(Cfr. Lc 8, 49-56)
O lógico é que, quem tem olhos… veja. Não precise, para ver, mais que luz,
claridade e, aqui, bate o ponto: como é possível ver no escuro?
Como pode descortinar-se o quer que seja, permanecendo na comodidade - e
cobardia - do ensimesmamento, da clausura em si mesmo, recusando-se
sistematicamente a tomar conhecimento do que a Igreja legisla, o Papa
esclarece, Jesus Cristo adverte?
Ninguém pode dizer que não sabe se não quer ver, se recusa, pelo menos,
tomar conhecimento.
Aparentemente, estamos perante uma dificuldade:
Para se ter luz é preciso seguir Cristo e, só seguindo Cristo se andará na
Luz.
Parece difícil de resolver, mas não é. Trata-se apenas de uma norma de
conduta, de vida. Fazer o bem ou fazer o mal, nada mais que isto.
Com efeito, o próprio Jesus nos dá esta mesma razão:
«É que todo aquele que pratica más
acções odeia a Luz e não se aproxima da Luz, para não serem expostas a
descoberto as suas obras. Quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, para se
tornar bem claro que as suas obras estão realizadas em Deus.» [2]
Quem se
esconde e desvia da luz, quem procura as sombras, a escuridão, quer passar
despercebido, não quer ser visto, notado. Deseja refugiar-se num anonimato sem
rosto nem nome pelo qual possa ser reconhecido ou chamado.
Antes de mais, é conduzido pela cobardia.
Não quer assumir uma responsabilidade, ter uma posição inequívoca, o seu
desejo é estar de bem com tudo e com todos, transigir, condescender, não ter
critério próprio.
Vive como que metido numa carapaça pretendendo uma identidade que não é a
sua.
No fundo, não se conhece ou, pior, recusa conhecer-se e foge da luta para o
conseguir.
«Ó Deus que me conheces perfeitamente tal como sou,
ajuda-me a conhecer-me a mim mesmo, para que possa combater com eficácia os
enormes defeitos do meu carácter, em particular...
Chamaste-me
Senhor, pelo meu nome e eu aqui estou: com as minhas misérias, as minhas
debilidades, com palavras maiores que os actos, intenções mais vastas que as
obras e desejos que ultrapassam a vontade. Porque
não sou nada, não valho nada, não sei nada e não posso nada, entrego-me
totalmente nas Tuas mãos para que, por intercessão de minha Mãe, Maria
Santíssima, de São José, meu pai e senhor, do Anjo da minha Guarda e de São
Josemaria, possa adquirir um espírito de luta perseverante.» [3]
(AMA,
reflexões sobre o Evangelho, 2006)
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