05/01/2020

THALITA KUM 61


THALITA KUM 61 

(Cfr. Lc 8, 49-56)





Os milagres de Jesus fazem parte integrante da Sua missão. Destinam-se a confirmar a fé dos mais incrédulos, a convencer os mais obstinados. O Seu Coração Amantíssimo não pode deixar de se mover e, os milagres, as curas, as ressurreições, são como que inevitáveis.
Jesus não resiste ao sofrimento, à dor, à miséria física ou moral do homem.

Nada disto, porém, é suficiente para os Seus inimigos. Aliás, nada do que Jesus, se quisesse, poderia fazer, por mais portentoso, fantástico, espectacular, será suficiente. [1]
Quando não encontram explicação refugiam-se na blasfémia:

Este não expulsa os Demónios senão por Belzebu, príncipe dos Demónios[2]

Jesus não Se surpreende com esta obstinação, numa das Suas parábolas explica exactamente a razão porque não colhe. [3]

Ainda nos dias de hoje isto acontece e, com tanta frequência! Somos levados como que por um excesso de zelo a encontrar explicações para o que não entendemos.
Excesso de zelo, entenda-se, porque nos consideramos pessoas inteligentes, com critério, que sabemos muito bem distinguir os momentos e ocasiões em que é conveniente desviar a conversa para assunto menos polémico ou controverso como podem ser as questões da fé, ou da Igreja, ou do Papa ou… “cada coisa no seu lugar”, dizemos com a segurança de quem diz uma verdade intrínseca.

Igreja, Papa, Fé são assuntos para se falarem em local e circunstâncias próprias, adequadas. Não vá acontecer, que alguém diga que, tudo não passa de uma fantasia, fanatismo ou manipulação das consciências e nós nos vejamos embrenhados numa discussão que não nos apetece ter.

Não… não é “quem cala consente”, é antes… decoro, pudor, contenção.

Mas, claro, deveríamos dizer: medo, cobardia, falsas razões, comodismo… mas, ficamo-nos por aí, a menos que, consideremos ter audiência a nosso favor, que podemos, seguramente, “marcar pontos” e, então podemos empenhar-nos na discussão.
Tal como no tempo de Jesus na Palestina, também procedemos como os Fariseus e os Príncipes dos Sacerdotes: vemos a verdade, compreendemos o que acontece, mas julgamos mais adequado passar adiante.

(AMA, reflexões sobre o Evangelho, 2006)



[1] Entre as acusações mais antigas de judeus e pagãos contra Jesus encontra-se a de ser um mago. No século II, Orígenes refuta as imputações de magia que Celso faz do Mestre de Nazaré e às que aludem São Justino, Arnóbio e Lactâncio. Também algumas tradições judaicas que podem remontar ao século II contêm acusações de feitiçaria. Em todos estes casos, não se afirma que ele não tenha existido, ou que não tenha realizado prodígios, mas que os motivos que o levavam a fazê-los eram o interesse e a fama pessoais. Destas afirmações se conclui a existência histórica de Jesus e a sua fama de taumaturgo, tal como o mostram os evangelhos. Por isso, hoje em dia, entre os dados que se dão por demonstrados sobre a vida de Jesus, está o facto de ter realizado exorcismos e curas. No entanto, em relação a outros personagens da época conhecidos por realizar prodígios, Jesus é único. Distingue-se pelo número muito maior de milagres que fez e pelo sentido que lhes deu, absolutamente diferente dos prodígios que realizaram alguns desses personagens (se é que realmente os fizeram) de milagres atribuídos a outros taumaturgos é muito reduzido, enquanto nos evangelhos temos 19 relatos de milagres em Mt, 18 em Mc; 20 em Lc e 8 em Jo Além disso há referências nos sinópticos e João a muitos outros milagres que Jesus fez (Cfr. Mc 1, 32-34 e par.; 3, 7-12 e par.; 6, 53-56; Jo 20, 30). É também diferente de qualquer outro taumaturgo: Jesus faz milagres que implicavam nos beneficiados um reconhecimento da bondade de Deus e uma mudança de vida. A sua resistência a fazê-los mostra que não buscava a sua própria exaltação ou glória. Daí que tenham um significado próprio. Os milagres de Jesus entendem-se no contexto do Reino de Deus: “Se eu expulso os demónios pelo Espírito de Deus, é porque o Reino de Deus chegou a vós” (Mt 12, 28). Jesus inaugura o Reino de Deus e os milagres são uma chamada a uma resposta e fé. Isto é fundamental e distintivo dos milagres que fez Jesus. Reino e milagres são inseparáveis. Os milagres de Jesus não eram fruto de técnicas (como um médico) ou da actuação de demónios ou anjos (como um mago), mas resultado do poder sobrenatural do Espírito de Deus. Portanto, Jesus fez milagres para confirmar que o Reino estava presente nele, anunciar a derrota definitiva de Satanás e aumentar a fé na sua Pessoa. Não podem explicar-se como prodígios assombrosos, mas como actuações de próprio Deus com um significado mais profundo do que o facto prodigioso. Os milagres sobre a natureza são sinais de que o poder divino que actua em Jesus se estende para além do mundo humano e se manifesta como poder de domínio também sobre as forças da natureza. Os milagres de cura e os exorcismos são sinais de que Jesus manifestou o seu poder de salvar o homem do mal que ameaça a alma. Uns e outros são sinais de outras realidades espirituais: as curas do corpo – a libertação da escravidão da doença – significam a cura da alma da escravidão do pecado; o poder de expulsar os demónios indica a vitória de Cristo sobre o mal; a multiplicação dos pães alude ao dom da Eucaristia; a tempestade acalmada é um convite a confiar em Cristo nos momentos da contradição ou da dificuldade; a ressurreição de Lázaro anuncia que o próprio Cristo é a ressurreição, e é figura da ressurreição final; etc. (Cfr. Jesus Cristo e a Igreja, 54 Perguntas e Respostas, textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade 3,20-de Navarra, dirigida por Francisco Varo.)
[2] Mt 12, 24.
[3] Cfr. Mt 12, 22-37.

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