O
outro inimigo, escreve S. João, é a concupiscência dos olhos, uma avareza de
fundo que nos leva a valorizar apenas o que se pode tocar. Os olhos ficam como
que pegados às coisas terrenas e, por isso mesmo, não sabem descobrir as
realidades sobrenaturais. Podemos, portanto, socorrer-nos desta expressão da
Sagrada Escritura para nos referirmos à avareza dos bens materiais e, além
disso, àquela deformação que nos leva a observar o que nos rodeia - os outros,
as circunstâncias da nossa vida e do nosso tempo - só com visão humana.
Os
olhos da alma embotam-se; a razão crê-se auto-suficiente para compreender todas
as coisas, prescindindo de Deus. É uma tentação subtil, que se apoia na
dignidade da inteligência, da inteligência que o nosso Pai, Deus, deu ao homem
para que O conheça e O ame livremente. Arrastada por essa tentação, a
inteligência humana considera-se o centro do universo, entusiasma-se de novo
com a falsa promessa da serpente, sereis como deuses, e, enchendo-se de amor
por si mesma, volta as costas ao amor de Deus.
(...)
A luta contra a soberba há-de ser constante, pois não se disse já, dum modo tão
gráfico, que essa paixão só morre um dia depois da morte da pessoa? É a altivez
do fariseu, a quem Deus se mostra renitente em justificar por encontrar nele
uma barreira de auto-suficiência. É a arrogância que conduz a desprezar os
outros homens, a dominá-los, a maltratá-los, porque, onde houver soberba aí
haverá também ofensa e desonra. (Cristo que passa, 6)
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