(Cfr. Lc 8, 49-56)
A gratidão é das
mais belas manifestações humanas e das que mais enobrecem o carácter. Confundir
gratidão com subserviência ou rebaixamento é não ter a noção de que tudo
devemos.
De facto, o que é
que temos como nosso?
O sopro que nos
mantém vivos; as qualidades que nos permitem viver em sociedade; a fortaleza e
coragem para ultrapassar as dificuldades e maus momentos; o arrependimento e
compunção pelos nossos erros; o bem que fazemos aos outros; a compaixão; a
ternura; o amor; tudo, absolutamente, nos é dado por Deus ou d’Ele provém.
«Tu, o que és? Rico ou pobre? Muitos me
dizem: eu sou pobre, e dizem a verdade. Vejo pobres que possuem alguma coisa;
vejo alguns que são completamente indigentes. Mas aqui está um em cuja casa
abunda o ouro e a prata - oh! Se ele soubesse como é pobre! Reconhecê-lo-ia se
olhasse o pobre que está perto dele. Aliás, seja qual for a tua opulência, tu
que és rico, não passas de um mendigo à porta de Deus.
Eis a hora da oração… Fazes os pedidos; o
pedido não é ele uma confissão da tua pobreza? Com efeito, tu dizes: "O
pão-nosso de cada dia nos dai hoje". Portanto, tu que pedes o teu pão
quotidiano, és tu rico ou pobre? E, contudo, Cristo não tem medo de dizer: "Dá-me o
que eu te dei. De facto, que é que tu trouxeste ao vir a este mundo? Tudo o que
encontraste na criação, fui eu que o criei. Tu não trouxeste nada, não levarás
nada. Porque não me dás o que é meu? Tu estás na abundância e o pobre na
necessidade, mas remonta ao início da vossa existência: ambos nasceram
completamente nus. Mesmo tu, tu nasceste nu. Em seguida tu encontraste aqui em
baixo grandes bens; mas trouxeste por acaso alguma coisa contigo? Peço pois o
que dei; dá e eu restituir-te-ei".
"Tu tens-me por benfeitor; torna-me o teu
devedor, a uma taxa elevada… Dás-me pouco, restituir-te-ei muito. Tu dás-me os
bens deste mundo, eu dar-te-ei os tesouros do céu. Tu dás-me riquezas temporais,
eu instalar-te-ei sobre as posses eternas. Dar-te-ei a ti, quando eu tiver
tomado posse de ti". [1]
O reconhecimento do
pouco que somos e, sobretudo, da nossa incapacidade para, por nós mesmos,
conseguirmos algo, se Deus não o permitir, é uma condição de humildade, sem
dúvida, mas é, antes de mais, a constatação da nossa humanidade. Todas as
nossas acções devem dirigir-se a Deus porque dele viemos e para Ele tendemos e
tudo o que fora disto fizermos está condenado ao fracasso ou, quando muito a
uma satisfação momentânea.
Realmente, não
temos direito a exigir nada porque o nosso mérito, pouco ou muito, depende da
avaliação que o Senhor faça. E, Ele é Justo e não pode querer nada que não seja
o melhor para nós.
É, de facto, um
mistério, a Vontade de Deus a nosso respeito e interrogamo-nos frequentemente
se Ele não estará “surdo” ou “distraído” em face do que nos acontece. Sobretudo
quando as dificuldades apertam e os problemas parecem que se avolumam no
horizonte, as soluções não estão patentes nem vislumbramos uma saída, empenhamo-nos
com veemência na petição.
«Não pedimos com
egoísmo, nem cheios de soberba, nem com avareza, nem por inveja.
Se a nossa petição
é, por exemplo, a ajuda nuns exames, um favor material, curar uma doença, etc.,
devemos examinar na presença de Deus os verdadeiros motivos dessa petição.
Perguntar-lhe-emos na intimidade da nossa alma se isso que solicitámos nos
ajudará a amá-lo mais e a cumprir melhor a Sua Vontade.
Em muitas ocasiões
dar-nos-emos conta do pouco relevo disso que nos parecia de vida ou morte, e
dar-nos-emos conta que aquilo que desejávamos desesperadamente não era assim
tão importante. Saberemos identificar a nossa vontade à Vontade de Deus e,
então, vai muito melhor encaminhada a nossa petição». [2]
(AMA, reflexões).
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