidades” de carácter do outro, se de facto se ama, acredita-se nele.
Custa-nos dar-nos conta da quase impenetrável desconfiança dos Onze. Ficamos como que ofendidos porque pensamos... ‘Connosco seria muito diferente, correríamos a prostrar-nos ante Jesus, abraçando e beijando os Seus pés chorando de alegria’. É o que pensamos, exactamente porque aqueles onze nos trouxeram a novidade confirmando a Ressurreição de Cristo. Quase todos deram a própria vida para que nós conhecêssemos a ver­dade e, conhecendo-a, sejamos levados por esses nobres sentimentos de veneração, adoração e acções de graças pelo Ressuscitado que nos mereceu a Salvação.
São Marcos segue os relatos de Pedro. Este, uma vez mais, propositadamente decerto, omite o seu papel nos dias que se seguiram à morte de Jesus. Sabemos, por São, João que foi ao túmulo na madrugada de Domingo e que pode constatar os sinais da ressurreição do Senhor. É natural que os discípulos mais próximos de Jesus, nomea­damente os Doze, estivessem reunidos com Pedro a quem o Senhor tinha, iniludi­velmente, nomeado o Chefe e a Pedra onde assentaria a Sua Igreja. Pedro tem, portanto, um papel importantíssimo nestes dias. Mais é de admirar e louvar esta singeleza do Apóstolo em querer passar despercebido. Com toda a certeza que a Paixão e Morte do Senhor o teriam abalado profundamente, pensando, talvez, na sua impotên­cia para salvar o seu Mestre, depois das bravatas na noite de Quinta-feira. O Príncipe dos Apóstolos dá, uma vez mais, uma lição da sua profunda humildade.
Teríamos nós, naquelas circunstâncias, acreditado que Jesus ressusci­tara? Então porquê, no nosso íntimo, estranhamos que os Apóstolos duvi­dassem? Sim, porque, nós, agora, sabemos muitíssimo mais do que eles então sabiam, e sabemo-lo graças a eles que, tendo vencido todas as dúvi­das, foram testemunhas indómitas da Ressurreição do Senhor, defen­dendo com a própria vida essa verdade que é o fundamento da nossa Fé. Agradecidos ao Senhor que nos ganhou a VIDA mas, também, muito gratos a esses homens simples e algo rudes, que garantiram que o viéssemos a saber.
Em muitas das chamadas “igrejas” que proliferam um pouco por toda a parte, uma das práticas correntes para atrair e fidelizar prosélitos é precisamente o recurso a esses “milagres” que o Senhor promete aos que O seguem e levam a Sua Palavra aos outros. Como se sabe, tais “milagres” não passam de mistificações mais ou menos grosseiras porque ninguém tem esse poder senão aqueles a quem o Senhor o concede. Os milagres são feitos por Jesus Cristo que se serve dos homens por Si escolhidos como instrumentos para os realizar. Não é possível, pois, operar milagres sejam quais forem, em proveito próprio e, muito menos, se O Senhor está ausente ou é abusivamente evocado seja por quem for.
O segredo do êxito da pregação dos Apóstolos revela-se neste trecho do Evangelho. Os milagres, factos extraordinários que confirmarão, de certo modo, que a acção que levam a cabo está de acordo com a vontade do Se­nhor. Não dizem nada em seu nome pessoal, não prometem coisa nenhuma a não ser a Vida Eterna. O Reino de Deus, pela acção destes homens, ir-se-á espalhando pelo mundo conhecido de então e terá uma continuidade pelos séculos fora até ao final dos tempos. Não escolhem pessoas como se fossem “privilegiados” a quem é con­cedido o acesso à Palavra ou locais onde o acolhimento possa ser mais favorável. Não! O Senhor é bem claro: «Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda a criatura.» E, isto, não tem de espantar-nos porque, afinal, o mundo é dele e as criaturas são Suas.
«Tende confiança, Eu venci o mundo». Esta firmação de Cristo que São Marcos recolhe, deve ser, é efectiva­mente, para os homens, sobretudo os cristãos empenhados no apos­tolado - e que devem ser todos, sem excepção - uma afirmação que tranquiliza e infunde confiança. O mundo nada pode contra Cristo e embora se mostre agreste e até mesmo ameaçador, os Seus enviados, os que, afincadamente, traba­lham na Sua vinha, nada têm a temer. Jesus Cristo que prometeu a Sua assistência incondicional não falhará, quanto disse cumprir-se-á integralmente. Tenhamos confiança.  
Os apóstolos, que devemos ser todos os cristãos, não somos mais - não devemos ser - que instrumentos nas mãos de Deus. Para, sendo dóceis, fazermos o que Ele quer e como quer, e dúcteis para que deixemos que nos moldar a Seu gosto de forma a melhor fazermos o que manda. E faremos milagres! É verdade! Milagres autênticos, grandiosos, não por nossa virtude que é diminuta, ou poder que é limitado, mas porque Ele quer, através de nós, “marcar” o nosso apostolado com o selo divino para que seja evidente que não se trata do “nosso” mas do Seu apostolado.
Visto apressadamente e com “vistas curtas”, poderia parecer que a expansão do Evangelho se deveu a uma bem montada operação de marketing em que, para atrair e convencer as pessoas se recorre a prodígios e acções extraordinárias. Do que se trata é que os discípulos, quando fazem o que o mestre lhes manda fazer de certa forma, personificam o próprio mestre e, assim, de certa forma, estes “enviados” levam consigo os poderes com que o seu Mestre – Jesus Cristo – Se afirma como Messias. E não o fazem por um extraordinário poder ou excepcionais dons mas, apenas e unicamente, pelo poder da sua fé e inteira confiança em Jesus Cristo porque, de facto, quem opera os milagres é o Senhor. Nós nunca passamos de meros instrumentos nas Suas mãos.
É preciso que os novos crentes se destaquem nas sociedades em que vivem. A principal forma de destaque é, como muito bem sabemos, o exemplo de uma nova vida, novos costumes, novas práticas. Mas há que “atrair” outros mais cépticos ou incrédulos e, nas socieda­des de então, as faculdades ou virtudes extraordinárias são um meio muito eficaz para tal. Talvez por isso, Jesus Cristo refira estes “poderes especiais” para os que acreditarem e, de facto, como Ele próprio o afirmou por várias vezes, a quem crê tudo é possível.
É de toda a justiça que os cristãos celebrem, louvem e agradeçam a essas “colunas da Igreja” que sem olhar a dificuldades de toda a or­dem, cumpriram amorosamente, o mandato de Cristo. Sem a sua entrega, plena, total, a Igreja, embora com Cabeça – que é Cristo – não teria “corpo”. Ao longo dos tempos quantos foram os verdadeiros apóstolos da cris­tandade? Hoje em dia, quantos são? Por todo o mundo, os cristãos voltam-se para Roma, para esse homem que, não obstante a sua idade avançada, os urge com persistente ím­peto, a caminhar com perseverança e dedicação a levar Cristo a todos os lugares da terra. Em plena Páscoa – a Semana III – a Liturgia escolhe este trecho do Evangelho se São Marcos porque hoje – 25 de Abril de 2015 – se comemora o dia do Apóstolo e Evangelista. É, aliás, o “fecho” do Evangelho que escreveu baseado, como sabemos, no que ouviu directamente do Príncipe dos Apóstolos, São Pedro. Ficamos a dever a São Marcos o conhecimento das 12 pessoas que o Senhor escolheu como “colunas” da Sua Igreja, das suas características pessoais, fragilidades, e limitações bem notórias, inclusive as negações e infidelidades. Revela-se assim a profunda humildade desses homens, nomeadamente de São Pedro, que não se opõem, antes terão desejado, que tudo constasse para que nós, cristãos, possamos ver que podemos perfeitamente estar “à altura” dos Doze e sermos como eles foram fiéis até à morte a nosso Senhor Jesus Cristo.
Jesus Cristo termina a Sua missão na terra e volta para de onde veio. Redimiu e salvou a humanidade ganhando-nos o “estatuto” de “Filhos de Deus em Cristo Jesus”. Bens inestimáveis que nunca poderemos agradecer totalmente mas que, - isso sim – devemos procurar retribuir e, a única forma de o fazer com absoluta segurança, é cumprir quanto nos disse que fizéssemos fazendo em tudo a Vontade de Deus Nosso Senhor.
Acreditar em Jesus Cristo tem sempre um prémio e quem for baptizado terá um prémio ainda maior. Ao contrário de nós, humanos, que tentamos muitas vezes Deus com as chamadas “promessas” - se me fizeres isto eu faço aquilo – Jesus é muito claro e objectivo: Os simples factos de acreditar e ser baptizado trazem consigo benefícios incalculáveis e para sempre. Sobretudo, naqueles primeiros tempos, os privilégios prometidos seriam de extraordinário valor para a missão que esperava os convertidos ao Reino de Deus.
Não é possível acreditar na Ressurreição de Cristo sem a luz da Fé. Quanto mais intensa for essa luz melhor interiorizarmos esse aconte­cimento que constitui a base o fundamento da nossa santa religião. Peçamos ao Espírito Santo, Senhor que dá a Luz, que a derrame sobre nós.
O evangelista é parco nas palavras. Realmente, São Marcos - que escreve o que ouviu da boca de Pedro -  não foi testemunha directa dos acontecimentos após a Ressurreição do Senhor e, portanto, toda a emoção e choque de sentimentos que outros deixam entrever não está presente no que escreve. Mas, o deveras importante é reter as instruções e mandatos do Mestre, o que deseja que façam e como. É isso que deve interessar aos Seus seguidores que somos todos nós os baptizados.

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