JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR 22
Iniciação à Cristologia
5. A Ascensão de Jesus aos céus
A ascensão constitui o termo dos mistérios de Jesus na terra e que tiveram início na Encarnação:
o que «saiu do Pai» agora «volta» ao Pai (Cf. Jo 16,28); 3,13).
Com a Ascensão conclui-se o mistério pascal da sua Morte e Ressurreição, conclui a «passagem» deste mundo ao Pai.
a) A Ascensão do Senhor à direita de Deus Pai, acontecimento ao mesmo tempo histórico e transcendente.
Segundo São Lucas, Jesus enquanto lhes dava a bênção «elevou-se na presença deles, e uma nuvem ocultou-o aos seus olhos» (Act 1,9).
E segundo São Marcos, «o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus» (Mc 16,19).
Nestes textos há que considerar dois aspectos:
Em primeiro lugar, «a elevação» que corresponde à experiencia sensível dos apóstolos com a qual Cristo desaparece dos seus olhos.
Em segundo aspecto, mais importante, é o significado por essa elevação: Cristo homem entra na glória de Deus invisível[1] e è exaltado acima de toda a criação.
O termo da Ascensão de Cristo, como nos diz a Escritura, é a direita de Deus Pai no céu, o qual é um modo metafórico de dizer.
Por «direita do Pai» entendemos a glória e a honra da divindade[2]; e por «estar sentado» entendemos que essa glória e poder – a posse do seu Reino – correspondem-lhe como algo próprio. Em resumo, expressamos deste modo que Cristo também enquanto homem – o Filho do homem – participa da glória e do poder soberano de Deus acima d todas as criaturas, como algo que lhe corresponde propriamente (cf. Ef 1,20-22; Dn 7,14).
A Ascensão de Jesus Cristo, que é um acontecimento ao mesmo tempo histórico (o facto que os apóstolos contemplaram) e também transcendente (pelo seu significado e conteúdo), é um artigo de fé proposto e confessado desde os símbolos mais antigos[3].
b) A Ascensão de Cristo manifesta aos discípulos a glória do Senhor
Durante a sua vida terrena Jesus não quis que o seu corpo participasse da glória da sua divindade para assim poder padecer e levar a cabo a nossa redenção.
Nalguma ocasião quis demonstrar no seu corpo a glória que lhe correspondia, como foi o caso da transfiguração no Tabor; mas então só se tratou de um processo passageiro.
O corpo de Cristo foi glorificado de modo definitivo e próprio desde o instante da sua Ressurreição.
Mas durante os quarenta dias seguintes, nos quais tratava familiarmente com os seus e os instruía sobre o Reino de Deus, a sua glória ainda ficava velada sob os traços de uma humanidade normal.
Com a Ascensão, completa-se a manifestação da glória da glória de Cristo que tinha começado com a sua Ressurreição: então mostra aos seus que vive e reina sobre toda a criatura «exaltado à direita de Deus» (Act 2,33).
Por isso os discípulos viram então a sua glória e se encheram de alegria (cf. Lc 24,52).
c) Sentido salvífico da Ascensão e exaltação celeste de Cristo
Jesus Cristo, Cabeça da Igreja, precede-nos no reino glorioso do Pai.
Cristo com a sua Ascensão abriu-nos o acesso à vida e à felicidade de Deus no céu: «quis preceder-nos como nossa Cabeça para que nós, membros do seu Corpo, vivamos com a ardente esperança de segui-lo no seu reino»[4].
Já o anunciou Jesus:
«Vou preparar-vos um lugar (...) para que onde eu estiver, estejais também vós» (Jo 14,2-3).
Jesus Cristo, Sacerdote da nova e eterna Aliança, no céu intercede sem cessar por nós.
Jesus Cristo, Sacerdote da Aliança nova e eterna, «entrou no céu para se apresentar agora ante o acatamento de Deus em nosso favor» (Heb 9,24).
A sua mediação e o seu sacerdócio não terminaram na cruz, antes no céu «vive para sempre possui um sacerdócio eterno (Heb 7,24) que exerce perenemente apresentando continuamente a seu Pai o sacrifício que um dia consumou no Calvário.
«Por isso pode salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, já que vive sempre para interceder por nós (Heb 7,25; cf. Rom 8,34).
Jesus Cristo, constituído Senhor com poder à direita do Pai, comunica-nos os dons divinos pela acção do Espírito Santo.
Cristo, ressuscitado e exaltado à direita do Pai, é o sacerdote e o Mediador da Aliança que nos comunica os frutos que nos ganhou com a sua Paixão:
«A cada um de nós se nos dá a graça na medida em que Cristo quer outorgar os seus dons (...) Subindo ao alto levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens (…) Subiu aos céus para levar tudo à plenitude» (Ef 4,7-10).
Para isto foi enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes aos que crêem para que, com a plenitude dos seus dons, os unisse a Jesus Cristo e os fizesse partícipes da vida da graça que procede d’Ele que é Cabeça de todos.
«No dia de Pentecostes (...) a Páscoa de Cristo consuma-se com a efusão do Espírito Santo»[5].
6. Jesus Cristo, glorioso à direita do Pai, é «o Senhor». E Rei do universo
a) Os títulos de Senhor e Rei
O título de «Senhor».
A versão grega do Antigo Testamento (LXX) traduziu o nome de Yahwé com o qual Deus se revelou a Moisés (cf. Ex 3,14) por «Kyrios» (Senhor).
Desde então «Senhor» foi o nome mais habitual para designar o Deus de Israel.
O Novo Testamento utiliza o título de «Senhor» para Deus Pai, mas também o emprega, e esta é a novidade, para Jesus.
Com este título expressa-se a divindade de Cristo, «Senhor da glória» (1 Cor 2,8), e da mesma forma se afirma a glória e o poder que Ele, enquanto homem exaltado à direita do Pai, tem sobre todas as criaturas.
Certamente, Jesus é o Senhor desde a sua Encarnação (cf. Lc 1,43), mas também como título ganho por nos ter resgatado com o preço do seu sangue (cf. Flp 2,9-11; Heb 2,9). E é a partir da sua glorificação quando se manifesta claramente como Senhor.
Já desde o princípio os cristãos atribuíram a Jesus ressuscitado este nome como resumo da sua fé n’Ele.
Também a oração cristã está marcada pelo título de «Senhor», e habitualmente conclui com a fórmula «por Jesus Cristo Nosso Senhor».
O título de «Rei».
O nome de «Rei» equivale ao de «Senhor»; e de modo semelhante a acção de sentar-se à direita do Pai significa a sua entronização como rei e a inauguração do seu reinado.
A partir da Ascensão, Cristo manifesta-se soberano «acima de todo o principado, potestade, virtude e dominação», tendo «tudo submetido debaixo dos seus pés» (Ef 1,20-22).
Como dissemos acerca do título de «Senhor», Jesus é igualmente Rei desde a sua Encarnação (cf. Lc 1,33; Jo 18,33-37), mas também o é por nos ter resgatado com o preço do seu sangue (cf. Ap 5,9-10), e manifesta-se como «Rei de reis e Senhor de senhores» a partir da sua glorificação (Ap 19,16), e a sua soberania será claramente manifestada a todos na sua segunda vinda (cf. Mt 25,31-46).
b) Natureza do seu senhorio e do seu reinado
O seu reino é sobrenatural.
O seu reinado «não é deste mundo» (Jo 18,37), e consiste na comunicação da ida divina aos homens.
Como diz São Paulo, o reino de Deus não consiste em coisas materiais, «antes é justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rom 14,17).
A liturgia da Igreja explica que o seu reino é «reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, d amor e de paz»[6].
O seu reinado é universal.
Por ser sobrenatural, o seu reino não está vinculado a nenhuma raça ou povo, nem a nenhuma forma política, nem a uma determinada condição social.
Cristo é Senhor de todos (Act 10,36). Ele morreu para salvação do género humano inteiro e a todos oferece a sua graça que salva.
O seu reinado também é universal no sentido em que Ele reina no céu e na terra. Ele domina sobre vivos e mortos; todos lhe pertencemos (cf. Rom 14,8-9; Act 10-42).
O seu reino é eterno, não terá fim (cf. Lc 1,33).
«Já chegou o reinado neste mundo de nosso Senhor e do seu Cristo» (Ap 11,15).
Neste mundo Cristo reina e agora nos seus fieis pela graça, que é uma participação da vida divina, e que constitui o gérmen e o começo do que será perfeito e para sempre na glória.
E Cristo «Sacerdote dos bens futuros» (Heb 9,11) e «autor da salvação eterna» (Heb 5,9; cf. 9,12), e também reina nos bem-aventurados do céu pela glória e felicidade que lhes comunica perenemente, que consiste na perfeita e plena participação da vida divina, da vida eterna pelos séculos sem fim.
Este é o reino consumado de Cristo e de Deus Pai que se nos promete em herança (cf. Ef 5,5).
Capítulo XII
OS FRUTOS DA REDENÇÃO
1. Unicidade e universalidade do mistério salvífico de Jesus
Há uma só economia divina da salvação de todos os homens cuja fonte e centro é Cristo[7].
Com efeito, a vontade salvífica universal de Deus centra-se em Cristo: Deus quer que todos os homens se salvem participando da redenção do seu Filho feito homem.
O Pai «elegeu-nos n’Ele (em Cristo) antes da fundação do mundo» (Ef 1,4), e «chamou-nos à união com o seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor» (1 Cor 1,9).
Cristo é o único Salvador do género humano, é o único Mediador e Salvador de todos, de modo que não tinha sido dado na terra outro nome aos homens pelo qual possam ser salvos (cf. Act 4,12).
Segundo o eterno desígnio divino a obra de Cristo é universal, está destinada à salvação de todos os homens. Jesus Cristo, identificado com a vontade de seu Pai, levou a cabo a sua obra redentora em favor de todo o género humano:
Como cabeça da nossa linhagem, feito solidário com todos, representava-nos e advogava por todos.
Assim, Ele entregou-se como redenção por todos os homens que foram, são e serão:
«por todos morreu Cristo» (2 Cor 5,15).
Jesus «é a vítima de propiciação pelos nossos pecados; não só pelos nossos, mas pelos do mundo inteiro» (1 Jo 2,2).
Esta é uma verdade de fé que, seguindo o ensinamento da Sagrada Escritura, a Igreja sempre ensinou:
«não há, houve ou haverá homem algum por quem não tenha padecido Cristo Senhor nosso»[8].
Vicente Ferrer Barriendos
(Tradução do castelhano por AMA)
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