Se fores
fiel, poderás chamar-te vencedor. Na tua vida, mesmo que percas alguns
combates, não conhecerás derrotas. Não existem fracassos – convence-te –, se
actuares com rectidão de intenção e com desejo de cumprir a Vontade de Deus.
Nesse caso, com êxito ou sem ele, triunfarás sempre, porque terás feito o
trabalho com Amor. (Forja, 199)
Somos criaturas e estamos repletos de
defeitos. Eu diria até que tem de os haver sempre, pois são a sombra que faz
com que se destaquem mais, por contraste, na nossa alma, a graça de Deus e o
esforço por correspondermos ao favor divino. E esse claro-escuro tornar-nos-á
humanos, humildes, compreensivos, generosos.
Não nos enganemos: na nossa vida, se
contamos com brio e com vitórias, devemos também contar com quedas e derrotas.
Essa foi sempre a peregrinação terrena do cristão, incluindo a daqueles que
veneramos nos altares. Recordais-vos de Pedro, de Agostinho, de Francisco?
Nunca me agradaram as biografias dos santos em que, com ingenuidade, mas também
com falta de doutrina, nos apresentam as façanhas desses homens, como se
estivessem confirmados na graça desde o seio materno. Não. As verdadeiras biografias
dos heróis cristãos são como as nossas vidas: lutavam e ganhavam, lutavam e
perdiam. E então, contritos, voltavam à luta.
Não nos cause estranheza o facto de
sermos derrotados com relativa frequência, habitualmente ou até talvez sempre,
em matérias de pouca importância, que nos ferem como se tivessem muita. Se há
amor de Deus, se há humildade, se há perseverança e tenacidade na nossa
milícia, essas derrotas não terão demasiada importância, porque virão as
vitórias a seu tempo, que serão glórias aos olhos de Deus. Não existem os
fracassos, se agimos com rectidão de intenção e queremos cumprir a vontade de
saber vencer-se todos os dias”
Não é espírito de penitência fazer uns
dias grandes mortificações e abandoná-las noutros. Espírito de penitência significa
saber vencer-se todos os dias, oferecendo coisas – grandes e pequenas – por
amor e sem espectáculo. (Forja, 784)
Mas ronda à nossa volta um potente
inimigo, que se opõe ao nosso desejo de encarnar dum modo acabado a doutrina de
Cristo: o orgulho que cresce quando não procuramos descobrir, depois dos
fracassos e das derrotas, a mão benfeitora e misericordiosa do Senhor. Então a
alma enche-se de penumbra – de triste obscuridade – crendo-se perdida. E a
imaginação inventa obstáculos que não são reais, que desapareceriam se os
encarássemos com um pouco de humildade. Com o orgulho e a imaginação, a alma
mete-se por vezes em tortuosos calvários; mas nesses calvários não está Cristo,
porque onde está o Senhor goza-se de paz e de alegria, mesmo que a alma esteja
em carne viva e rodeada de trevas.
Outro inimigo hipócrita da nossa
santificação: pensar que esta batalha interior tem de dirigir-se contra
obstáculos extraordinários, contra dragões que respiram fogo. É outra
manifestação de orgulho. Queremos lutar, mas estrondosamente, com clamores de
trombetas e tremular de estandartes.
Temos de nos convencer de que o maior
inimigo da pedra não é o picão ou o machado, nem o golpe de qualquer outro
instrumento, por mais contundente que seja: é essa água miúda, que se mete,
gota a gota, entre as gretas da fraga, até arruinar a sua estrutura. (Cristo que passa, 77)
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