Capítulo II
JESUS CRISTO SEMPRE JOVEM
A juventude da
Igreja
Maria, a jovem de Nazaré
43.
No coração da Igreja, resplandece Maria. É o grande modelo para uma Igreja
jovem, que deseja seguir Cristo com frescor e docilidade. Era ainda muito jovem
quando recebeu o anúncio do anjo, não se coibindo de fazer perguntas (cf. Lc
1, 34). Mas tinha uma alma disponível e disse: «Eis a serva do Senhor» (Lc
1, 38).
44.
«Sempre impressiona a força do “sim” de Maria, jovem. A força daquele “faça-se
em Mim” que disse ao anjo. Foi uma coisa diferente duma aceitação passiva ou
resignada, ou de um “sim” como quando se diz: “Bem; vamos tentar para ver o que
acontece”. Maria não conhecia esta expressão: vamos ver se dá. Era determinada:
compreendeu do que se tratava e disse “sim”, sem rodeios de palavras. Foi algo
mais, diferente. Foi o “sim” de quem quer comprometer-se e arriscar, de quem
quer apostar tudo, sem ter outra garantia além da certeza de saber que é
portadora duma promessa.
E
eu pergunto a cada um de vocês: sentem-se portadores de uma promessa?
Que
promessa tenho no meu coração para levar adiante?
Sem
dúvida Maria teria uma missão difícil, mas as dificuldades não eram motivo para
dizer “não”. Com certeza teria complicações, mas não seriam as mesmas
complicações que acontecem quando a covardia nos paralisa por não vermos,
antecipadamente, tudo claro ou garantido. Maria não fez um seguro de vida!
Maria arriscou e por isso é forte, por isso é uma influencer, é a influencer
de Deus! O “sim” e o desejo de servir foram mais fortes do que as
dúvidas e dificuldades»[1].
45.
Sem ceder a evasões nem miragens, «Ela soube acompanhar o sofrimento do seu
Filho (...), apoiá-l'O com o olhar e protegê-l'O com o coração. Que dor sofreu!
Mas não A abateu. Foi a mulher forte do “sim”, que apoia e acompanha, protege e
abraça. É a grande guardiã da esperança (...). D’Ela, aprendemos a dizer “sim”
à paciência obstinada e à criatividade daqueles que não desanimam e recomeçam»[2].
46.
Maria era a donzela de alma grande que exultava de alegria (cf. Lc 1,
47), era a jovenzinha com os olhos iluminados pelo Espírito Santo, que contemplava
a vida com fé e guardava tudo no seu coração (cf. Lc 2, 19.51). Não
ficava quieta, punha-se continuamente a caminho: quando soube que sua prima
precisava d’Ela, não pensou nos próprios projectos, mas «dirigiu-Se à pressa
para a montanha» (Lc 1, 39).
47.
E, sendo necessário proteger o seu menino, partiu com José para um país
distante (cf. Mt 2, 13-14). Pelo mesmo motivo, permaneceu no meio dos
discípulos reunidos em oração à espera do Espírito Santo (cf. At 1, 14).
Assim, com a presença d’Ela, nasceu uma Igreja jovem, com os seus Apóstolos em
saída para fazer nascer um mundo novo (cf. At 2, 4-11).
48.
Aquela jovenzinha é, hoje, a Mãe que vela pelos filhos: por nós, seus filhos,
que muitas vezes caminhamos na vida cansados, carentes, mas desejosos que a luz
da esperança não se apague. Isto é o que queremos: que a luz da esperança não
se apague. A nossa Mãe vê este povo peregrino, povo jovem amado por Ela, que A
procura fazendo silêncio no próprio coração, ainda que haja muito barulho,
conversas e distracções ao longo do caminho. Mas, diante dos olhos da Mãe, só
há lugar para o silêncio cheio de esperança. E, assim, Maria ilumina de novo a
nossa juventude.
Jovens santos
49.
O coração da Igreja está cheio também de jovens santos, que deram a sua vida por
Cristo, muitos deles até ao martírio. Constituem magníficos reflexos de Cristo
jovem, que resplandecem para nos estimular e tirar da sonolência.
O
Sínodo salientou que «muitos jovens santos fizeram resplandecer os
delineamentos da idade juvenil em toda a sua beleza e foram, no seu tempo,
verdadeiros profetas de mudança; o seu exemplo mostra do que os jovens são
capazes, quando se abrem ao encontro com Cristo»[3].
50.
«Através da santidade dos jovens, a Igreja pode renovar o seu ardor espiritual
e o seu vigor apostólico. O bálsamo da santidade gerada pela vida boa de muitos
jovens pode curar as feridas da Igreja e do mundo, levando-nos àquela plenitude
do amor para a qual, desde sempre, estamos chamados: os jovens santos
impelem-nos a voltar ao nosso primeiro amor (cf. Ap2, 4)»[4].
Há
santos que não conheceram a vida adulta, tendo-nos deixado o testemunho de
outra forma de viver a juventude. Recordemos ao menos alguns deles, de
diferentes momentos da história, que viveram, cada um à sua maneira, a santidade.
51.
São Sebastião - no século III - era um jovem capitão da guarda pretoriana.
Contam que falava de Cristo por toda a parte e procurava converter os seus
companheiros, até quando lhe foi ordenado que renunciasse à sua fé. Como não
aceitou, fizeram cair uma chuva de flechas sobre ele, mas sobreviveu e
continuou a anunciar Cristo sem medo. Por fim, açoitaram-no até à morte.
52.
São Francisco de Assis, ainda muito jovem e cheio de sonhos, ouviu a chamada de
Jesus para ser pobre como Ele e restaurar a Igreja com o seu testemunho. A tudo
renunciou com alegria e é o santo da fraternidade universal, o irmão de todos,
que louvava o Senhor pelas suas criaturas. Morreu em 1226.
53.
Santa Joana d'Arc nasceu em 1412. Era uma jovem do campo que, apesar da sua
jovem idade, lutou para defender a França dos invasores. Incompreendida pelo
seu aspecto e a sua forma de viver a fé, morreu na fogueira
.
54.
O Bem-Aventurado André Phû Yên, um jovem vietnamita do século XVII, era
catequista e ajudava os missionários. Foi preso por causa da sua fé e, por não
querer renunciar a ela, assassinaram-no. Morreu, dizendo «Jesus».
55.
No mesmo século, Santa Catarina Tekakwitha, jovem leiga nascida na América do
Norte, foi perseguida pela sua fé e, na sua fuga, percorreu a pé mais de 300
quilómetros através de espessas florestas. Consagrou-se a Deus e morreu
dizendo: «Jesus, eu te amo!»
56.
São Domingos Sávio oferecia a Maria todos os seus sofrimentos. Quando São João
Bosco lhe ensinou que a santidade implica estar sempre alegre, abriu o seu
coração a uma alegria contagiosa. Procurava estar perto dos seus companheiros
mais marginalizados e doentes. Morreu em 1857, com a idade de 14 anos, dizendo:
«Que maravilha estou vendo!»
57.
Santa Teresa do Menino Jesus nasceu em 1873. Com a idade de 15 anos, superando
muitas dificuldades, conseguiu entrar num convento carmelita. Viveu o «pequeno
caminho» da confiança total no amor do Senhor, propondo-se alimentar, com a sua
oração, o fogo do amor que move a Igreja.
58.
O Bem-Aventurado Zeferino Namuncurá era um jovem argentino, filho dum
importante chefe das populações indígenas. Tornou-se seminarista salesiano,
cheio de vontade de voltar à sua tribo para levar Jesus Cristo. Morreu em 1905.
59.
O Bem-Aventurado Isidoro Bakanja era um leigo do Congo que dava testemunho da
sua fé. Foi longamente torturado por ter proposto o cristianismo a outros
jovens. Morreu, perdoando o seu carrasco, em 1909.
60.
O Bem-Aventurado Pier Jorge Frassati, que morreu em 1925, «era um jovem de uma
alegria comunicativa, uma alegria que superava também as muitas dificuldades da
sua vida»[5].
Dizia
querer retribuir o amor de Jesus, que recebia na Comunhão, visitando e ajudando
os pobres.
61.
O Bem-Aventurado Marcelo Callo era um jovem francês, que morreu em 1945. Na
Áustria, foi preso num campo de concentração, onde, no meio de duros trabalhos,
confortava na fé os seus companheiros de cativeiro.
62.
A jovem Bem-Aventurada Clara Badano, que morreu em 1990, «experimentou como o
sofrimento pode ser transfigurado pelo amor (...). A chave da sua paz e da sua
alegria era a total confiança no Senhor e a aceitação também da doença como
expressão misteriosa da Sua vontade para o seu bem e para o bem de todos»[6].
63.
Que eles, juntamente com muitos jovens que, frequentemente no silêncio e
anonimato, viveram a fundo o Evangelho, intercedam pela Igreja para que esteja
cheia de jovens alegres, corajosos e devotados que ofereçam ao mundo novos
testemunhos de santidade.
Franciscus
Revisão
da versão portuguesa por AMA
[1] Francisco, Discurso na Vigília da
XXXIV Jornada Mundial da Juventude (Panamá 26 de Janeiro de 2019).
[2] Francisco, Oração no final
da Via-Sacra, durante a XXXIV Jornada Mundial da Juventude (Panamá 25 de
Janeiro de 2019): L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de
29/I/2019), 14-15.
[5] São João Paulo II, Discurso aos jovens (Turim
13 de Abril de 1980), 4: Insegnamenti 3,1 (1980), 905.
[6] Bento XVI, Mensagem para a XXVII Jornada
Mundial da Juventude (15 de Março de 2012): AAS 104
(2012), 359.
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