AUGUSTISSIMAE
VIRGINIS MARIAE
DE SUA SANTIDADE
PAPA LEÃO XIII
4 –
A Confraria do Rosário
8.
Depois, conforme já dissemos, como as orações públicas têm uma excelência e uma
eficácia maiores do que as privadas, por isto a Confraria do Rosário também foi
chamada pelos escritores eclesiásticos "milícia orante, alistada pelo
Patriarca Domingos, sob as insígnias da divina Mãe"; isto é, daquela que a
Sagrada Escritura e os fastos da Igreja saúdam como vencedora do demónio e de
todas as heresias.
E
isto porque o Rosário mariano liga com um vínculo comum todos aqueles que podem
associar-se a ela, fazendo-os, como que irmãos e co-milicianos.
E
assim eles formam uma fortíssima falange, inteiramente armada e pronta a
repelir os assaltos dos inimigos, quer internos, quer externos.
Por
isto, os membros desta pia associação podem com razão aplicar a si mesmos
aquelas palavras de S. Cipriano:
"Nós
temos uma oração pública e comum, e, quando oramos, não oramos por um simples indivíduo,
mas pelo povo todo, porque, quantos somos, formamos uma coisa só" [1].
9.
Aliás, a história da Igreja atesta a força e a eficácia destas orações,
recordando-nos a derrota das forças turcas na batalha naval de Lepanto, e as
esplêndidas vitórias alcançadas no século passado sobre os mesmos Turcos em
Temesvar, na Hungria, e perto da ilha de Corfu.
Do
primeiro facto permanece como monumento perene a festa de Nossa Senhora das
Vitórias, instituída por Gregório XIII, e depois consagrada e estendida à
Igreja universal por Clemente XI, sob o nome de festa do Rosário.
Justificação
do Rosário
10.
Pelo facto, pois, de estar esta milícia orante "alistada sob a bandeira da divina Mãe", ela adquire uma nova
força e se ilustra de nova alegria, como sobretudo demonstra, na recitação do
Rosário, a frequente repetição da saudação angélica depois da oração dominical.
Esta
prática, longe de ser incompatível com a dignidade de Deus - como se insinuasse
que nós devemos confiar mais em Maria Santíssima do que no próprio Deus - tem,
ao contrário, uma particularíssima eficácia para O comover e no-lo tornar propício.
Com
efeito, a fé católica ensina-nos que nós devemos orar não só a Deus, mas também
aos Santos [i], embora de maneira diferente:
A Deus,
como fonte de todos os bens; aos Santos, como intercessores.
"De
dois modos pode-se dirigir a alguém um pedido, diz S. Tomás: com a convicção de
que ele possa atendê-lo ou com a persuasão de que ele possa impetrar aquilo que
se pede.
Do
primeiro modo só oramos a Deus, porque todas as nossas preces devem ser dirigidas
à consecução da graça e da glória, que só Deus pode dar, como é dito no Salmo
83, 12: "A graça e a glória dá-a o
Senhor".
Da
segunda maneira apresentamos o mesmo pedido aos santos Anjos e aos homens; não
para que, por meio deles, Deus venha a conhecer os nossos pedidos, mas para
que, pela intercessão deles e pelos seus méritos, as nossas preces sejam
atendidas.
E
por isto, no capítulo VIII, 4 do Apocalipse se diz que o fumo dos aromas, pelas orações dos Santos, subiu da mão do Anjo à
presença de Deus" [2].
Ora,
entre todos os Santos que habitam as mansões bem-aventuradas, quem poderá
competir com a augusta Mãe de Deus em impetrar a graça?
Quem
poderá com maior clareza ver no Verbo eterno de Deus as nossas angústias e as
nossas necessidades?
A
quem foi concedido maior poder em comover a Deus?
Quem
como ela tem entranhas de maternal piedade?
É
este precisamente o motivo pelo qual nós não oramos aos Santos do Céu do mesmo
modo como oramos a Deus; "porquanto
à SS. Trindade pedimos que tenha piedade de nós, ao passo que a todos os outros
Santos pedimos que roguem por nós" [3].
Em
vez disto, a oração que dirigimos a Maria tem algo de comum com o culto que se presta
a Deus; tanto que a Igreja a invoca com esta expressão, que se costuma
endereçar a Deus: "Tem piedade dos
pecadores".
Portanto,
os confrades do santo Rosário fazem muito bem em entrelaçar tantas saudações e
tantas preces a Maria, como outras tantas coroas de rosas.
Com
efeito, diante de Deus Maria é "tão
grande e vale tanto que, a quem quer graças e a ela não recorre, o seu desejo
quer voar sem asas".
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