(Cfr. Lc 8, 49-56)
Ser servo e ser amigo
Há de facto uma diferença e vê-se bem qual é.
O amo pode ser amigo do seu servo, isto é, sente amizade por ele porque faz
o que lhe manda fazer, é diligente, não recalcitra, aceita de bom grado o trabalho
que lhe encomenda, a sua liberdade para escolher outro servo está condicionada
pela aptidão que esse outro possa ter para cumprir as tarefas que este cumpre a
contento, mas mesmo querendo-lhe como amigo tratá-lo-á sempre como servo.
O inverso pode também ser verdadeiro, o servo pode ter amizade pelo seu
senhor porque é justo, o trata com urbanidade, não lhe exige tarefas que vão
além das suas capacidades, mas sempre o considerará como seu amo e não tem a
liberdade de poder escolher outro.
Então a diferença está exactamente nisto: os amigos verdadeiros são-no em
qualquer circunstância e não se exigem nada um ao outro pelo contrário gozam
com as diferenças e idiossincrasias de cada um encontrando sempre pontos comuns
ou que se completam.
São livres de ter outros amigos, diferentes interesses e objectivos.
Sim, de facto existem diferenças e de monta, mas também existe algo que é
comum e, esse algo, é exactamente o serviço.
Os amigos verdadeiros prestam-se serviços mútuos, pequenos ou grandes, de
muita ou escassa importância. Serviço que começa na disponibilidade gratuita
para suprir uma necessidade, ajudar a ultrapassar um momento menos bom, na
partilha da alegria e da dor do outro, tudo como que balizado por um profundo
respeito mútuo pela privacidade de cada um.
É esta a amizade à qual o Senhor se refere [1] e, de facto, uma amizade assim pode conduzir à dádiva da própria vida pelo
amigo.
‘Esta realidade que
me atinge como um raio, deixa-me sem palavras: Jesus é meu amigo!
Sendo eu o que sou.
Sendo eu como sou.
Durante os anos, e
não são poucos, quantas conversas, quantos desabafos, queixas e pedidos não Lhe
fiz!
Meu amigo!
Jesus é meu amigo.
Com esta certeza, com este AMIGO, que mais posso precisar?
(AMA,
reflexões sobre o Evangelho, 2006)
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