Local:
Cova da Iria
Data:
13 de Julho de 1917
Pessoas
presentes: 4000 a 5000 ou 2000 a 3000
«–
Vossemecê que me quer?
–
Quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que continuem a rezar o Terço
todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz do mundo
e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer.
–
Queria pedir-lhe para nos dizer Quem é, para fazer um milagre com que todos
acreditem que Vossemecê nos aparece.
–
Continuem a vir aqui todos os meses. Em Outubro direi quem sou, o que quero, e
farei um milagre que todos hão-de ver, para acreditar.
–
Tenho aqui um pedido se Vossemecê converte uma mulher do Pedrógão e uma da
Fátima e se melhora um menino da Moita.
Ela
disse que os convertia e melhorava entre um ano.]
–
Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes e em especial quando
fizerdes alguns sacrifícios: “Ó Jesus, é por Vosso amor, pela conversão dos
pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de
Maria”.
Ao
dizer estas últimas palavras, abriu de novo as mãos, como nos dois meses
passados.
O
reflexo pareceu penetrar a terra e vimos como que um grande mar de fogo.
Mergulhados em esse fogo, os demónios e as almas, como se fossem brasas
transparentes e negras ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no
incêndio, levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de
fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas em os grandes
[incêndios], sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero
que horrorizava e fazia estremecer de pavor (deveu ser ao deparar-me com esta
vista que dei esse ai! que dizem ter-me ouvido).
Os
demónios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos
e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa. Assustados e
como que a pedir socorro, levantámos a vista para Nossa Senhora, que nos disse
com bondade e tristeza:
–
Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar,
Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração. Se fizerem o
que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar.
Mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra
pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o
grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por
meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.
Para
a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a
comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a Meus pedidos, a
Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo,
promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo
Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim o Meu
Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá,
e será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal conservar-se-á sempre
o dogma da Fé.
{Depois
das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco
mais alto um Anjo com uma espada de fogo em a mão esquerda; ao cintilar,
despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o
contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O
Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: “Penitência,
Penitência, Penitência!” E vimos numa luz imensa que é Deus algo semelhante a
como se vêem as pessoas num espelho quando lhe passam por diante um Bispo
vestido de Branco; tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre.
Vários
outros, Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas, subir uma escabrosa
montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora
de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma
grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo, com andar vacilante, acabrunhado
de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho;
chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz, foi
morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim
mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos, Sacerdotes, religiosos e
religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes
e posições.
Sob
os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em
a mão, neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se
aproximavam de Deus.}
Isto,
não o digais a ninguém. Ao Francisco, sim, podeis dizê-lo.
Quando
rezais o Terço, dizei depois de cada mistério: “Ó meu Jesus, perdoai-nos,
livrai-nos do fogo do inferno, levai as alminhas todas para o Céu,
principalmente aquelas que mais precisarem”.
Seguiu-se
um instante de silêncio e perguntei:
–
Vossemecê não me quer mais nada?
–
Não. Hoje não te quero mais nada.»
Notas:
Memórias
da Irmã Lúcia I. 14.ª ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2010, p.
176-177 (IV Memória); a secção entre parênteses retos consta do interrogatório
do pároco, de 14 de julho de 1917, em Documentação Crítica de Fátima, vol. I.
Fátima: Santuário de Fátima, 1992, p 13-15; a secção entre chavetas constitui a
célebre terceira parte do segredo de Fátima (Memórias da Irmã Lúcia I, p. 213).
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