
E quando a tentação do desânimo, dos contrastes, da luta, da
tribulação, de uma nova noite da alma nos ataca –violenta –, o salmista põe-nos
nos lábios e na inteligência aquelas palavras: estou com Ele no tempo da
adversidade. Jesus, perante a Tua Cruz, que vale a minha; perante as Tuas
feridas, os meus arranhões? Perante o Teu Amor imenso, puro e infinito, que
vale o minúsculo fardo que Tu colocaste sobre os meus ombros? E os vossos
corações e o meu enchem-se de uma santa avidez, confessando-Lhe – com obras –
que morremos de Amor.
Nasce uma sede de Deus, uma ânsia de compreender as Suas lágrimas;
de ver o Seu sorriso, o Seu rosto... Julgo que o melhor modo de o exprimir é
voltar a repetir, com a Escritura: como o veado deseja a fonte das águas, assim
a minha alma te anela, ó meu Deus! E a alma avança, metida em Deus, endeusada:
o cristão tornou-se um viajante sedento, que abre a boca às águas da fonte.
Com esta entrega, o zelo apostólico ateia-se, aumenta dia-a-dia –
pegando esta ânsia aos outros – porque o bem é difusivo. Não é possível que a
nossa pobre natureza, tão perto de Deus, não arda em desejos de semear no mundo
inteiro a alegria e a paz, de regar tudo com as águas redentoras que brotam do
lado aberto de Cristo, de começar e acabar todas as tarefas por Amor.
Falava antes de dores, de sofrimentos, de lágrimas. E não me
contradigo se afirmo que, para um discípulo que procura amorosamente o Mestre,
é muito diferente o sabor das tristezas, das penas, das aflições: desaparecem
imediatamente, quando aceitamos deveras a Vontade de Deus, quando cumprimos com
gosto os Seus desígnios, como filhos fiéis, ainda que os nervos pareçam
rebentar e o suplício pareça insuportável. (Amigos de Deus, nn. 310–311)
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