Amigos de Deus
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Um
caminho normal
Tratamos de virtudes humanas.
E
talvez algum possa perguntar: mas comportar-se assim não significa isolar-se do
ambiente normal, não é uma coisa alheia ao mundo de todos os dias?
Não.
Não
está escrito em nenhum sítio que o cristão deve ser um personagem estranho ao
mundo.
Nosso
Senhor Jesus Cristo fez o elogio, com obras e com palavras, de outra virtude
humana que me é particularmente querida: a naturalidade, a simplicidade.
Lembremo-nos de como Nosso Senhor vem ao
mundo: como todos os homens.
Passa
a infância e a juventude numa aldeia da Palestina.
É
mais um entre os seus concidadãos.
Nos
anos da sua vida pública, repete-se continuamente o eco da sua existência
normal de Nazaré.
Fala
do trabalho, preocupa-se com o descanso dos seus discípulos, vai ao encontro de
todos e não recusa falar com ninguém; diz expressamente aos que o seguiam que
não impeçam as crianças de se aproximarem d'Ele.
Evocando
talvez os tempos da sua infância, apresenta a comparação dos meninos que
brincam na praça pública.
Não é tudo isto normal, natural, simples?
Não
pode viver-se na vida de todos os dias?
Acontece,
no entanto, que os homens costumam habituar-se ao que é chão e corrente e,
inconscientemente, procuram o que é aparatoso e artificial.
Tê-lo-ão
comprovado, tal como eu: elogia-se, por exemplo, o primor de umas rosas
frescas, recém-cortadas, de pétalas finas e perfumadas.
E
o comentário é: parecem artificiais!
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A naturalidade e a simplicidade são duas
maravilhosas virtudes humanas, que tornam o homem capaz de receber a mensagem
de Cristo.
Em
contrapartida, tudo o que é emaranhado e complicado, as voltas e mais-voltas em
torno de nós mesmos levantam um muro que impede com frequência de ouvir a voz
de Nosso Senhor.
Recordemos
as acusações que Cristo lança aos fariseus: meteram-se num mundo retorcido que
exige pagar dízimos da hortelã, do endro e do cominho, e abandonam as
obrigações essenciais da lei, a justiça e a fé; esmeram-se a coar tudo o que
bebem, para que não passe nem um mosquito, mas engolem um camelo.
Não!
Nem a nobre vida humana daquele que - sem
culpa - não conhece Jesus Cristo, nem a vida do cristão devem ser esquisitas e
estranhas.
Estas
virtudes humanas, que estamos hoje a considerar, levam todas à mesma conclusão.
É
verdadeiramente homem aquele que se empenha em ser veraz, leal, sincero, forte,
temperado, generoso, sereno, justo, laborioso, paciente.
Comportar-se
desta maneira pode ser difícil, mas nunca é estranho. Se alguns se admirassem,
seria por olharem com olhos turvos, nublados por uma secreta cobardia, por
falta de rijeza.
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Virtudes
humanas e virtudes sobrenaturais
Quando uma alma se esforça por cultivar as
virtudes humanas, o seu coração já está muito perto de Cristo.
E o cristão compreende que as virtudes
teologais - a fé, a esperança, a caridade - e todas as outras que a graça de
Deus traz consigo o animam a nunca descuidar essas boas qualidades, que compartilha
com tantos homens.
As
virtudes humanas - insisto - são o fundamento das sobrenaturais; e estas
proporcionam sempre um novo vigor para progredir com honradez no sentido do
bem.
Mas,
em qualquer caso, não é suficiente o desejo de possuir essas virtudes: é
preciso aprender a praticá-las.
Discite benefacere,
aprendei a fazer o bem.
Temos
de nos exercitar habitualmente nos actos correspondentes - actos de
sinceridade, de equanimidade, de serenidade, de paciência -, porque amores são
obras e não se pode amar a Deus só de palavra, mas com obras e de verdade.
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Se o cristão luta por adquirir estas
virtudes, a alma dispõe-se a receber com eficácia a graça do Espírito Santo: e
as qualidades humanas boas ficam reforçadas com as moções do Paráclito na alma.
A
Terceira Pessoa da Santíssima Trindade - doce hóspede da alma - oferece os seus
dons: dom de sabedoria, de entendimento, de conselho, de fortaleza, de ciência,
de piedade, de temor de Deus .
Sente-se então o gozo e a paz, a paz
gozosa, o júbilo interior com a virtude humana da alegria.
Quando
pensamos que tudo se afunda sob os nossos olhos, nada se afunda, porque Tu és,
Senhor, a minha fortaleza.
Se
Deus mora na nossa alma, tudo o resto, por mais importante que pareça, é
acidental, transitório; em contrapartida, nós, em Deus, somos o permanente.
O Espírito Santo, com o dom da piedade,
ajuda-nos a considerarmo-nos, com certeza, filhos de Deus.
E
se somos filhos de Deus, por que havemos de estar tristes?
A
tristeza é a escória do egoísmo.
Se
queremos viver para Nosso Senhor, não nos faltará a alegria, mesmo que
descubramos os nossos erros e as nossas misérias.
A
alegria entra na vida de oração de tal maneira que, a certa altura, não
poderemos deixar de cantar: porque amamos, e cantar é próprio de apaixonados.
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Se vivermos assim, realizaremos no mundo
uma obra de paz; saberemos tornar amável aos outros o serviço a Nosso Senhor,
porque Deus ama quem dá com alegria O cristão é uma pessoa igual às outras na
sociedade; mas do seu coração transbordará a alegria de quem se propõe cumprir,
com a ajuda constante da graça, a Vontade do Pai: e não se sente vítima, nem
inferiorizado, nem coagido.
Caminha
de cabeça erguida, porque é homem e é filho de Deus.
A nossa fé dá todo o seu relevo a estas
virtudes, que pessoa alguma deveria deixar de cultivar.
Ninguém
pode vencer o cristão em humanidade. Por isso, quem segue Cristo é capaz - não
por mérito próprio, mas pela graça de Nosso Senhor - de comunicar aos que o
rodeiam o que às vezes eles pressentem, embora não consigam compreender: que a
verdadeira felicidade, o verdadeiro serviço ao próximo passa pelo Coração do Nosso
Redentor; perfectus Deus, perfectus, homo.
Recorramos a Maria, nossa Mãe, a criatura
mais excelsa que saiu das mãos de Deus.
Peçamos-lhe
que nos faça homens de bem e que essas virtudes humanas, engastadas na vida da
graça, se tornem a melhor ajuda para aqueles que trabalham connosco no mundo
pela paz e pela felicidade de todos.
(cont)
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