28/11/2019

THALITA KUM 22


THALITA KUM 22

(Cfr. Lc 8, 49-56)

Voltamos ao leproso.

«Se quiseres podes limpar-me». [1]

Que manifestação de fé, confiança absoluta no Senhor!

Uma confissão tão simples, sem rodeios, sem muitas palavras não pode deixar de tocar no fundo do Coração amantíssimo de Jesus. Ele olha para aquele homem, um destroço humano de quem todos se afastam com repulsa e compadece-se de tal forma que faz algo tão extraordinário, - que deve ter espantado tanto os circunstantes -, que o evangelista achou que o deveria fazer constar:

«Ele, enternecido, estendeu a mão e tocou-o».[2]

Jesus não sente repulsa por ninguém, por mais doente que o homem possa estar, por mais grave ou horroroso que seja o mal que o afecta.
Pois se não há pior mal que o pecado, nem nada mais horrível, e, Ele, nos acolhe, esquece, perdoa!

Jesus não nos afasta nunca, somos nós que nos afastamos dele.
Há uma frase de Jesus que nos deve tranquilizar a este respeito:

«Em verdade vos digo que aos filhos dos homens serão perdoados todos os pecados e todas as blasfémias que proferirem». [3]

Que afirmação extraordinária, esta, de Jesus! Que entranhas de misericórdia!
Quem, entre os homens, poderia alguma vez dizer tal coisa?

Nós que, muitas vezes andamos carregados com uma lista de agravos, desconsiderações, atropelos; que, pensamos, nos são feitos; a nossa dignidade ferida, a importância que nos atribuímos desprezada, as qualidades, que julgamos possuir, ignoradas… não nos lembrando, quase nunca, das vezes que fizemos juízos, pensámos o pior, avistámos defeitos, erros, incongruências, coisas estranhas; os comentários, as lucubrações, insinuando, levantando a dúvida, a suspeita…
Vamos, assim, pela vida, muitas vezes, com uma postura de personagem ferida sem repararmos que, a maior parte das vezes, o único ferimento que ostentamos está no nosso orgulho.

Jesus, não!

Perdoa tudo, absolutamente, quando o homem, arrependido e contrito, se ajoelha aos Seus pés e Lhe pede perdão.
Mas não só perdoa, o que já seria muito, esquece e coloca-nos novamente ao pé de Si como se nunca dali tivéssemos saído.
Como o pai do filho pródigo, restitui-nos a posição, a dignidade e a liberdade: o anel no dedo, o melhor vestido, as sandálias nos pés. E nós, pecadores miseráveis, vamos e vimos, uma e outra vez, quase sempre pelos mesmos motivos, com as mesmas faltas, numa repetição de erros, abandonos, fraquezas e, Ele, sempre á nossa espera e mal nos avista ao longe «corre ao nosso encontro a lançar-se ao nosso pescoço e a beijar-nos». [4]

(AMA, reflexões sobre o Evangelho, 2006)



[1] Mc 4, 5-40.
[2] Mc 1, 41.
[3] Mc 3, 28-29.
[4] Cfr. Lc 15, 20-22.

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