(Cfr. Lc 8, 49-56)
É interessante
verificar que Jesus, quando atende uma súplica, concede uma graça, efectua um
milagre, diz quase sempre as mesmas duas palavras “chave”:
«Vai em paz» e «a tua fé te salvou».
A paz é
verdadeiramente o principal dom de Deus aos homens.
Por nós próprios,
somos incapazes de viver em paz, connosco e com os outros.
Connosco, porque me
debato permanentemente nessa discussão íntima do fazer isto ou fazer aquilo, as
minhas prioridades, se actuo bem e convenientemente em cada circunstância, se
dou bem conta do que devo fazer.
Essa luta
permanente que é a procura de um lugar na sociedade que me garanta o sustento,
o acesso ao que desejo, aquilo que me considero merecedor.
Quantas vezes, me
deixo levar pela imaginação, arquitectando futuros que julgo os mais risonhos,
ou deixando-me acabrunhar com a visão da catástrofe, da falta de meios, da
exiguidade de recursos.
Tudo isto se traduz
numa inquietação, num desassossego que quase me tira a paz.
Olho e não vejo,
toco e não sinto, julgo ouvir e estou surdo.
Não estou bem em
nenhum lugar, almejo sempre por outra situação, mais aprazível, menos
trabalhosa, mais compensadora.
Começo uma tarefa
que logo deixo por outra, começando um sem número de coisas que nunca chego a
acabar, esboços que nunca se concluem em quadros com consistência, princípio,
meio e fim.
Com os outros,
porque tenho sempre a atenção focada no que fazem e como fazem, pronto a
levantar a dúvida da justiça do seu actuar, a clareza das suas intenções e a
bondade das suas relações com Deus.
Tudo isto,
obviamente, são obstáculos à paz na minha vida.
Por isso peço,
diariamente:
«Senhor que eu saiba ser reconhecido aos outros pelo seu interesse e
orações por mim, mantendo-me atento às suas necessidades, mesmo que as não
conheça em pormenor. Que o meu coração, o meu pensamento, não girem à volta de
mim mesmo e dos meus problemas, mas tendo em conta, em primeiríssimo lugar, os
outros.
Senhor, ajuda-me a pensar nos outros em vez de, com tanta frequência, estar
concentrado apenas no que me diz respeito.
Os outros! Todos os outros. Os que conheço, de quem sou amigo ou familiar e
aqueles que me são desconhecidos. São todos Teus filhos como eu, logo, todos
são meus irmãos. Se somos irmãos, somos também herdeiros, convém, portanto, que
me preocupe com aqueles que vão partilhar a herança comigo.
Ajuda-me Senhor, a conter-me no meu tão frequente julgamento dos outros.
Intimamente e de viva voz. Põe na minha frente o espelho dos meus próprios
defeitos e faltas de carácter, tudo aquilo que julgo ver nos outros.
AMA,
reflexões sobre o Evangelho, 2006)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.