JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR 17
Iniciação à Cristologia
c) Outros mistérios da infância de Jesus
«A apresentação de Jesus no templo (cf. Lc 2,22-39) mostra-o como o Primogénito que pertence ao Senhor (cf. Ex 13,2.12-13). Com Simeão e Ana é toda a expectativa da Israel que vem ao ‘encontro do seu salvador’ (a tradição bizantina chama assim a este acontecimento). Jesus é reconhecido como o Messias tão esperado, ‘luz das nações) e ‘glória de Israel, mas também ‘sinal de contradição’. A espada de dor predita a Maria anuncia outra oblação, perfeita e única, a da Cruz que dará a salvação que Deus preparou ‘ante todos os povos’[1].
«A fuga para o Egipto e a matança dos inocentes (cf. Mt 2,13-18) manifestam a oposição das trevas à luz:
‘Veio a sua casa, e os seus não o receberam’ (Jo1,11). Toda a vida de Cristo estará sob o sinal da perseguição. Os seus partilham-na com Ele (cf. Jo 15,20). O seu regresso do Egipto (cf. Mt 2,15) recorda o Êxodo (cf. Os 11,1) e apresenta Jesus como o libertador definitivo»[2].
3. Mistérios da vida oculta de Jesus em Nazaré
a) A normalidade da vida de Jesus. A sua vida de família e de trabalho, em particular
Jesus partilhou, durante a maior parte da sua vida a condição comum e normal da imensa maioria dos homens.
Por isso, os seus concidadãos o considerarão igual a eles em tudo, como um deles, e estranharão a sabedoria e os milagres que demonstra depois na vida pública (cf. Mc 6,2-3).
Talvez esses anos da vida de Jesus em Nazaré pareçam sem brilho humano, anos de sombra («vida oculta»), ou uma simples preparação para o seu ministério público; mas não é assim:
Jesus estava realizando a nossa redenção mediante o seu amor e obediência presentes em cada uma das suas obras que oferecia por nós ao Pai.
O Verbo eterno redimiu e santificou assim todas as realidades nobres com que está entretecida a vida comum dos homens:
a família, as amizades e relações sociais, o trabalho e o descanso, etc.
E todos esses actos de Cristo em Nazaré são também um ensinamento para nós: «Jesus, nosso Senhor e modelo, crescendo e vivendo como um de nós, revela-nos que a existência humana – a tua -, as ocupações correntes e ordinárias, têm um sentido divino, de eternidade»[3].
A vida de família.
Parte principal da vida de Jesus em Nazaré era a vida de família, que o Evangelho resume em poucas palavras porque era norma, ao mesmo tempo que divina:
«o Menino ia crescendo e fortalecendo-se cheio de sabedoria e a graça de Deus estava n’Ele» (Lc 2,40); e mais adiante acrescenta-se que «veio com eles (com os seus pais) para Nazaré e estava-lhes submetido» (Lc 2,51).
Tal como Jesus santifica a vida familiar e nos redime, a sagrada Família constitui o espelho e modelo de toda a família: mostra-nos a sua entranhável comunicação de amor, a sua simples e austera beleza, o seu carácter sagrado e inviolável, o insubstituível da sua função no plano das pessoas individuais e da vida social.
A vida de trabalho.
Jesus dedicou a maior parte da sua vida ao seu trabalho junto de José, até depois de ter cumprido trinta anos.
De facto, os seus concidadãos conhecem-no por «o artesão» (Mc 6,3).
Esforçava-se por fazer bem esse trabalho, cuidando os detalhes, vivendo-o com espírito de serviço e tratando com amabilidade os vizinhos:
«tudo fez bem» (Mc 7,37).
Nas mãos de Jesus o trabalho converte-se em tarefa divina, em «realidade redimida e redentora: não só é o âmbito em que o homem vive, mas também meio e caminho de santidade, realidade santificável e santificadora»[4].
Por isso, a vida de Jesus em Nazaré foi chamada «o Evangelho do trabalho» já que constitui uma lição da dignidade e do valor do trabalho; um ensinamento para nos unirmos a Deus com essa actividade e, por meio dela, colaborar na salvação do mundo.
b) O episódio do Menino Jesus perdido e achado no Templo
Este acontecimento é o único que «rompe o silêncio dos Evangelhos sobre os anos ocultos de Jesus.
Jesus deixa entrever nele o mistério da sua consagração total a uma missão derivada da sua filiação divina:
‘Não sabíeis que me devo aos assuntos de meu pai’ (Lc 2,49).
Maria e José ‘não compreenderam’ esta palavra, mas acolheram-na na fé, e Maria ‘conservava cuidadosamente todas as coisas no seu coração’, ao longo de todos os anos em que Jesus permaneceu oculto no silêncio de uma vida normal»[5].
Jesus dá-nos o exemplo da decisão que temos de ter para cumprir a vontade divina ainda que custe sacrifício e ainda que outros não a compreendam.
4. Mistérios da vida pública de Jesus
a) O Baptismo de Jesus no Jordão
João o Baptista proclamava um «baptismo de conversão para o perdão dos pecados» (Lc 3,3), e muitas pessoas acudiam e eram baptizadas.
Jesus também veio e foi baptizado depois de manifestar que queria «cumprir toda a justiça» (Mt 3,15) e levar a cabo o plano de seu Pai para a nossa salvação.
«A esta aceitação responde a voz do Pai que põe toda a sua complacência no seu Filho (cf. Lc 3,22; Is 42,1). E o espírito que Jesus possui em plenitude desde a sua concepção, vem ‘poisar’ sobre Ele (Jo 1,32-33; cf. Is 11,2)»[6].
No baptismo Jesus é manifestado como Filho de Deus e Messias, e a partir de então começa o seu ministério público.
O baptismo é uma «epifania» pública de Jesus ao mesmo tempo que constitui uma revelação da Trindade.
Não é que então Jesus comece a ser Filho de Deus, nem comece a possuir o Espírito Santo, nem comece a ser o Messias, nem é então que toma consciência da sua missão messiânica; mas sim é então que o seu messianismo é manifestado a Israel.
O baptismo constitui o começo do ministério público de Jesus (cf. Act 1,22), e a partir de então o Senhor começa a ensinar abertamente as gentes, confirmando a sua doutrina com milagres, e a reunir um grupo de discípulos.
O baptismo de Jesus é modelo do baptismo cristão.
«No seu baptismo, ‘abriram-se os céus’ (Mt 3,16) que o pecado de Adão tinha fechado; e as águas foram santificadas pela descida de Jesus e do Espírito como prelúdio da nova criação»[7].
Com efeito, o nosso baptismo assemelha-se ao de Jesus, pois quando somos baptizados em nome da Trindade somos feitos filhos de Deus, o Espírito Santo desce sobre nós e abre-nos o acesso ao céu.
b) As tentações do deserto
Imediatamente depois do seu baptismo, Jesus é «impelido pelo Espírito Santo» para o deserto.
Ali permanece em oração e sem comer durante quarenta dias; vive entre os animais e os anjos serviam-no (cf. Mc 1,12-13).
No final deste tempo, Satanás tenta-o três vezes tratando de pôr à prova a sua atitude filial para com Deus. Jesus rejeita estes ataques e o diabo afasta-se d’Ele «até ao tempo determinado» (Lc 4,13).
As tentações de Cristo formam parte da sua vitória sobre o Maligno.
Jesus é o novo Adão que vence onde o primeiro foi derrotado pelo tentador. Jesus vence onde Israel no deserto provocou Deus e sucumbiu (cf. Sal 95/94,10). Cristo é o mais forte que ata e despoja Satanás do seu poder e liberta-nos da sua escravidão (cf. Mc 3,27). A vitória de Cristo sobre o diabo consumar-se-á na cruz, mas começou antes; e essas tentações constituem um momento assinalado em que se manifesta a sua vitória.
As tentações referem-se à natureza do messianismo de Cristo.
As três tentações recapitulam as três tentações de Adão no paraíso e as de Israel no deserto.
Satanás tenta Jesus para que oriente a sua missão para o temporal, par um messianismo terreno; para o bem-estar material, a glória e o poder humanos.
E Cristo responde que a sua missão é servir exclusivamente a Deus e abandonar-se confiadamente nas mãos do Pai, sem procurar a sua utilidade ou ambição humana à margem do plano divino [8].
Cristo dá-nos exemplo de como lutar contra o maligno e vencê-lo, pois Ele «foi provado em tudo igual a nós, excepto no pecado» (Heb 4,15).
Para vencer o mal temos sobretudo de procurar o Reino de Deus e a sua justiça (cf. Mt 6,33) e procurar cumprir a sua vontade; ao mesmo tempo, temos de eliminar o apego aos bens materiais, à soberba e à ambição.
Deste modo não nos prostraremos nunca ante nada terreno e seremos livres.
c) A pregação de Jesus
A actividade de Jesus durante a sua vida pública centra-se na pregação do Reino de Deus (cf. Mt 4,23; 9,35).
«Depois de João ter sido preso, veio Jesus á Galileia pregando a Boa Nova de Deus, e dizendo: O tempo cumpriu-se e o Reino de Deus está perto; convertei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1,14-15).
Este reino consiste em que os homens sejam tornados partícipes da vida e terna e feliz de Deus.
A sua pregação é exequível, simples e clara, e simultaneamente exigente.
Jesus ensina com amor a verdade às almas; por isso, o seu ensinamento é muito concreto e realista em todo o momento.
E está cheio de comparações e exemplos simples e bem conhecidos dos ouvintes que contribuem para tornar claros os seus ensinamentos (cf. Os exemplos da sementeira, as ervas más, as fainas da pesca, a confecção do pão, as festas de bodas, etc.).
Explica frequentemente «o mistério do reino dos céus» por meio de parábolas (cf. Mt 13,10-13); comparações prolongadas que constituem um traço dos seus ensinamentos.
Por meio delas convida para o banquete do reino (cf. Mt 22,1-14), mas também exige que acolhamos as suas palavras com fé e nos decidamos seriamente a segui-las para alcançar o Reino, ainda que haja que dar tudo (cf. Mt 13,44-45).
d) Os milagres de Jesus
Jesus acompanha a sua doutrina com milagres, que a Escritura chama também «sinais» porque são feitos admiráveis e sobre-humanos que fazem referência a outra realidade divina.
Os milagres são sinais do Messias anunciado.
«Ao libertar alguns homens dos males terrenos da fome (cf. Jo 6,5-15), da injustiça, (cf. Lc 19,8), da doença e da morte (cf. Mt 11,5) Jesus realizou uns sinais messiânicos; não obstante, não veio para abolir todos os males daqui de baixo (cf. Lc 12,13.14; Jo 18,36), mas libertar os homens da escravidão mais grave, a do pecado (cf. Jo 8,34,36), que é o obstáculo na sua vocação de filhos de Deus e causa de todas as suas servidões humanas»[9].
Vicente Ferrer Barriendos
(Tradução do castelhano por ama)
[1] CCE, 529.
[2] CCE, 530.
[3] S. JOSEMARÍA ESCRIVÁ, Forja, 688.
[4] S. JOSEMARÍA ESCRIVÁ, Cristo que Passa, n. 47.
[5] CCE, 534.
[6] CCE, 536.
[7] CCE, 536.
[8] Jesus ao longo da sua vida rejeitou outras tentações semelhantes provenientes do seu ambiente (cf. Mt 27,42), e inclusive dos seus discípulos (cf. Mt 16,21-23), contrárias ao plano do Pai e à sua missão redentora.
[9] CCE, 549.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.