Ao encontro do outro
“A
primeira dimensão chama-se busca.
MARIA
foi fiel antes de mais nada quando, com amor, se pôs a procurar o sentido
profundo do desígnio de Deus sobre ela e sobre o mundo
Quomodo fiet istud? Como sucederá isto? Pergunta Ela ao anjo da
Anunciação. Já no Antigo Testamento o sentido desta busca se traduz numa
expressão de rara beleza:
“Procurar o rosto do Senhor”
A
fidelidade requer um fundamento profundo e forte de paciente indagação, o anelo
de encontrar um motivo para viver.
Não
é possível falar de fidelidade a quem carece de ideais ou a quem não sabe de
valores que transcendem a própria vida.
Na
formação para a fidelidade, deve insistir-se em que sempre se pode “ir mais
longe”.
Se
queremos ser alguma coisa, não nos devemos estancar nos estreitos limites do
nosso mundo pessoal, encerrados nos nossos egoísmos e comodidades.
Impõe-se
procurar continuamente um ideal mais elevado, abrir horizontes e aspirar a
aventuras audazes.
Os
atletas procuram melhorar as suas próprias marcas, ganhar décimos ou centésimos
de segundo, chegar uns centímetros mais longe.
Esse
mesmo espírito pode ser vivido no estudo, na profissão, na vida matrimonial, no
ministério sacerdotal, no caminho para a santidade…
Devemos
propor-nos cada dia novas conquistas e afastar as nuvens negras que poderiam
desanimar-nos.
Trata-se,
pois, do que poderíamos chamar uma fidelidade humilde, que, partindo do
reconhecimento da sua indigência, da sua limitação, ambiciona encontrar alguma
coisa, alguém, que a incite a ser melhor, a sair do nada pessoal.
“Não
haverá fidelidade- diz o Papa nessa homilía – senão houver na raiz esta busca
ardente, paciente e generosa, se não estiver alojada no coração do homem uma
pergunta para a qual só Deus tem resposta, ou melhor, Deus é a resposta”.
Dar
um lugar no coração
A
segunda dimensão da fidelidade humana chama-se aceitação.
O
quomodo fiet istud transforma-se nos
lábios de Maria num fiat, aceito.
Dar
um lugar no coração é abrira alma a esses ideais, talvez apenas esboçados, mas
que já se vislumbram como possíveis. É passar pel etapa de meditar detidamente
– como fazia a Santíssima Virgem – em tudo aquilo que nos pareça árduo, até lhe
encontrar o sentido profundo, a razão que nos levanta e nos impele para além de
nós mesmos e nos faz ambicionar conquistas novas, embora laboriosas
É
como despertar e dar vida ao espírito de fidelidade.
Assim
como o valor da velhice não reside em acumular anos de vida, mas em encher de
vida os anos, o meso acontece coma fidelidade: trata-se de anima-la de um
espírito jovem, receptivo, dando ânimos à alma mediante a meditação e a leitura
de textos ilustrativos.
É
contemplar o Evangelho e toda a Sagrada Escritura, em cujas páginas se
encontram inúmeros exemplos de pessoas que, passando por cima dos sofrimentos e
penas, souberam corresponder soa ditames da responsabilidade e foram leais aos
seus compromissos de amor e de entrega.
O
primeiro de todos, o próprio Jesus Cristo.
Quem
acolhe Jesus Cristo como modelo e como causa de fidelidade encontrará n’Ele o
fundamento de toda a sua existência.
É
o momento em que o homem se abandona ao mistério, não com a resignação de
alguém que capitula em face de um enigma, de um absurdo, mas com a
disponibilidade de quem se abre para ser habitado por alguma coisa – por
Alguém- maior que o seu próprio coração.
Esta
aceitação cumpre-se em última análise por meio da fé, que é a adesão de todo o
ser ao mistério que se revela.
(Cfr FIDELIDADE, de Javier Abad Gómez, 1989)
(Revisão
da versão portuguesa por AMA)
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