15/05/2020

LEITURA ESPIRITUAL

COMENTANDO OS EVANGELHOS

São Lucas

Cap. XV



1 Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem. 2 Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: 'Este acolhe os pecadores e come com eles'. 3 Jesus propôs-lhes, então, esta parábola: 4 Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar? 5 Ao encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros 6 e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.’ 7 Digo-vos Eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão. 8 Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a encontrar? 9 E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.’ 10 Digo-vos: Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte. 11 Disse ainda: Um homem tinha dois filhos. 12 O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.’ E o pai repartiu os bens entre os dois. 13 Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada. 14 Depois de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações. 15 Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. 16 Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 17 E, caindo em si, disse: ‘Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! 18 Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; 19 já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.’ 20 E, levantando-se, foi ter com o pai. Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos. 21 O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.’ 22 Mas o pai disse aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. 23 Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, 24 porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.’ E a festa principiou. 25 Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa ouviu a música e as danças. 26 Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. 27 Disse-lhe ele: ‘O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.’ 28 Encolerizado, não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse. 29 Respondendo ao pai, disse-lhe: ‘Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos; 30 e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.’ 31 O pai respondeu-lhe: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32 Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado'.

Comentários:

1-3.11-32 -
O génio literário de São Lucas manifesta-se magistralmente nesta parábola de Jesus. A parábola é belíssima e, realmente, aplica-se profundamente aos temas da Misericórdia, do Amor do Pai, da Alegria do regresso do filho perdido. Este Pai que está sempre à nossa espera perscrutando na lonjura do caminho onde tantas vezes nos perdemos na esperança amorosa de nos estender os braços e nos devolver a dignidade perdida por causa das nossas faltas e, mais, festejar com largueza a volta à casa paterna. Uma vez mais me ocorre exclamar: Ó félix culpa! Vale a pena o arrependimento, o bem que se alcança tem uma "medida" divina e, por isso mesmo, impossível de "contabilizar". Um anel no dedo, calçado nos pés, o vestido mais precioso! Fica-se sem palavras perante tal magnificência! Não nos interroga por onde andámos, o que fizemos, só Lhe interessa que estejamos de novo ali, de onde nunca deveríamos ter-nos afastado: A alegria, a tranquilidade, a paz, a saciedade da casa paterna onde nada nos falta!


1-10 -

Esta alegria do pai que vê regressar o filho à casa paterna donde se afastou por vontade própria, está bem espelhada nos exemplos da dracma perdida e da ovelha tresmalhada e, magistralmente, na parábola do filho pródigo. Há, contudo, uma diferença entre as duas primeiras e esta última. Naquelas é o pastor e a dona de casa que deixam tudo para recuperar o que estava perdido, nesta última é o próprio extraviado que regressa por decisão própria. O que está presente, nos três exemplos que dou, é a alegria do reencontro, da recuperação do perdido. alegria tão grande que não pode reservar-se e tem de se comunicar aos outros. É esta mesma alegria que cada um de nós sente quando, pela oração e a acção, alguém arrepia caminho e volta ao convívio da Igreja. Valem, pois, a pena todos os nossos esforços nesse trabalho de apostolado.
A necessidade de um pastor para nos guiar pelos caminhos da vida está bem evidenciada nesta passagem do Evangelho. Um pastor que guie, com sabedoria e segurança, sem dúvida mas, também, um pastor que nos ensine a proteger-nos, a resguardar-nos dos perigos e "barrancos" que a cada passo se nos deparam e onde, por imprudência, ignorância ou ousadia podemos cair e perder-nos do rebanho.
«Alegrai-vos comigo» quer o Senhor dizer-nos quando alguém transviado regressa à Casa Paterna. Deus quer partilhar com todos os seus Filhos a Sua alegria! Tal espanta-nos e comove-nos. Um Deus assim que é AMOR, não guarda só para Si absolutamente nada, deseja partilhar tudo com toda a Sua Família Divina, a que está no Céu – os Anjos e Santos – e a que está na terra que somos todos os homens. Rezemos com frequência diária para que se convertam e regressem muitos dos nossos irmãos transviados e assim, dando glória a Deus, partilharemos da Sua Alegria. Haverá maior alegria que ser perdoado? E… qual a dimensão dessa alegria quando o perdão nos vem directamente do ofendido? E… quando o Ofendido é o próprio Senhor? Este perdão divino é, pois, a suprema alegria do reencontro de um Pai Amoroso e Misericordioso e um filho fraco e volúvel.
Desde muito pequeno guardei a imagem dos emigrantes que regressavam a casa para passar o Natal com as famílias. Os tempos eram agrestes, as comunicações difíceis e algo perigosas pelo que, as longas viagens, para os que esperavam os entes queridos, criavam uma expectativa mista de apreensão e alegria. Com o que Jesus narra no Evangelho de hoje podemos ver esse emigrante - familiar ou amigo - perdido num caminho de regresso, talvez num atalho que o desviou da rota correcta ou, pior, precipitado num barranco para onde o atirou a imprudência, o cansaço, o excesso de confiança nas próprias capacidades. A verdade é que, quando finalmente chega a casa, é recebido com esfuziante alegria e atenções de todo género, parecendo que passou a ser a pessoa mais importante da família. De facto, todos nós somos como emigrantes neste mundo em busca da casa do Pai comum que estará à nossa espera, expectante, de braços abertos. Para nos guiar pelos caminhos mais convenientes, enviou-nos pastores dispostos a ajudar-nos. Não desprezemos, nunca, essa ajuda. Ela é preciosa e indispensável para não nos perdermos ou, caso tal tenha acontecido, a voltar sobre o andado e retomar o rumo certo.
Parece talvez um exagero tanto trabalho e tanta alegria por uma única ovelha que se perdeu. Acaso não havia ainda um numeroso rebanho: noventa e nove ovelhas? Talvez, até, alguém acabasse por encontrá-la e a devolvesse ao dono ou, a própria ovelha sentindo o apelo irresistível do aprisco, voltasse ao rebanho. Talvez… mas o Pastor não se detém a considerar estas possibilidades. Além disso, existe sempre o perigo de qualquer animal feroz encontrar a ovelha e a devorar perdendo-a para sempre. Trata-se de um pastor competente, dedicado ao seu rebanho e, para ele, não há alternativa. Enquanto não encontrar a que está perdida sente que o seu rebanho está incompleto e as contas que terá de dar ao dono têm de ser justificadas: 'Fiz tudo para encontrar a ovelha perdida'.
É absolutamente lógica a afirmação do Senhor sobre a alegria dos Santos Anjos pela conversão de um pecador, porque, se alguém faz penitência com o intuito de reparar por um pecado, então está a converter-se. Porque os Anjos da Guarda que Deus coloca junto de cada ser humano não têm outra missão nem encargo que não seja conduzir a criatura ao seio de Deus. Por isso mesmo lhes devemos estar muito gratos e manter com eles uma relação de intimidade muito estreita e confiada. É incalculável o poder e a importância da sua intervenção nas nossas vidas. Milhões de crianças aprenderam das suas mães: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, pela piedade divina, para sempre me protege, guarda e ilumina". Não nos cansemos de repetir amiúde esta belíssima e singela invocação.
Sobre os ombros fortes deste Pastor Divino, ombros que suportaram o tremendo peso do madeiro da Cruz, sentimo-nos protegidos quando nos carrega e às nossas faltas e pecados, de volta à casa do Pai donde, tão amiúde, nos afastamos. Esta certeza de que Ele nunca desiste de nos procurar até que nos encontre, é para nós, homens fracos e pecadores, esperança confiante que o regresso é sempre possível e que nos bastará deixarmo-nos conduzir com docilidade para recuperarmos a alegria perdida.
Nada nos dá maior tranquilidade que pertencer a este rebanho cujo Pastor cuida de nós com um zelo inexcedível. Andamos livremente por onde queremos e a pastagem nos parece mais atractiva e apetecível. Sentimo-nos bem e seguros porque, à distância, escutamos o seu silvo tranquilizador que nos guia e avisa dos perigos. E, se, na nossa tonta ambição, nos afastamos demais e caímos nalgum barranco, Ele não descansará enquanto não nos encontrar e nos trouxer de volta ao aprisco acolhedor e seguro.

1-32 -
Pródigo porque regresso humilhado e contrito. Pródigo porque me lanço a Teus pés implorando misericórdia. Pródigo porque não tenho onde me acolher senão na “casa” de onde nunca devia ter saído. Pródigo porque me converto e me reconheço naquilo que sou: um “filho” em viajem permanente a caminho da casa do Pai.
O filho mais velho da parábola revela-se, talvez, como a personagem “chave” da mesma. Parece evidente que Jesus contasse esta parábola para ilustrar aos Seus ouvintes, a grandeza da misericórdia do pai, da bondade divina. Um pai que, não só perdoa como se alegra profundamente com o arrependimento do filho. Mas… onde estamos nós, de facto retratados? No Filho que se afasta e, depois de se perder, reencontra o caminho de casa? Ter prescindido do convívio com o Pai, regressa humilhado e contrito? Mas… realmente, o Pai nunca cessou de o amar e, o reencontro, é a prova disso mesmo. Mas o filho mais velho deseja ser o mais importante no amor do Pai e, mais, não quer que esse amor seja repartido com o irmão mais novo. Não percebe que o Pai ama os dois igualmente, não por aquilo que fazem, mas pelo que são: Seus filhos!
A parábola de Jesus que São Lucas nos transmite de forma magistral é de uma riqueza impressionante! Cada palavra tem um significado próprio, obviamente, e inserida num contexto fluido e absorvente, deixa rapidamente de ser uma parábola, uma história imaginada, para se tornar no retrato fiel da vida diária de todos os homens. Os nossos desejos incontidos, a busca da felicidade a qualquer preço, mesmo que, para tal, se corram riscos enormes e se chegue à degradação pessoal, ao aviltamento e vergonha inconcebíveis. O prazer procurado por si mesmo, a busca incessante de fazer o que no momento a vontade sugere, deixar que a ambição cegue a realidade dos factos e da própria vida, são atitudes muito mais frequentes que o que possamos imaginar. Já nos colocamos, a nós próprios nessa figura do Filho Pródigo? Este, o exame que temos de fazer, a consequência prática da leitura deste Evangelho! Quando nos deixamos levar pela tentação – pequena ou grande – as consequências podem ser devastadoras e, sempre, nos afastam da casa paterna, do alimento saudável e excelente que o Pai nos tem guardado. Rasgamos a túnica que recebemos no Baptismo, perdemos o anel que identifica a nossa linhagem de filhos de Deus e, inclusivamente, perdemos as sandálias que nos levam pelo único caminho que nos deve interessar: seguir Cristo!
        Durante a Quaresma, a Liturgia apresenta-nos esta Parábola por várias vezes. Nada mais adequado a um Tempo Litúrgico que nos fala de reconvenção, arrependimento, mudança de vida, correcção dos erros e defeitos que este texto em que São Lucas refere de forma magistral as palavras do Senhor exactamente acerca desses temas. Não é nunca demais, saborear cada frase, determo-nos em cada palavra interiorizando o que realmente o Senhor nos diz, fazendo como que uma síntese, de modo a guardarmos bem no nosso coração e entendimento o que Ele nos quer dizer: Deus é um Pai generoso que não nega nada aos Seus filhos e que está sempre pronto a perdoar quando estes fazem mau uso do que lhes dá.

3-7 -
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é uma tradição muito antiga. Em casa dos meus Pais, como era costume em famílias cristãs, um quadro votivo ao Sagrado Coração ocupava lugar proeminente, normalmente na sala de família. Sempre adornado com uma pequena jarra com flores frescas, substituídas todas as semanas, era para todos os da casa uma referência de suma importância como que a lembrar que aquela casa era Sua pertença e estava sob a Sua protecção. Ainda hoje lá está e sempre que por ali passo não deixo de dizer-lhe – como a minha querida Mãe me ensinou em criança – Sagrado Coração de Jesus fazei que o meu coração seja igual ao Vosso. São costumes antigos! Pois são, mas deveriam ser de sempre!
De facto o Senhor pôs sobre os Seus ombros todos os meus pecados quando carregou o madeiro da Cruz a caminho do Calvário. Não obstante eu, de vez, em quando perco-me do rebanho e, depois, pela infinita misericórdia do Pastor, regresso uma e outra vez. E sinto uma alegria enorme com esta certeza absoluta: que o Senhor não descansa enquanto eu não estiver junto dele, no meio dos Seus.
Só a alegria do reencontro consegue anular e fazer esquecer a tristeza do afastamento. Sempre pronto a procurar-me, quando me afasto, O Senhor não Se cansa de me chamar uma e outra vez. E, eu, apesar do descanso que é estar junto deLe, da serenidade que desfruto com a Sua companhia, prefiro, tantas vezes, uma solidão pateta e sem sentido e entrego-me a mim próprio e aos meus devaneios por outras paragens que não me dizem nada. Como São Josemaria, Te peço: “Senhor, que eu nunca Te perca”. (AMA - Santo Rosário, 5º Mistério Gozoso)

1-32 -

        Não posso deixar de dizer que és o Filho de Deus vivo, porque a minha fé mo dita, a minha inteligência conclui e o meu amor confirma. Sei muito bem Quem és porque, constantemente, Tu próprio mo revelas quando me acolhes tão prontamente como se eu fosse de suma importância para Ti, porque não Te bastou salvares-me com a Tua morte na Cruz mas me mantens vivo ajudando-me a levar as cruzes que eu próprio construo. Como não dizer, bem alto, a todos que és O Salvador, O Redentor, O Cristo, O único Caminho, A própria Verdade, A Vida que vale a pena.
        Não é possível comentar este Evangelho sem nos introduzirmos na cena que descreve o reencontro do Pai com o filho. Constatamos que o Pai está na expectativa do regresso do seu filho à casa paterna porque o avista quando ainda vem longe e, o amor que vê longe, reconhece-o imediatamente e não pode esperar mais, corre ao seu encontro. Aí está o Nosso Pai do Céu na expectativa permanente do nosso regresso e, quando se confirma o Seu desejo e se apercebe que queremos regressar, nem ouve o que termos para Lhe dizer, antes se dá pressa em restituir-nos a dignidade que tínhamos perdido. Voltando a assumir a nossa suprema categoria, como podemos deixar o regresso para mais tarde? Agora! Agora é o tempo de voltar!
       A parábola tem um detalhe que ilustra bem duas coisas: a justiça da actuação do Pai e a falta de razão do irmão mais velho, ou seja: não favoreceu nem um nem outro filho, tratou ambos de igual modo porque “repartir” significa exactamente dar por igual.
De facto o pai não respondeu: quando me pediste alguma coisa, um cabrito, e eu to neguei? Mas sim: «estás sempre comigo, tudo o que é meu é teu». Aqui esta a "chave" da parábola, a grande maravilha da misericórdia divina: Não isto, este bem, esta fortuna, mas «tudo o que é meu». Que pai terreno poderia alguma vez dizer tal coisa a um filho, sobretudo a um filho ingrato e invejoso? Só este Pai Divino, tem para com os Seus filhos tal magnanimidade e, felicidade a minha, este é O meu Pai! Que mais posso querer? Tranquilamente vou pensando na minha herança, mas, também na imensa fortuna do meu Pai que, é, já e agora, também minha desde que eu esteja com Ele. Senhor, que nunca me afaste de Ti.
Pode parecer um “atrevimento” comentar esta parábola, autêntico “best seller” de conhecimento geral, porque, atentando bem, está lá tudo, absolutamente, o que precisamos saber sobre a relação de Deus com os homens. Mas, mais que comentar, para outros lerem, interessa meditar em cada palavra, em cada situação mesmo correndo o risco de nos deixarmos absorver pela beleza do texto e a síntese de uma história que se repete em cada dia que passa. Este “filho pródigo” parece ser a figura central da parábola mas, de facto não é. Quem avulta é a figura do Pai: Benevolente: distribui o que o filho pede; Misericordioso: recebe-o de volta; Atento: reinveste-o na posição que tinha anteriormente. Acontece connosco isto mesmo sempre que recorremos ao Sacramento da Penitência e o Confessor nos concede a Absolvição reintegrando-nos onde, voluntariamente, nos tínhamos afastado.
«Quantos jornaleiros há em casa de meu pai que têm pão em abundância e eu aqui morro de fome!» Nada do que Jesus diz e o Evangelho regista foi dito e registado "por acaso". Jesus não refere "os jornaleiros" sem acrescentar "quantos" o que bem significa que nem todos «têm pão em abundância» devido a estarem «em casa de meu pai». Para ter pão, o pão divino que alimente e sacia é necessário, mais que estar na casa do Pai, viver como Ele quer que vivamos e, evidentemente, cumprir a Sua Vontade. Não fazendo isto não temos nem direito ao pão nem a possibilidade de o receber. Faça-mos, primeiro, a Vontade de Deus e logo o pão nos será dado com abundância.
A alegria de um Pai quando um filho seu volta para a casa paterna, ao seu convívio, ultrapassa qualquer “ressentimento” por mais grave que tenha sido o motivo do seu afastamento e se o foi por pouco ou muito tempo. Podemos imaginar a alegria no Céu inteiro com o Pai comum a acolher o regressado e a determinar que assuma, sem mais, a posição que antigamente ocupava.

3-7-
A alegria do reencontro com Cristo é, pode dizer-se, proporcional à tristeza de O ter perdido. A Liturgia fala da " "felix culpa", como que dando a entender que até do próprio pecado o Senhor tira bem. Ou, vendo de outra forma, que a maior alegria de Deus é ter a oportunidade de perdoar aos homens as suas faltas. Isto nada tem de misterioso ou extraordinário, quando se recupera a saúde depois e uma doença grave, depressa se esquece o sofrimento causado por aquela. Ser assim é com o nosso corpo o que não é com a nossa alma?











Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.