15/04/2020

LEITURA ESPIRITUAL

COMENTANDO OS EVANGELHOS

São Mateus

Cap. XV


1 Aproximaram-se, então, de Jesus alguns fariseus e doutores da Lei, vindos de Jerusalém e disseram-lhe: 2 «Porque transgridem os teus discípulos a tradição dos antigos? Pois não lavam as mãos antes das refeições.» 3 Replicou-lhes: «E vós, porque transgredis o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? 4 Deus, com efeito, disse: Honra teu pai e tua mãe. E ainda: Quem amaldiçoar o pai ou a mãe seja punido de morte. 5 Mas vós dizeis: ‘Seja quem for que diga a seu pai ou a sua mãe: Os meus bens, de que poderias beneficiar, são oferta sagrada’, 6 esse já não está obrigado a socorrer o pai ou a mãe. E assim, em nome da vossa tradição, anulastes a palavra de Deus. 7 Hipócritas! Muito bem profetizou Isaías a vosso respeito, ao dizer: 8 Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. 9 É vão o culto que me presta, ensinando doutrinas que são preceitos humanos.» 10 Jesus chamou, depois, a multidão para junto de si e disse-lhes: «Escutai e tratai de compreender! 11 Não é aquilo que entra pela boca que torna o homem impuro; o que sai da boca é que torna o homem impuro.» 12 Os discípulos aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Sabes que os fariseus ficaram escandalizados, por te ouvirem falar assim?» 13 Ele respondeu: «Toda a planta que não tenha sido plantada por meu Pai celeste será arrancada. 14 Deixai-os: são cegos a conduzir outros cegos! Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão nalguma cova.» 15 Tomando a palavra, Pedro disse-lhe: «Explica-nos esta parábola.» 16 Jesus respondeu-lhes: «Também vós não sois ainda capazes de compreender? 17 Não sabeis que tudo aquilo que entra pela boca passa para o ventre e é expelido em lugar próprio? 18 Mas o que sai da boca provém do coração; e é isso que torna o homem impuro. 19 Do coração procedem as más intenções, os assassínios, os adultérios, as prostituições, os roubos, os falsos testemunhos e as blasfémias. 20 É isto que torna o homem impuro. Mas comer com as mãos por lavar não torna o homem impuro.» 21 Jesus partiu dali e retirou-se para os lados de Tiro e de Sídon. 22 Então, uma cananeia, que viera daquela região, começou a gritar: «Senhor, Filho de David, tem misericórdia de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demónio.» 23 Mas Ele não lhe respondeu nem uma palavra. Os discípulos aproximaram-se e pediram-lhe com insistência: «Despacha-a, porque ela persegue-nos com os seus gritos.» 24 Jesus replicou: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.» 25 Mas a mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: «Socorre-me, Senhor.» 26 Ele respondeu-lhe: «Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorros.» 27 Retorquiu ela: «É verdade, Senhor, mas até os cachorros comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.» 28 Então, Jesus respondeu-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas.» E, a partir desse instante, a filha dela achou-se curada. 29 Partindo dali, Jesus foi para junto do mar da Galileia. Subiu ao monte e sentou-se. 30 Vieram ter com Ele numerosas multidões, transportando coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros, que lançavam a seus pés. Ele curou-os, 31 de modo que as multidões ficaram maravilhadas ao ver os mudos a falar, os aleijados escorreitos, os coxos a andar e os cegos com vista. E davam glória ao Deus de Israel. 32 Jesus, chamando os discípulos, disse-lhes: «Tenho compaixão desta gente, porque há já três dias que está comigo e não tem que comer. Não quero despedi-los em jejum, pois receio que desfaleçam pelo caminho.» 33 Os discípulos disseram-lhe: «Onde iremos buscar, num deserto, pães suficientes para saciar tão grande multidão?» 34 Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?» Responderam: «Sete, e alguns peixinhos.» 35 Ordenou à multidão que se sentasse. 36 Tomou os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os e dava-os aos discípulos, e estes, à multidão. 37 Todos comeram e ficaram saciados; e, com os bocados que sobejaram, encheram sete cestos. 38 Ora, os que comeram eram quatro mil homens, sem contar mulheres e crianças. 39 Depois de ter despedido a multidão, Jesus subiu para o barco e veio para a região de Magadan.

Comentários:

21-28 -

Esta mulher Cananeia, “descobriu” a forma mais eficaz de chegar directamente ao Coração Misericordioso de Jesus: A petição perseverante e humilde! Mas, mais… ela parece querer dar como que uma “lição” ao Senhor, intuindo a lógica mais simples: «até os cachorros comem as migalhas que caem da mesa de seus donos». É possível que Jesus tenha sorrido perante o que, talvez ,alguns dos circunstantes, achassem um “atrevimento”, porque de facto a “lição” não foi, evidentemente para Ele, mas para quem estava presente. Reconhecer o que se é, a importância que de facto se tem, é difícil se não houver humildade e são critério.
As palavras de Jesus são muito mais que um elogio; são a confirmação de que a humildade é fundamental – absolutamente – para que a Fé se fortaleça e arreigue na nossa alma. O que interessa àquela mulher é ser tratada como uma pessoa autêntica como muito mais valor – por pouco que seja – que um simples cachorrinho. Há, de facto, na petição desta mulher, uma lógica iniludível, como se dissesse: ‘Se tratam assim os cachorrinhos como não me hão-de tratar a mim que sou uma filha de Deus?’ Trata-se de uma lógica simples e humilde e, para Jesus, não é preciso mais para atender o que Lhe é solicitado.
Jesus não pode deixar de fazer um elogio claríssimo àquela mulher: «grande é a tua fé!» Uma lição para todos nós que nos contemos ou hesitamos perante a menor dificuldade que se levanta ao nosso objectivo de chegar perto do Senhor. Naturalmente que, se assim procedemos nas coisas pequenas ou de escasso relevo, como podemos aspirar a vencer os grandes obstáculos que, talvez, se nos deparem? Evidentemente, o Senhor está à nossa espera aguardando que vamos ter com Ele para Lhe pedir seja o que for, para agradecer, para expor algo que nos traz preocupados; mas não será por estar à nossa espera que teremos a “audiência” garantida mas, sim, como fruto – ou melhor – prémio – do nosso empenho e perseverança.  Cuidado com a “falsa humildade” que se insinua no nosso espírito levando-nos a não procurar Cristo considerando que não merecemos. Não esqueçamos que o Senhor nos quer como somos e não como desejaríamos ser.

29-37 -
Tantas vezes se tem comentado esta passagem do Evangelho que não será possível deixar de repetir algo do que já foi dito. De facto, este portentoso milagre, ficará para sempre como o prenúncio do milagre eucarístico que se repete milhares e milhares de vezes, todos os dias, na Santa Missa. Todos os que comungamos ficamos saciados e sobra sempre mais e mais alimento divino para que nunca tenhamos fome de Jesus. Se nos dermos bem conta desta maravilha, com que devoção, amor e agradecimento, não haveremos de comungar o Corpo, Sangue Alma e Divindade do Nosso Salvador?
        Muitos de nós já testemunhámos multidões incontáveis – por exemplo, em Fátima – com os sentidos, sobretudo o olhar, - postos no altar onde se celebra a Santa Missa. Espera-se o momento extraordinário da Consagração do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor. E mal se pode esperar que desçam desse altar os portadores das Hóstias Consagradas para as distribuírem a quantos desejarem receber a Sagrada Eucaristia. Repete-se o que o Evangelho de hoje descreve: Jesus distribui às mãos largas, alimento pelos que têm fome. E será sempre assim, porque Ele, nesse extraordinário milagre eucarístico, estará sempre disponível para saciar os que d’Ele se aproximam com fé e amor de filhos que esperam do seu Pai o alimento que tanto precisam.

37-38 –
      Jesus Cristo não Se deixa “vencer” em generosidade. Porque, poderia haver algum, ou alguns, de última hora que precisassem de alimento ali ficam disponíveis, «sete cestos»! A magnanimidade do Senhor é bem patente e verdadeira.


(AMA, 2018)





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